A Rússia falhou hoje o prazo de pagamento de uma multa a rondar os 4,5 milhões de euros à World Athletics, que poderá aplicar nova sanção e excluir os seus competidores que têm competido sob bandeira neutra nas provas internacionais.

“Ao dia de hoje, não dispomos de meios económicos para pagar as multas impostas pela World Athletics”, assumiu o presidente da federação russa, Yevgeny Yurchenko, que apontou a crise do coronavírus como motivo fundamental para os depauperados cofres da instituição.

Em causa está uma multa de cerca de nove milhões de euros – metade dos quais suspensos - imposta em março pelo facto da anterior federação ter apresentado documentos falsos como álibi para um atleta, que falhou um teste de doping.

Além da multa, o atletismo russo, suspenso internacionalmente desde 2015 devido a mega escândalo de doping, deve pagar igualmente o custo da investigação.

Em março, a World Athletics limitou a 10 o número de atletas que a Rússia poderia apresentar nos Jogos Olímpicos, em Mundiais e Europeus e impôs como condição o pagamento de 4,5 milhões de euros antes de 1 de julho.

“Fizemos todos os possíveis (…). Confio no senso comum da World Athletics em relação ao atletismo russo, especialmente tendo em conta a complicada situação económica no mundo”, acrescentou Yúrchenko.

Falhando o prazo, o programa “atleta neutro autorizado” a competir em eventos internacionais deve ficar suspenso para os russos considerandos limpos de doping, que, por isso, têm podido participar, mesmo com a sua federação suspensa.

Com este estatuto e com muito menos atletas do que o normal antes de surgir o mega escândalo de doping patrocinado pelo Estado e revelado no relatório McLaren, os russos conquistaram seis medalhas nos mundiais de 2019, incluindo o ouro para Mariya Lasitskene no salto em altura e Anzhelika Sidorova no salto à vara.

A tricampeã mundial do salto em altura, Maria Lasitskene, teceu duras críticas ao presidente da federação, responsabilizando-o ao considerar que “não cumpriu com as suas obrigações com os desportistas”, entendendo ainda que nos últimos tempos “demonstrou ser um dirigente débil”.

“Com os seus atos atraiçoou os atletas limpos. Não estou certa de que o nosso desporto possa sair desta situação com uma pessoa como esta à frente da federação”, acusou, recordando que em março este se congratulou pela atribuição do estatuto neutral a 10 atletas e que a três semanas do fim do prazo da multa tenha concluído que esta era “ilegal”.

Já o ministro do desporto russo, Oleg Matitsin apelou à solidariedade da World Athletics, recordando que a federação está a “combater ativamente” o doping e considerando que não podem ser os atletas a pagar os pecados dos antigos dirigentes federativos.

O próximo Conselho Mundial de Atletismo deve reunir a 29 e 30 de julho.

Em 18 de julho de 2016, a AMA divulgou um relatório, elaborado pelo professor canadiano Richard McLaren, segundo o qual o governo russo dirigiu um programa de dopagem no desporto com apoio estatal, com participação ativa do ministro dos Desportos e dos serviços secretos.

Segundo o relatório, o esquema abrangeu, entre outros eventos, os Jogos Olímpicos Londres2012 e Sochi2014 (inverno), as Universíadas e os Mundiais de atletismo de 2013.

Desde então, o desporto russo tem sido abalado pelo escândalo, que levou o Comité Olímpico Internacional (COI) a colocar nas mãos das federações de modalidade a decisão de autorizar os atletas a participar nos Jogos Olímpicos Rio2016, mas sob bandeira neutra.

No final de 2019, numa decisão unânime, a Agência Mundial Antidopagem (AMA) castigou a Rússia com a exclusão dos Jogos Olímpicos de Verão Tóquio2020, de Inverno Pequim2022 e de todos os campeonatos do Mundo.