O ciclista Tiago Machado esteve à conversa connosco para fazer um balanço do seu período de confinamento e sobre como está a encarar a possibilidade de um cancelamento da Volta a Portugal.

O atleta da Efapel continua a treinar na estrada em segurança, até como fazia antigamente, devido à ‘solidão’ da modalidade que pratica, revelando que o que sente mais falta são mesmo as “massagens”.

Natural da freguesia de Abade de Vermoim, na sua terra natal de Vila Nova de Famalicão, Tiago Machado acredita que a edição de 2020 da Volta a Portugal vai realizar-se, para já marcada para decorrer de 29 de julho a 09 de agosto.

SAPO Desporto - Como tem sido o seu dia a dia desde que começou a pandemia?
Tiago Machado - Tem sido parecido com o que era antigamente, porque os atletas da minha modalidade (ciclismo) já costumavam treinar de forma isolada. A maior alteração, até na minha vida pessoal, foi que deixei de ir buscar o meu filho ao infantário ao final da tarde, algumas vezes levava-o aos meus sogros e pais e isso deixou de acontecer. Outra diferença é que deixei de receber massagens desde o dia 06 de março, algo que era feito com regularidade.

SD - E em questões de treino de estrada, tem notado alguma diferença?
TM - Noto algumas, principalmente na altura em que foi decretado o Estado de Emergência - atualmente vigora o Estado de Calamidade - aí não treinava tantas vezes quanto gostaria na estrada, mas agora tenho aproveitado para sair mais vezes, até porque tinha o receio de ter algum acidente e ter de ir para o hospital. Acho que todos devíamos ter consciência, algo que todos os atletas o tiveram durante este período: Preferimos perder um mês do que perder mais tempo por causa da nossa irresponsabilidade.

SD - Como é o seu dia a dia?
TM - Acordo às 07 horas para tomar o pequeno almoço, depois fico um pouco relaxado até às 09h, depois vou para o meu treino de bicicleta na estrada. Chego a casa e almoço e, por volta das 15 horas, vou deitar o meu filho para a sua sesta, ele acorda e lanchamos, ficamos a ver um bocado de televisão…

SD - É muito diferente o dia de hoje com o que era há dois meses, por exemplo?
TM - Sim, até porque hoje já teria feito a massagem, lanchava e ia buscar o meu filho à escola. Depois poderíamos jantar fora de casa.. São essas as pequenas diferenças.

SD - E nas questões de hábitos alimentares. Tem pecado mais nesta fase?
TM - A linha já não era muito direita, portanto… Mas tenho mantido os mesmos hábitos. Por exemplo, gosto muito de frango de churrasco, agora já não como com tanta frequência, porque já não temos a mesma confiança de o ir buscar fora. E mesmo as compras, agora são feitas online.

SD - E passatempos? Tem visto mais filmes e séries?
TM - É mais ao final do dia. À tarde, vemos desenhos animados por causa do meu filho. Temos visto a série A Espia (RTP1), Como Defender um Assassino (AXN) e Ozark (Netflix).

SD - Que perspetivas tem agora para a Volta a Portugal?
TM - Acredito que se vai concretizar. É com essa esperança que vamos para a estrada. A Volta é a Volta. Acredito que até à data do início da prova o pior já tenha passado, claro que não podemos baixar a guarda, cumprindo os cuidados de higiene pedidos pela DGS. Acredito que vamos retomar o rumo normal da vida. Os eventos desta envergadura vão manter-se.

SD - Acha que os portugueses precisam do desporto ou é um ato imprudente?
TM - No outro dia magoei-me em casa, na canela... podemos magoar-nos em qualquer circunstância, não podemos viver com o medo para sempre, temos de lidar com ele. É o ciclo da vida. Vão continuar a surgir casos enquanto não houver uma vacina. Temos de retomar pouco a pouco, mas com as restrições que nos pedem. Se todos tivermos essa consciência, dá para viver assim.

SD- Existem modalidades mais viáveis do que outras?
TM - Eu gostava que todas se pudessem fazer, mas quanto aos desportos de pavilhão não sei, por exemplo, até que ponto conseguiriam ser concretizados, devido à lotação, ambientes fechados... Acho que cada caso deveria ser avaliado. Quem me dera que todos pudessem retomar à normalidade.

SD - Acha que o mundo vai ser diferente?
TM - Acho que sim. As pessoas já tomaram consciência de que não precisam de estar como ‘ sardinha em lata’ ou que podem fazer mais compras online, sem ir aos supermercados, nem às farmácias. Acho que vai ser útil para criar novos hábitos mais saudáveis.