A Federação norte-americana de ginástica anunciou que Simone Biles não vai participar na final individual do ‘all-around’ dos Jogos Olímpicos Tóquio2020 para “concentrar-se na sua saúde mental”.

A jovem ginasta de apenas 24 anos, considerada já uma das melhores ginastas de sempre, já tinha desfalcado na terça-feira a seleção dos Estados Unidos em plena final feminina por equipas. Biles justificou depois a sua decisão com problemas de saúde mental.

Jorge Silvério, psicólogo de desporto e professor, realça que "o meio desportivo em que ela [Simone Biles] está inserida é muito competitivo. Essa tal pressão é algo que não se falava antes. A partir do momento em que o primeiro [atleta] falou abertamente, passou a ser mais fácil para os outros admitir esse problema", explica ao SAPO Desporto.

O psicólogo explicou-nos ainda que "dependendo da história e experiência do atleta, essa pressão existe antes de entrar em prova. Embora seja no momento da entrada o pico máximo dessa sensação".

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Simone Biles é a mais recente atleta a alertar para as questões da saúde mental no desporto. Não é a primeira vez que um desportista deixa alertas para esta questão: Osaka e Phelps são também exemplos, existindo também o caso do português André Gomes, na altura em que se transferiu para Barcelona.

Essa pressão é igual para todos os atletas?

"Não necessariamente. Todos eles, com ou sem medalhas, sentem pressão. Depois depende muito como se lida com isso. Agora, claro que é diferente comparar um atleta que não tem medalhas com alguém como Simone Biles. Nestes Jogos Olímpicos não há muitos atletas de topo, tipo Michael Phelps, e ela acaba por assumir esse papel. Ela sente o peso do mundo nas costas, tal como ela disse. Não conseguimos ter a noção da pressão que uma atleta desta envergadura sente", sublinhou Silvério.

Antes da sua desistência do 'all-around', Simone Biles já tinha deixado uma mensagem de 'alerta' nas redes sociais, depois de uma sessão de qualificação onde teve alguns erros.

"Não foi fácil ou o meu melhor dia, mas ultrapassei-o. Às vezes, sinto que tenho o peso do mundo em cima dos ombros. Eu sei que a sacudo e faço parecer que a pressão não me afeta, mas às vezes é difícil", escreveu a atleta.

Admitir que não dá é a mensagem certa?

"Estes atletas são modelos para muita gente e é importante que percebem que eles também sentem fragilidades. Não há problema nenhum em assumir a vulnerabilidade e admitir que o adversário é mais forte do que nós. Nem todos podem ser primeiros e ganhar medalhas. É mais importante a salvaguarda da sua saúde mental. Está numa disciplina em que a probabilidade de lesão é grande. Se estiver desconcentrada, basta um ligeiro deslize para se magoar e acabar a carreira. Está a salvaguardar não só a saúde mental como também a física. Se sentirmos que a nossa saúde está em perigo então mais vale parar, respirar e voltar a tentar. acho que a mensagem é positiva", refere o psicólogo.

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A permanência de Biles em Tóquio continua rodeada de incerteza, mas há algo que já é certo: a norte-americana conta com bastante apoio. Desde a ginástica, ao basquetebol, passando pela própria Casa Branca, Simone viu a sua tomada de decisão merecer aplausos, principalmente pela sua coragem.

Ausência da família

A sua mãe, Shanon Biles, sofria de toxicodependência, e Simone e os seus três irmãos (Adria, Ashley e Tevin) foram colocados num centro de acolhimento. Em 2000, Simone e Adria foram adotadas pelo avô materno, Ron Biles e a sua mulher Nellie Cayetano Biles, dando início a uma caminhada que acabaria nos Jogos Olímpicos.

"Claramente que todas as experiências que vivemos condicionam o nosso presente. Ela tem uma história de vida complicada, até com os problemas de assédio sexual com o treinador", refere Jorge Silvério.

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Simone Biles, que no Rio2016, além da medalha de ouro por equipas, conquistou também os títulos olímpicos no concurso completo e em dois aparelhos (salto e solo), qualificou-se para as cinco finais individuais dos Jogos Tóquio2020. Em Tóquio2020, a norte-americana procurava tornar-se na primeira ginasta a defender com sucesso o título olímpico no concurso completo em mais de 50 anos, mais precisamente desde a checoslovaca Vera Caslavska em 1968.

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