O futsalista luso-francês Alexandre Afonso viu confirmada a descida ‘injusta’ do Kremlin Bicêtre United à II Liga gaulesa na quinta-feira, após a decisão federativa de antecipar o encerramento das competições não profissionais, devido à pandemia de covid-19.

“Começámos o campeonato com menos 10 pontos e ainda conseguimos recuperá-los, mas é sempre amargo descer de uma maneira que não seja dentro do campo. Não foi o desfecho mais justo, mas o mais importante nesta altura é a saúde de todos nós. Descemos este ano, faremos de tudo para subir no próximo e daqui a dois para lutar pelo título”, referiu à agência Lusa o guarda-redes, de 24 anos, de berço parisiense.

Fundados em 2002 e com quatro Ligas e três Taças de França no palmarés, os ‘alvinegros’ auguravam recuperar o cetro nacional esta temporada, mas já estavam afundados no último posto e com pontos negativos antes de subirem às quadras, pela falsificação de atestados médicos de dois atletas estrangeiros utilizados em 2018/19.

“Tínhamos um grupo bastante forte para lutar pelo título, mas com essa desvantagem tornou-se mais difícil, visto que a federação decidiu retirar os ‘play-offs’ este ano. Encarámos cada jogo como uma final e tentámos fazer tudo para chegar às primeiras posições. Infelizmente, não foi possível”, recordou.

Cinco triunfos nas seis jornadas inaugurais aliviaram as consequências desportivas do castigo disciplinar aplicado ao Kremlin Bicêtre United, que voltou a receber nova dedução de sete pontos no decurso da competição, cinco dos quais justificados pela ausência de um treinador qualificado no banco de suplentes.

Já a vitória sobre o Orchies Pévèle, à oitava jornada (2-0), acabou transformada numa derrota por 3-0 e outros dois pontos de penalização, devido ao incumprimento de pressupostos logísticos estabelecidos pela Federação Francesa de Futebol (FFF), contexto que esgotou a paciência do técnico português Hugo Sintra.

“Soubemos desse castigo na véspera da primeira jornada e isso afetou todo o grupo. O treinador não estava de acordo com a direção em certos pontos e não sentiu confiança para continuar o projeto”, explicou Alexandre Afonso, que assistiu à mudança de comando técnico em meados de janeiro, insuficiente para produzir os efeitos desejados.

A propagação do novo coronavírus conduziu à suspensão por tempo indeterminado da I Liga em 12 de março, quando o Kremlin Bicêtre United tinha uma ronda em atraso e seguia no 11.º e penúltimo lugar, com sete pontos, quatro acima do lanterna-vermelha Roubaix e outros tantos abaixo da zona de salvação.

“Havia esperança na realização de uns ‘play-offs’ para podermos conseguir a manutenção, mas já estávamos com a ideia de que o campeonato seria terminado”, observou o antigo guardião do Bagneux, com dois jogos na elite do futsal francês, enquanto evoluía pela equipa B do histórico clube parisiense e debelava uma tendinite no joelho esquerdo.

Face à extensão do período de isolamento social até 11 de maio, a FFF optou por concluir a prova com a classificação verificada ao fim de 15 das 22 jornadas, atribuindo um inédito título ao ACCS Paris, futura equipa do internacional português Ricardinho, que liderava com 41 pontos, contra os 33 do Orchies Pévèle e os 28 do Sporting de Paris.

A aplicação do regime tradicional de subidas e descidas confirmou as promoções de Hérouville e Chavanoz, os primeiros colocados dos dois grupos do escalão secundário, ao qual vai regressar o Roubaix e entrará de forma inédita o Kremlin Bicêtre United, sete anos após ter remediado a despromoção com uma reintegração administrativa.

Até lá, Alexandre Afonso deseja conservar “um mínimo de condição física” em casa para atenuar o “desgaste mental” propiciado pelas restrições sociais e pela entrada em ‘lay-off’ da empresa de canalização onde labora, consequências originadas pelo rasto da covid-19 no quarto país mais vitimado do mundo (18 mil mortos em 147 mil casos).

“Há sempre espaço para fazer alguns exercícios e tento correr na rua três a quatro vezes por semana, antes das 10:00 e depois das 19:00. De resto, é passar o tempo como puder ao lado da minha namorada”, concluiu o atleta do Kremlin Bicêtre United, recordista da prova, com os mesmos quatro títulos do Sporting de Paris, filial do clube de Alvalade.