Com o objetivo de inspirar e fazer refletir os agentes desportivos a melhorar os espetáculos desportivos, a Autoridade para a Prevenção e Combate à Violência no Desporto (APCVD) concluiu hoje a quarta edição das suas Jornadas.

“Pretendemos inspirar os técnicos de desporto dos municípios, os agentes desportivos, os gestores de segurança dos clubes, os organizadores desportivos e os alunos de desporto, que também estiveram connosco. Que todos saiam deste evento inspirados a conhecer outras boas práticas e sintam também vontade de eles próprios iniciarem e dinamizarem estes ou outros projetos, para que, de forma conjunta, continuarmos um caminho de transformação dos espetáculos desportivos”, expressou à agência Lusa o presidente da APCVD, Rodrigo Cavaleiro, após o fim das Jornadas, realizadas em Viseu.

O evento decorreu no Auditório Carlos Pereira, na Escola Superior de Saúde de Viseu, na quarta-feira e hoje, com painéis sobre hospitalidade, ética, igualdade e inclusão, e segurança e proteção, juntando “mais de 200 pessoas”, uma adesão “muitíssimo boa”.

“Não foi tanto uma jornada reflexiva ao nível de mudança de práticas, mas antes uma introspeção e tentar fazer com que cada participante reflita por si o que é que se pode fazer para mudar o que está ao seu alcance”, frisou o presidente do organismo estatal.

No entanto, considerou que há conclusões a tomar, exemplificando: “Se conseguirmos ter a capacidade de fazer os adeptos visitantes sentirem-se bem recebidos, acolhidos e valorizados, estes vão estar menos propensos a ter atos de violência, vão sentir-se em sintonia e com melhor predisposição de eles próprios fazerem parte do espetáculo de forma positiva e da relação entre os adeptos dos clubes ser boa. Se um adepto estiver mais de uma hora numa fila à espera para entrar num espetáculo desportivo que até já começou e para o qual comprou bilhete, se calhar vai ser um adepto que vai estar mais irritado e propenso a ser intolerante para com outros”.

“É um campo onde é muito fácil melhorar e, às vezes, basta simplesmente pensarmos como gostaríamos nós próprios de ser recebidos. Isso provoca a redução das tensões, rivalidade e hostilidade e aproxima as pessoas. As medidas securitárias são necessárias e o sancionamento de comportamentos ilícitos é essencial, mas as componentes em que nos focámos foi sobretudo em tentarmos inspirar os participantes a levarem ideias para cada vez receberem melhor os adeptos visitantes”, disse ainda Rodrigo Cavaleiro.

Nomeado pelo Governo para liderar o organismo em novembro de 2018, o presidente da APCVD destacou as “cerca de 2.000 decisões condenatórias efetivas” e as “cerca de 600 pessoas excluídas por alguns comportamentos violentos ou ilícitos”, a contrastar com as “cerca de 30 interdições” efetuadas nos seis anos prévios à criação da APCVD.

“São números que falam por si, mas há que fazer mais do que isso. Há que trabalhar a dinamização do trabalho que é feito na qualidade do serviço que é prestado, aumentar a hospitalidade e as condições de segurança nos espetáculos desportivos e capacitar, formar e inspirar pessoas a contribuir para a transformação que queremos”, reforçou.

Por outro lado, no âmbito da inclusão e acessibilidade, também foram debatidas as inovações de alguns clubes em “atrair aos recintos desportivos adeptos que muitas vezes são esquecidos”, por limitações motoras ou físicas, que dificultam a presença.

“O modelo europeu foca-se muito na ação consequente sancionatória e na exclusão de comportamentos de risco e, por outro lado, chamarmos aos recintos desportivos cada vez mais pessoas, sermos cada vez mais inclusivos e atrair todas as faixas e grupos de adeptos que não têm iguais oportunidades de usufruir destes espetáculos”, sublinhou.

As jornadas da APCVD serviram de “ensaio geral” para, no próximo ano, organizar um evento “de maior dimensão”, de maneira a “abrir cada vez mais” e “ser uma janela de boas práticas, assim como serem vistas como uma referência e apoio nestas matérias”.