A Cautchú dinamiza o andebol em Odemira há quase sete anos, reunindo 130 atletas em diversos escalões jovens que funcionam como instrumento de coesão, num concelho do litoral alentejano sem pergaminhos nas quadras.

“Havia uma janela de oportunidade por explorar nos desportos de pavilhão e começámos a trabalhar com um propósito formativo, encarando o resultado desportivo como um meio e não um fim absoluto. Queremos tirar a carga psicológica de ganhar a todo o custo, adaptando crianças e jovens a uma sociedade em constante mudança”, explicou à agência Lusa Pedro Almeida, fundador, atual presidente e treinador dos odemirenses.

Aproveitando o contributo adicional dos mentores Alexandra Guerreiro e Bruno Estrela, a Cautchú nasceu em dezembro de 2013 com polos nas localidades de Odemira, São Teotónio e Vila Nova de Milfontes, escolhendo uma denominação alusiva ao material resinado com que eram fabricadas as bolas de andebol e futebol antes do couro.

“Tínhamos noção clara da dificuldade que é começar do zero, numa modalidade sem expressão no concelho e desconhecida da maioria das pessoas. Por outo lado, era a oportunidade de criar a nossa linha formativa e escolher o método de construção do projeto, cativando os miúdos e os próprios pais para as mais-valias do andebol”, notou.

Com uma estrutura inicial de três treinadores e 20 bambis mistos e minis femininos, a associação estreou-se nos campeonatos regionais ao fim de um ano, chegando esta época aos 120 federados, num universo de 130 atletas em três escalões masculinos e quatro femininos, orientados por cinco docentes e dois técnicos ligados ao andebol.

“Estamos numa fase muito embrionária do nosso crescimento e todos os anos temos aumentado o número de federados. Arranjar treinadores é complicado, mas tentámos investir na prata da casa, cativando professores de educação física que estejam em Odemira”, observou Pedro Almeida, que jogou 15 anos em clubes de São Pedro do Sul.

Outro entrave prende-se com as deslocações dentro do município com maior área territorial do país, onde alguns atletas “fazem 50 quilómetros para treinar durante a semana” e gastam “quase três horas por dia entre viagens e treinos”, problemática que “tem diminuído com muito esforço da direção e inestimável apoio dos pais”.

“Ao fim de semana, as deslocações para os jogos também são muito grandes. Por exemplo, o nosso adversário mais próximo mora em Lagos e mesmo assim fazemos 140 quilómetros entre ida e volta. A realidade é esta e temos de arranjar soluções que a minimizem, mesmo se pode dificultar o desenvolvimento acelerado do projeto”, admitiu.

Se as escolas de São Teotónio e Vila Nova de Milfontes juntam os manitas e os bambis, no pavilhão gimnodesportivo odemirense confluem todos os atletas acima dos infantis, compondo “uma das modalidades estratégias do concelho”, a par da canoagem e do BTT, sob respaldo de uma “parceria bastante profícua” com a autarquia.

“Recebemos o apoio do Prémio de Atividade Desportiva, ao qual os clubes concorrem anualmente. Tivemos ainda ajudas no investimento em equipamentos desportivos, nas deslocações para os jogos fora de casa e na aquisição de uma carrinha própria de transporte para treinos”, detalha Pedro Almeida, a residir em Odemira desde 2008.

A “melhor bandeira” nas quadras deu-se há cinco anos no encontro nacional de minis, em Avanca, onde a Cautchú conquistou o prémio de ‘fair-play’ entre 80 equipas, façanha à qual se acrescentou um inédito apuramento este ano para a segunda fase do campeonato de iniciados femininos, anulado com a eclosão da pandemia de covid-19.

“Em termos desportivos, representa menos uma época de formação em cada escalão. Em vez de estarem dois anos, muitos jovens só vão estar meio ano devido à alteração ocorrida nas faixas etárias de cada patamar. O impacto real só será apurado num futuro próximo, percebendo se este contexto levou atletas a desistirem do desporto”, apontou.

Aportando “capacidade financeira para assegurar os compromissos até junho”, a estrutura com 85 sócios tem trabalhado através das plataformas digitais desde meados de março, enviando planos para os jogadores se manterem ativos em casa, enquanto planeia introduzir juvenis masculinos em 2020/21 e escalões juniores nos dois anos seguintes.

“Faltam esses patamares para completarmos toda a franja da formação. Após uma eventual estabilização deste processo, verificando se estão reunidas todas as condições de sustentabilidade, não deixaremos de equacionar uma equipa sénior”, assegura o líder de um clube que ainda contempla sete praticantes de andebol adaptado desde 2018/19.

À aposta nessa “ferramenta poderosa de integração”, articulada com a Associação de Paralisia Cerebral de Odemira e inserida na “preocupação pela igualdade de género”, a Cautchú procura solidificar a “missão social” com um auxílio reforçado à comunidade migrante local de origem asiática, na qual já descobriu cinco jovens andebolistas.

“Estamos apostados em arranjar parceiros na sociedade civil, melhorar a ligação clube-escola e criar um torneio anual que permita trazer o andebol e mais-valias sociais e económicas para Odemira. Nestes oito anos, criámos alicerces, mas temos de abrir os horizontes para outros objetivos, até porque hoje já temos o nome na praça”, vincou.

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