Há um ano, deu-se o final da época mais traumática da história do Schalke 04. Últimos classificados, somaram apenas três triunfos em 34 partidas na Bundesliga, terminando com um total de 16 pontos. Pelo banco, passaram cinco treinadores principais e sobraram também vários problemas de balneário ao longo da temporada.

A segunda metade do último exercício tratou-se de uma espécie de rampa de lançamento para a queda no segundo escalão, 30 anos depois e foi o último do tal quinteto de treinadores, Dimitrios Grammozis, a pegar na batuta no regresso ao «inferno» da 2. Bundesliga. A ideia era clara: dar oportunidade a um técnico com experiência na divisão secundária do futebol germânico.

A política de reforço do plantel teve em consideração a queda de divisão (ainda para mais na sequência de uma pandemia que tirou adeptos dos estádios durante um ano e meio). Houve controlo no dinheiro gasto em contratações (pouco mais de 2 milhões de euros) e os custos maiores chegaram dos salários de jogadores que entraram no clube depois de terem concluído contratos noutros emblemas e também dos emprestados (boa parte deles com opção de compra).

O início da época não foi ainda assim extraordinário: nas primeiras sete jornadas, o Schalke venceu apenas três duelos. Entre final de setembro e o mês de outubro, uma série de quatro triunfos voltou a colocar os «mineiros» na rota dos lugares da frente. As exibições ofensivas tinham momentos de espetáculo, mas faltava equilíbrio nas zonas mais recuadas, sendo que a equipa ficava demasiado exposta às transições contrárias.

O jogo que tudo mudou

O campeonato foi avançando e o Schalke não conseguia uma aproximação definitiva aos lugares da frente, com o St. Pauli, o Darmstadt ou o Werder Bremen a mostrarem-se como as equipas mais estáveis da prova. Até que no início de março, veio a receção ao Hansa Rostock. O sexto lugar era sinónimo das dificuldades em entrar no comboio da frente e nesse encontro, apesar do hat-trick de Terodde, a equipa de Gelsenkirchen perdeu por 4-3. Qual foi a consequência? A saída de um Dimitrios Grammozis cada vez mais questionado pela massa associativa.

Mike Büskens, um homem da casa e antigo jogador do clube (fez parte da equipa vencedora da Taça UEFA em 1997), foi escolhido para assumir o leme até ao final da temporada e a aposta não podia ter sido mais bem sucedida: desde a fatídica partida caseira perante o Rostock, o Schalke averbou sete vitórias em oito partidas (apenas perdeu frente ao Werder Bremen) e carimbou com o triunfo ante o St. Pauli, o regresso ao escalão principal. No último jogo da época, vitória diante do Nurembera e o título de campeão da Bundesliga 2.

Schalke04
Schalke04

O jogo decisivo foi um espelho da época: aos 17 minutos, a equipa «mineira» já perdia por 2-0 e apesar das várias oportunidades criadas ainda no primeiro tempo, os visitantes chegaram em vantagem ao intervalo. Só que na etapa complementar, apareceu o goleador da temporada e um dos maiores jogadores da história da 2. Bundesliga, Simon Terodde, para bisar e empatar o desafio, com o suplente Rodrigo Zalazar a apontar o golo da subida, 11 minutos depois de ter sido lançado em campo.

Após o apito final de Marco Fritz, a festa foi épica: os adeptos invadiram o relvado para festejar com os jogadores, muitos deles lavados em lágrimas. As redes de uma das balizas foram retiradas, o tapete verde foi beijado por muitos em jeito de devoção e os cânticos foram entoados a plenos pulmões por toda a gente, como já não se ouvia há muito na Veltins Arena.

Os craques da temporada

Mesmo com os altos e baixos de um campeonato tão exigente, vários foram os nomes em destaque no plano individual na campanha do Schalke. Desde logo, salta à vista a sintonia do duo Simon Terodde-Marius Bülter (40 golos entre ambos, 30 para o primeiro). Foram essenciais para garantir um rendimento ofensivo soberbo, numa equipa que teve o ala esquerdo Thomas Ouwejan como grande protagonista também no momento atacante (e na bola parada). Flick e Latza terminam a época como titulares, mas Pálsson e Zalazar foram importantíssimos na zona intermediária (o uruguaio juntou também um notável registo de golos e assistências).

A nível defensivo, o japonês Itakura destacou-se (boa saída de bola, gosto pela progressão e multifuncionalidade), com Thiaw e Kaminski a formarem dupla também durante várias partidas. O austríaco Martin Fraisl, guardião austríaco de carreira modesta e que chegou a custo zero depois da saída dos neerlandeses do Den Haag, foi um reforço de estabilidade para a baliza.

Mais nomes se evidenciaram, como Dexler ou Churlinov, mas o que fica mesmo é a força de um coletivo que mostrou competência em diferentes contextos e versatilidade tática. Uma equipa que passou por sustos, mas que encontrou sempre maneira de ferir o adversário através de um ataque pujante e eficaz. Não era fácil sair da mina secundária, mas os rapazes de Gelsenkirchen souberam ler o mapa e estão de volta ao campeonato de ouro!