Motivos familiares levaram o treinador português Paulo Duarte a deixar o 1.º de Agosto, a partir de setembro, para assumir o comando da seleção de futebol do Togo, disse hoje o técnico à agência Lusa.

A equipa de Luanda lidera o ‘Girabola’ e o antigo jogador da União de Leiria até já tinha sido convidado a renovar por mais três épocas, mas a dificuldade em conjugar a vida familiar em Portugal com o trabalho, assim como a insistência dos responsáveis do Togo, precipitaram a decisão.

“Eu tinha andado muito em seleções, o que me permite estar em casa e a trabalhar. Habituei um pouco a minha família e os meus filhos a essa rotina. Estando num clube, em África, e nesta fase de [pandemia de] covid-19, em que existem confinamentos após cada viagem e entrada ou saída do país, não consigo participar no meu dia a dia familiar e isso está a trazer-me alguns problemas a nível de crescimento dos meus filhos”, explicou o treinador.

Antes de mudar-se para Angola, o técnico trabalhou na seleção do Burquina Faso, de 2008 a 2012 e de 2016 a 2018, assim como na do Gabão, em 2012 e 2013.

A nível de clubes, depois de deixar o comando da União de Leiria, em 2008, teve apenas passagens fugazes pelos franceses do Le Mans (2010) e pelos turcos do Sfaxien (2014).

Esta época foi seduzido pelo projeto do 1.º de Agosto, que passa por “valorizar a academia de futebol” do clube, que é “de excelência”, por “lançar muitos jovens e, ao mesmo tempo, conquistar o pentacampeonato”.

“Felizmente, isso está a acontecer, estamos em primeiro [lugar], apesar de muitas dificuldades e obstáculos que têm surgido. Mas estamos a conseguir lançar muitos talentos de 18, 19 ou 20 anos e gostaria muito de ficar mais dois ou três anos, já disse ao presidente. Só que a nível familiar não é fácil conjugar a profissão no exterior com o que tem sido a minha carreira nos últimos 10 anos”, reforçou.

Sobre os “obstáculos”, Paulo Duarte referiu que “a equipa que está em segundo lugar”, o Sagrada Esperança, “já ganhou oito pontos na secretaria”, porque outras equipas “não comparecem aos jogos porque perderam o voo”, ou “não tinham os requisitos necessários”, ou até mesmo “por um possível ou um dito jogador mal inscrito”.

“Portanto, numa breve síntese, os nossos maiores adversários estão a ser algo beneficiados por pontos que ganham quando na realidade acabam por não jogar”, resumiu.

No entanto, foi sobretudo a insistência dos responsáveis da federação do Togo que convenceu Paulo Duarte a mudar-se, mas apenas em setembro, após terminar o contrato e cumprir os objetivos a que se propôs no clube angolano, apesar de “uma cláusula que permite a ambas as partes prescindir dos serviços da outra”.

“Fiquei no 1.º de Agosto por uma questão de honra, de terminar o contrato e de concluir o objetivo pelo qual eu vim, que é ser pentacampeão. E até porque nenhum treinador português foi campeão no clube”, explicou.

Porém, “10 dias depois, mais uma vez, a federação togolesa voltou à carga” e aceitou as condições do treinador português, que eram de “trabalhar no projeto de três anos com o Togo, mas após o término do contrato em Luanda”, o que obrigará Paulo Duarte a perder uma jornada dupla de qualificação para o Mundial, em junho.

A presença no Mundial2022, no entanto, “não será fácil”, uma vez que o Togo tem no seu grupo de qualificação “o candidato número um, o Senegal”, país que “tem muita força na CAF, na FIFA, em África e é uma equipa com jogadores de excelência”.

Por isso, o técnico vai com cautelas e adverte que o principal objetivo do projeto de três anos é “reerguer bases para que o Togo possa ganhar muitas vezes nos próximos anos”.

O Togo, explicou, “é uma referência africana muito forte”, apesar de não ser uma seleção de topo no continente, como as da “Costa do Marfim, Gana, Nigéria, Camarões, Egito, Marrocos e Senegal”.

“É uma equipa que está numa fase difícil, que precisa de uma renovação muito rápida, com jogadores com uma média de idades de cerca de 30 anos. Uma equipa que há três anos desapareceu praticamente do contexto africano, portanto, o objetivo é reformular e reerguer aquela que foi uma das potências africanas”, frisou Paulo Duarte.