No final do encontro em que o Benfica bateu o Marítimo por 2-1, foi colocada por uma jornalista da SportTV a seguinte pergunta a Jorge Jesus: “Que balanço faz de um jogo em que o Benfica consegue regressar às vitórias, mas fica a ideia de que a qualidade não esteve cá toda?”.

O treinador das águias disse que não partilhava da opinião, o que é legítimo, mas continuou dizendo que era “natural” que a jornalista não soubesse o que é qualidade de jogo. A polémica foi imediata com Jorge Jesus a ser acusado de machismo pela forma como respondeu. Aquele “é natural” não ajuda o técnico dos encarnados, mas o próprio já veio negar que em causa estivesse o género da jornalista.

A verdade é que, no passado, Jesus já deu semelhantes respostas a jornalistas do género masculino e, por isso, é difícil comprovar que a declaração esteve relacionada com questões de género mais do que com a clara superioridade que o treinador do Benfica sente relativamente a todos os demais, homens ou mulheres. Esse, de resto, é um outro ponto relevante: para Jorge Jesus, como para tantos outros com dificuldade a lidar com o contraditório, a liberdade de expressão é espetacular… até ao momento em que é usada para contrariar a sua verdade.

Mais tarde, na conferência de imprensa de lançamento do jogo frente ao Lech Poznan, quando questionado sobre as reações a esta polémica, Jesus falou em “sociedades mascaradas”. Neste caso, poder-se-ia falar de liberdades mascaradas. Ou se alimenta a nossa opinião, ou coloca-se em causa quem quer que seja.

Tem mesmo qualidade o jogo do Benfica?

Com a polémica instalada, a questão levantada pela jornalista acabou por ser esquecida. Na altura, Jorge Jesus afirmou que “na 1ª parte foi impressionante a forma como jogámos em ataque posicional e com qualidade. Depois do 2-1, aí sim, deixou de ser a equipa que jogou até aí”. É verdade que comparativamente a outros jogos, houve períodos positivos na partida frente ao Marítimo, sobretudo pelo regresso de Grimaldo e o seu entendimento com Everton (que fez um dos seus melhores jogos), mas é manifestamente exagerado falar numa 1ª parte impressionante.

O Benfica continua forte no momento da pressão, e face a equipas que tentam jogar curto na sua fase de construção costuma conseguir impor-se, tendo sido os jogos contra o Rio Ave e o Famalicão os melhores exemplos disso. Contudo, contra adversários que não possibilitam essa pressão alta e, sem bola, recolhem atrás, as dificuldades são bem maiores.

O ataque posicional dos encarnados não é brilhante, sobretudo se não tiver em campo laterais (na maior parte das vezes responsáveis pela largura do ataque) fortes do ponto de vista ofensivo. Com Grimaldo o jogo flui de outra forma, e foi isso que aconteceu com o Marítimo, mas o Benfica não é forte a criar espaços e isso tem sido e poderá continuar a ser um problema.

Face ao investimento feito (as águias foram um dos clubes que mais gastou no último mercado de transferências) e às expetativas que a chegada de Jorge Jesus trouxe, a qualidade de jogo é, até ao momento, muito pouca.