A época de voleibol de praia já arrancou, com a etapa inaugural dos campeonatos nacionais a decorrer até domingo em Cortegaça, num recém-criado Centro de Alto Rendimento (CAR) com rotinas ajustadas à pandemia de covid-19.

“A nossa expectativa era regressar o mais rápido possível. Nunca pensei que demorasse tanto tempo, mas, ao mesmo tempo, compreendo que é muito bom nós já estarmos a competir. Esta epidemia traz muitos dissabores, obriga-nos a redobrar atenções e chega a ser frustrante e angustiante”, partilhou à agência Lusa o tetracampeão Roberto Reis.

A freguesia de Ovar, onde vigorou o estado de calamidade pública, entre 17 de março e 17 de abril, acolhe no fim de semana 22 duplas masculinas e nove femininas, que foram testadas ao novo coronavírus nas últimas horas e estão sujeitas a circulação controlada dentro do CAR de voleibol de praia da Federação Portuguesa de Voleibol (FPV).

Aquando da inscrição no evento, cada atleta assinou um termo de aceitação do manual de procedimentos federativo aprovado pela Direção-Geral da Saúde (DGS), que determina a medição de temperatura corporal à entrada do recinto, a massificação de máscara nas deslocações e o uso obrigatório de óculos de sol durante os encontros.

Os dispensadores de gel estão dispersos pelos três campos descobertos e as bolas são desinfetadas com aparelhos ultravioletas, sob vigilância dos árbitros, tal como sucede na limpeza tradicional de cadeiras, mesas, redes e outras zonas de contacto, contexto ao qual Roberto Reis se começou a adaptar há um mês nos treinos em Esmoriz.

“Realizámos testes à covid-19, demos negativo e começámos a treinar em conjunto. Sabendo de antemão que podíamos contrair o vírus em algum momento, caso não tivéssemos cuidado, fomos treinando como pudemos. Aguardo os Nacionais com expectativas muito elevadas num ano muito especial para mim”, observou o atacante.

O antigo internacional português, de 40 anos, que passou pelo Sporting de Espinho, Benfica e Sporting, terminou a parceira com o experiente luso-brasileiro Fabrício ‘Kibinho’ Silva para apostar num “projeto de quatro anos” com José Pedro Andrade, companheiro no Esmoriz, a quem pretende entregar “ensinamentos para continuar a andar lá em cima”.

“Muitos achavam que ia parar e fiz exatamente o contrário. Sinto-me nas minhas capacidades totais e vejo capacidade no José para deixar de ser uma promessa e passar a ser uma afirmação. Este ano é um pouco diferente dos outros, mas a pensar no futuro”, avaliou o detentor de oito campeonatos ‘indoor’ e de praia, cinco Taças e sete Supertaças.

José Pedro Andrade, de 20 anos, estreia-se na vertente de praia e pretende capitalizar o “trabalho físico” desenvolvido em casa durante o confinamento, designando como “uma sorte” poder ladear o multicampeão nacional de voleibol de praia, com quem espera “aprender a ter mais paciência e a ponderar mais as ações durante o jogo”.

“Ele tem o seu historial e está a preparar-me. Arranjei uma pessoa que gosta muito de mim e eu gosto muito dele. Entendemo-nos bem. Dá-me na cabeça e levanta-me quando é preciso. É basicamente um segundo pai para mim. Tenho metade da idade dele e venho trazer juventude à dupla, além de outras coisas”, contou o central à Lusa.

Os dois atletas querem completar as cinco etapas dos campeonatos nacionais de seniores, que vão passar por Oeiras (24 a 26 de julho), Figueira da Foz (31 de julho a 02 de agosto) e Portimão (07 a 09 de agosto), terminando entre 14 e 16 de agosto, na Praia Internacional do Porto, encarando-os como “uma preparação para a época ‘indoor’”.

Juliana Antunes (Leixões) e Tânia Oliveira (Academia José Moreira/FC Porto) procuram o pentacampeonato na vertente feminina, enquanto contam os dias para poderem treinar sem limitações no pavilhão a partir de 01 de agosto, tendo em vista o início das competições seniores no dia 22, em datas que carecem de aprovação governamental.

“Todos nós mudámos imensos hábitos e chegará a uma altura em que as pessoas poderão ir ver jogos com uma distância social considerável. Honestamente, isto só regressará a uma normalidade total quando existir uma cura. Até lá, iremos viver um pouco assustados com esta nova doença”, finalizou Roberto Reis.