O Comité Olímpico Internacional (COI) contratou como fornecedora dos Jogos Olímpicos de verão e inverno uma empresa chinesa que vende algodão de Xinjiang, província chinesa cujas importações os Estados Unidos baniram alegando abusos de Direitos Humanos.

Segundo o site informativo Axios, o grupo Hengyuanxiang (HYX), que irá fornecer os uniformes formais das olimpíadas de verão (Tóquio 2021) e inverno (Pequim 2022), tem uma fábrica em  Xinjiang e publicita os seus produtos abertamente em plataformas online (Taobao e JD.com)como provenientes desta província do noroeste da China.

Fonte oficial do COI disse à Axios que a HYX disponibilizou um certificado de origem do algodão indicando que é produzido fora da China, mas não disse qual a entidade emissora do certificado nem disponibilizou cópia do mesmo.

“Dada a participação diversa nos Jogos Olímpicos, o COI tem se manter neutro em todos os assuntos políticos globais”, disse a mesma fonte.

Em dezembro, uma coligação de minorias étnicas chinesas acusou o COI de “fazer vista grossa às generalizadas e sistemáticas violações dos Direitos Humanos que estão a ser cometidas pelas autoridades chinesas”.

Outras organizações, como a Better Cotton Initiative, também criticaram publicamente as práticas humanitárias da indústria de algodão de Xinjiang, enquanto o Consórcio dos Direitos dos Trabalhadores considerou “moralmente condenável” para o COI associar-se a uma empresa que "não apenas se aprovisiona na região (da minoria muçulmana) uigure, mas se gaba disso na publicidade aos seus produtos”.

Perante indícios de que centenas de milhares de uigures podem estar a trabalhar forçadamente na indústria do algodão em Xinjiang, parte de uma campanha mais ampla de assimilação forçada, em janeiro, os Estados Unidos proibiram a importação de todos os produtos de algodão feitos na província chinesa.

No final do mês passado, várias plataformas de comércio eletrónico na China (JD.com, Taobao, Tmall e Pinduoduo) deixaram de mostrar a loja digital da marca de vestuário sueca H&M, meses depois de a empresa ter anunciado a suspensão da utilização do algodão de Xinjiang devido à alegada utilização de trabalho forçado no setor.

Antes, o Comité Central da Liga Comunista da Juventude chinesa publicou uma mensagem, na rede social Weibo (conhecida como o "Twitter chinês") na qual perguntava: "Querias ganhar dinheiro na China enquanto espalhas boatos para boicotar o algodão de Xinjiang? Querias!".

O texto estava companhado pelo comunicado da H&M, na qual a marca afirmava proibir "qualquer tipo de trabalho forçado" na sua cadeia de produção "independentemente do país ou região".

A empresa indicou também que ia pôr fim à relação de trabalho com um fornecedor chinês até que fossem esclarecidas as alegações contidas um relatório, segundo o qual 82 firmas chinesas e estrangeiras tinham beneficiado da deslocalização forçada de membros da minoria uigure.

Outras empresas, como a norte-americana Nike, que no ano passado emitiu uma declaração semelhante à da H&M, também foram afectadas por apelos ao boicote de alguns utilizadores chineses da internet, o que levou o ator Wang Yibo a rescindir o contrato publicitário com a Nike.

Estes apelos a um boicote, meses após as declarações da H&M e da Nike sobre a questão, surgiram na mesma semana em que a União Europeia anunciou sanções contra quatro indivíduos e uma instituição chinesa por alegadas violações dos direitos humanos em Xinjiang.

O Reino Unido, o Canadá e os Estados Unidos também anunciaram sanções idênticas.

No mesmo dia em que estas medidas foram anunciadas, na segunda-feira, a China respondeu com sanções contra dez indivíduos e quatro instituições da UE.