O Euro-2020 foi repleto de surpresas, tendo sido a edição com mais golos marcados na história dos campeonatos europeus. A Itália revalidou o título 53 anos depois, tendo deixado a Inglaterra na final uma vez mais à espera da oportunidade de estrear-se no lote dos campeões. Portugal, França e Alemanha desiludiram, e a Bélgica perdeu com o campeão. Entretanto, destacaram-se alguns jogadores que dariam para formar uma super-equipa. A minha preferência recai para:

1. Gianluigi Donnarumma. Foi eleito o melhor jogador do campeonato da Europa pela UEFA. Gianluigi Donnarumma é um atleta de 1.96m cuja envergadura fez a diferença na baliza italiana. Sem qualquer necessidade de correr, consegue chegar em voo do meio da baliza a cada um dos postes, tornando muito difícil aos adversários marcarem golos fora da área. Em virtude disso, conseguiu fazer uma fase de grupos sem sofrer nenhum golo. Foi responsável pelo record estabelecido pela Itália de vencer duas eliminatórias em grandes penalidades num mesmo Europeu.

2. Joakim Maehle. O defesa-esquerdo de 24 anos da selecção da Dinamarca foi uma das grandes surpresas deste campeonato. Quer tenha jogado numa defesa a quatro ou cinco defesas, a sua capacidade de envolvência no ataque mostrou-se decisiva. Demonstrou ser possível potenciar a sua lateralidade destra do lado esquerdo da defesa, através de dois golos marcados e uma assistência.

3. Leonardo Bonucci. O experiente defesa-central da Itália foi um dos grandes responsáveis pela conquista do Europeu. Ofereceu uma solidez enorme à sua equipa permitindo-lhe em processo ofensivo arriscar um qualquer desposicionamento na busca por desequilíbrios na estrutura do adversário. Marcou o único golo italiano na final do campeonato Europeu que permitiu à sua equipa conquistar o título tão desejado.

4. John Stones. A Inglaterra foi a defesa menos batida na prova muito por mérito do jogador inglês do Manchester City. Não há nenhum aspeto crítico do rendimento de um defessa-central que John Stones não domine. É igualmente forte no jogo aéreo, no desarme no um-contra-um, na velocidade a ir buscar a bola no espaço e na construção do processo ofensivo. É hoje, possivelmente, um dos defesas-centrais mais completos do mundo.

5. Leonardo Spinazzola. Este foi um campeonato da Europa riquíssimo em defesas-esquerdo. Luke Shaw não consta desta lista porque o jogador italiano demonstrou ser capaz de equilibrar a equipa em processo defensivo, e ser responsável pelos desequilíbrios ofensivos da Itália. Combinou na perfeição através dos seus deslocamentos em profundidade quando Insigne concretizava a sua apetência para ocupar espaços interiores a partir da esquerda para explorar o remate cruzado com o pé direito. Fez apenas duas assistências muito por culpa da lesão que o impediu de continuar além dos primeiros quatro jogos da prova.

6. Declan Rice. Um médio-defensivo moderno como não se via há muito. Demonstrou ter uma capacidade física enorme que lhe permite pressionar a construção do ataque do adversário à saída da sua área, e recuperar a bola perto da sua própria baliza. Alternou com facilidade entre a construção em passe e a construção em progressão. Trata-se de um jovem de 22 anos do West Ham que terá uma carreira de futebol absolutamente brilhante.

7. Jorginho. No meu entender, o melhor jogador deste campeonato da Europa. É o verdadeiro relógio da Itália que controla os ritmos de jogo da equipa. Do ponto de vista ofensivo, oferece em permanência uma linha de passe aos seus companheiros e possui um capacidade de decisão que inibe qualquer tentativa de pressão do adversário. Quando não tem bola, está em permanente comunicação com os seus companheiros indicando-lhes os espaços a ocupar e as linhas de passe a concretizar. Em processo defensivo, substitui a sua menor preponderância física por uma leitura exata dos espaços a ocupar e encerramento de linhas de passe aos seus adversários.

8. Pedri. Faz crer que jogar futebol é fácil. Com 18 anos de idade aparenta uma maturidade que muitos dos jogadores mais experientes deste campeonato da Europa não demonstram. Explorando os espaços entre-linhas pela meia-esquerda, joga sempre a dois toques acelerando o jogo quer seja através recepções orientadas, quer seja através de passes no espaço. É inteligente e agressivo no momento de transição defensiva, eliminando as linhas de passe de saída de pressão do adversário. Ganhou o prémio de jovem jogador do Euro-2020 atribuído pela UEFA e não tenho dúvidas que, dentro de uns anos, irá disputar o prémio de melhor jogador do mundo.

9. Mikkel Damsgaard. Não jogou o primeiro jogo considerando, possívelmente, Kasper Hjulmand que não havia espaço para conciliar o seu talento com o do mal-fadado Christian Erickson. Mas a partir daí, não mais Damsgaard deixou de ser titular. Capaz de variar entre um jogo de requinte técnico de passe e recepção em mobilidade, para um jogo mais vertical e físico sobre o jogo. Fez uma assistência e dois golos, um dos quais de bola parada na meia-final diante da Inglaterra. Com apenas 21 anos a jogar na Sampdoria, promete vir a ser uma das transferências mais interessante do defeso.

10. Romelu Lukaku. Um ponta-de-lança que tem simultaneamente o melhor de dois ADNs-tipo de avançado: é móvel e possante, é rápido e forte no jogo aéreo, é capaz de receber a bola no pé e bola no espaço. Este perfil híbrido e competente faz de Lukaku um dos jogadores mais raros, e por isso requisitados, do mundo. Fez 4 golos e esteve na origem da eliminação de Portugal: sempre que o adversário pressionava a Bélgica, era através do jogo direto em Lukaku que a equipa descansava e subia no terreno. Colocou muitas dificuldades de marcação aos defesas-centrais e obrigou à pressão adversária a recuperar rapidamente no terreno. Foi num destes lances que Bernardo Silva foi batido tendo permitido o golo solitário de Hazard que ditou a eliminação de Portugal.

11. Cristiano Ronaldo. Mesmo com Portugal fora do Euro-2020, conseguiu somar mais um troféu para a sua conta pessoal. Foi o melhor marcador do campeonato europeu tendo conseguido marcar cinco golos e fazer uma assistência em quatro jogos apenas. No somatório, tornou-se no jogador com mais jogos em Europeus (24), mais golos em Europeus (15), e mais participações em Europeus (5). Conseguiu igualar o record de Ali Daei, jogador iraniano, melhor marcador de selecções da história com 109 golos. Continuou a ocupar o protagonismo de Portugal, libertando a pressão dos jovens talentos portugueses. Um verdadeiro exemplo de liderança!

Luís Vilar, Pró-Reitor da Universidade Europeia

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