O judoca bicampeão mundial Jorge Fonseca garantiu não ter palavras para descrever o que aconteceu nos Europeus, em que foi eliminado no primeiro combate e saiu com uma “mágoa” difícil de ultrapassar.

“Não consigo passar dois, três dias e estar bem. É uma mágoa gigante nas minhas costas, ainda não consegui encarar o que aconteceu na competição. É uma grande mágoa, não uma desilusão (…), uma frustração, porque não consigo separar rapidamente. Se não ganhar uma medalha rapidamente, essa frustração vai-me bater todos os dias, mas vai-me fazer trabalhar para conquistar mais", considerou o judoca, já algumas horas após a eliminação.

Jorge Fonseca chegou à competição em Sófia como líder mundial em -100 kg e com uma invencibilidade em 14 combates, desde Tóquio2020, vitórias que lhe deram o bronze nos Jogos, e o ouro, já este ano, no Grand Prix de Portugal, Open de Praga e Grand Slam de Antália.

A popularidade do judoca estava tão em alta na capital búlgara, que era difícil pensar que não estaria no pódio, com Jorge Fonseca a não ter medo de dizer que o ouro em Europeus era uma das medalhas pelas quais lutava.

“A ambição era tão grande, queria tanto ganhar esta prova, é uma que ainda não conquistei e trabalhei imenso para esta medalha”, disse também no final, reiterando a ambição que continua a ter para a prova continental, cuja vitória “persegue há anos”.

No combate com o polaco Piotr Kuczera, com quem nunca tinha lutado, Fonseca reconheceu o mérito do adversário, mas revela ter ficado surpreendido pela reversão de uma pontuação de waza-ari, em que o oponente empatava o combate, para ippon.

“Achava que era waza-ari, se fosse waza-ari tinha na minha cabeça que dava a volta àquele combate, infelizmente os árbitros decidiram. Não vou meter a culpa nos árbitros, decidiram, como sempre, como a melhor decisão e foi dar ippon”, considerou.

Na luta, o português ainda admite que foi uma distração sua que permitiu o triunfo a Kuczera, judoca que diz não o vencer numa situação normal.

“Não estou aqui para me gabar, mas aquele miúdo não me ganha numa situação normal. Não é questão de pegas ou não, ele teve o momento dele, eu virei as costas e ele contra-atacou (…). Fez o melhor dele e tenho que aceitar”, acrescentou.

Os Europeus continuam a ser uma competição ‘madrasta’ para o bicampeão mundial, que tem ‘apenas’ uma medalha de bronze em Praga, em 2020, situação que o faz apontar a prova como uma espécie de ‘carrasco’ na carreira.

“É das provas que tento sempre ganhar e tenho maior dificuldade, não sei qual é a solução. Vou procurar qual é. Ganho as provas mais importantes, mas a prova em que acho que posso tornar tudo mais fácil e eficaz corre tudo mal”, disse.

Depois da visível frustração, em que saiu do tatami na Arena Armeets a ‘explodir’, Jorge Fonseca surgiu mais calmo já durante a tarde em Sófia e garantiu que apenas uma nova medalha o poderá libertar da mágoa do dia de hoje.

“A única solução para resolver esta situação é ganhar, voltar à selva e mostrar quem manda na selva. Não é ficar dois, três dias… é agarrar-me já ao próximo objetivo. É um ego ferido que é preciso levantar, se ficar muito tempo a pensar que aquilo aconteceu, se não desvalorizar aquilo, tenho de ter mais uma medalha para poder esquecer o que aconteceu no campeonato da Europa, mas não é fácil esquecer um Europeu desta dimensão, da forma que treinei, da forma que me dediquei para esta competição”, defendeu.

Nos Europeus de Sófia, em que Portugal competiu com 11 judocas, Catarina Costa foi a única medalhada, com a judoca de Coimbra a ser medalha de prata em -48 kg.