Tal como uma noiva na véspera do casamento, a final da Champions iniciou atrasada, mais precisamente, 36 minutos. É o que dá gastar tanto dinheiro nos prémios para os clubes e depois contratarem os elementos que controlam as entradas na Wish. Pareciam as filas para entrar na Queima das Fitas do Porto, só que sem o grande motivo, ainda se fosse o Quim Barreiros a abrir a final, aí sim, valia a pena esperar para entrar.

Quanto ao jogo foi de sentido único, mas sem grande sentido no resultado.

Há um velho ditado português que diz que 'água mole em pedra dura tanto bate até que fura', mas a verdade é que o Liverpool bateu, bateu, bateu e o Real Madrid não furou. Talvez se em vez de pedra o Real Madrid estivesse a usar titânio belga os resultados teriam sido diferentes.

O Liverpool tentou tantas vezes chegar à baliza de Courtois que se o belga apresentar queixa por assédio, ninguém levará a mal.

O Liverpool parecia um teenager no baile de finalistas a tentar que a noite fosse memorável, mas, tal como muitos de nós, foi para casa a chuchar no dedo. Sim, aquelas noites mágicas só acontecem em filmes como o American Pie. Aqui em Portugal vão para casa a pé, no caminho são assaltados por gunas e ainda levam um cachaço do pai por vomitar nos chinelos da avó. Bifinhos com cogumelos e absinto? Que nojo...

No campo, os jogadores do Liverpool tentavam dar música como os Beatles deram no seu tempo, mas Courtois estava mais numa de Pink Floyd e a cada remate dos jogadores do Liverpool o belga tocava "Another Brick in the Wall".

O muro estava já tão alto que, em Paris, será possível visitar a partir de hoje a Torre Eiffel, o Arco do Triunfo, Museu do Louvre e o Muro de Courtois.

Enquanto Courtois colocava mais tijolos no seu muro, Vinícius Júnior marca o golo, como um raio a contrariar toda a lógica do jogo, que daria a 14ª Liga dos Campeões ao Real Madrid.

Neste momento os jogadores do Liverpool encarnam realmente os Beatles e começam a cantar a "Help!" Não havia ajuda possível. Uma noite desenhada nas estrelas. Nem a Maya conseguia alterar o destino desta final.

A Liga dos Campeões é uma prova que parece ter sido criada para o Real Madrid. São já 14 troféus. O Real Madrid está a competir numa prova que parece só sua, parecendo aqueles torneios de verão ranhosos em que ganha sempre o organizador. A Champions neste momento é mais ou menos isso, a prova "organizada" pelo Real Madrid.

Para terminar, uma palavra de conforto aos clubes portugueses que participam na Champions. Depois de ver a intensidade do jogo de ontem, não se sintam mal por serem constantemente goleados por certos clubes. Comparar o nosso futebol ao futebol inglês ou espanhol é o mesmo que comparar a Maria Vieira com a Carolina Loureiro. Continuemos no nosso caminho de vitimização e de apontar o dedo sempre ao rival, o nosso caminho de choro e maldizer, e talvez um dia, um dos nossos clubes chegue a uma meia final.

Desejo um bom Mundial de 2022 a todos vocês e que... porra, esqueci-me que o Qatar corrompeu a FIFA e mudou o Mundial para o Natal.

Sendo assim, boas férias e boa silly season!