Leiria inaugura na terça-feira o Pavilhão do Lis, o primeiro do país construído de raiz para ser inclusivo, com características que deviam ser “a norma para todos os pavilhões”, defendeu o especialista em desporto adaptado, Raul Antunes.

Segundo o professor e investigador do Politécnico de Leiria, que coordena a pós-graduação em Desporto e Atividade Física Adaptados, o pavilhão criado na freguesia de Cortes “é falado por uma situação que não devia ser exceção, mas sim a regra”.

“A norma para todos os pavilhões devia ser esta, a de preconizar e fomentar a prática inclusiva”, junto de “pessoas com algum tipo de deficiência”, disse o investigador.

Raul Antunes notou que uma das grandes barreiras ao desporto adaptado é o acesso, “quer à prática, quer à possibilidade de assistir, de se ver”.

“O princípio deste pavilhão nas Cortes parece-me muito bem e ele deve ser o ponto de partida para se desenvolver iniciativas à volta disso”, porque, além da construção, “é fundamental que apareçam iniciativas para o promover na sua verdadeira essência de pavilhão inclusivo”.

O especialista pediu para que “não se perca a noção de que o pavilhão foi construído para algo específico e essa especificidade deverá ser sempre a prioridade”.

“Senão, é como outro pavilhão qualquer, com características que todos deviam ter”, insistiu Raul Antunes.

Reconhecido e aprovado pelo Comité Paralímpico de Portugal e pelo Instituto Português do Desporto e Juventude, o Pavilhão do Lis foi projetado pelo município de Leiria para receber, por exemplo, andebol e basquetebol em cadeira de rodas e goalball.

Quem já lá treina é Manuel Sousa, 68 anos, paraplégico e uma das referências do desporto em Leiria. Há quase 50 anos um acidente mudou-lhe a vida para sempre, mas não travou este entusiasta da atividade física. Depois de ter praticado atletismo durante décadas, agora é na cadeira de rodas que joga andebol e basquetebol.

“O novo pavilhão é de facto uma mais-valia. Faz muita falta. Espero que as condições melhorem para nós e que, agora, não tenhamos de andar com a casa às costas”, disse à Lusa este atleta e vice-presidente da Associação Portuguesa de Deficientes (APD) de Leiria, onde faz de tudo um pouco, “desde arranjar cadeiras de rodas a ser um bocadinho de psicólogo”.

As equipas da APD Leiria treinam no Pavilhão do Lis há cerca de três meses, mas os jogos oficiais são realizados noutros recintos do concelho. Ainda se espera pela homologação, explicou Manuel Sousa.

A experiência tem sido positiva: “Temos um armazém importante para arrumar as cadeiras, que são volumosas, e nos balneários então está mesmo muito bom, com cabines individualizadas e duches para tomar banho sentado”.

Mas há aspetos a melhorar, defendeu.

“Há algumas arestas, mas já falámos com os responsáveis. São coisas que dá para resolver”, disse o atleta e dirigente do clube de Leiria, que tem 16 praticantes: o mais novo com 14 anos, sendo o mais velho Manuel Sousa.

A ACAPO - Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal de Leiria espera que o novo pavilhão incentive os seus associados à prática desportiva.

A delegação de Leiria queria arrancar com um projeto de goalball em 2020, mas a pandemia suspendeu essa ambição, explicou a presidente, Liliana Vicente.

“Tendo um pavilhão destes, acredito que vamos pensar nisso novamente. Temos de lidar com esta pandemia e começar a avançar”, disse à Lusa a responsável da ACAPO Leiria.

Liliana Vicente considerou a construção do pavilhão inclusivo “uma mais-valia para o distrito” e admitiu esperar, até, que a sua existência promova novas formas de encontro.

“Era uma boa aposta aproveitar o pavilhão para, porque não, juntar pessoas em vários desportos. Ainda não conheço o espaço, mas seguramente vai ser uma mais-valia, para as pessoas com deficiência visual e não só”, defendeu.

O Pavilhão do Lis, na freguesia das Cortes, custou 2,2 milhões de euros. Tem bancada com 286 lugares sentados, além de oito para pessoas com mobilidade reduzida, informou o município de Leiria.

Adiada devido à pandemia, a inauguração acontece no dia 01 de março, com um programa que tem início às 14:30 e inclui dança, jogo de andebol adaptado entre as equipas da APD Leiria e a seleção nacional de andebol em cadeira de rodas e um particular de futsal entre o Sporting e o Arnal, da Maceira.