Ana Gomes voltou a sair em defesa de Rui Pinto, ao fazer uma comparação entre os 'Luanda Leaks' e o 'Football Leaks', expostos pelo informático português. Num comentário sobre o caso que tem marcado a atualidade noticiosa portuguesa e mundial, sobre os negócios da empresária angolana Isabel dos Santos, filha de José Eduardo dos Santos, ex-presidente da República de Angola, Ana Gomes não entende a diferença de tratamento em Portugal dada às informações reveladas pelo 'Luanda Leaks' e o 'Football Leaks'.

"Uns leaks são bons para investigar, outros não, designadamente os Footlball Leaks que Rui Pinto expôs - que uma magistrada e uma juíza consideram que não podem ser usados porque foram obtidos de forma ilegal", disse a ex-eurodeputada à RTP, na quarta-feira.

Esta semana, numa entrevista ao jornalista Vítor Gonçalves, na RTP, Ana Gomes voltou a falar de Rui Pinto, preso preventivamente desde março de 2019.

"O que Rui Pinto expôs não se pode ignorar. A partir do momento em que a informação está no domínio público não pode ser ignorada. Agora, ele não está disponível só para colaborar, como quer o Ministério Público, para se incriminar. Ele deveria ser o amigo hacker das autoridades e não estar a ser tratado como inimigo. Espero que em tribunal se possa contrariar o enviesamento e encarniçamento contra Rui Pinto. Está registado que Rui Pinto fez diversas tentativas de denúncias pelos canais do Ministério Público que não viu nada acontecer", acusou.

Na mesma intervenção, Ana Gomes falou da alegada extorsão à Doyen por parte do informático português.

"Rui Pinto nega. É o único crime que lhe é imputado que justifica a prisão preventiva. E eu pergunto: quantas pessoas acusadas por tentativa de extorsão estão, ou estiveram, em prisão preventiva neste país? Eu peço ao Ministério Público que me diga quantas outras. Rui Pinto está em preventiva há quase um ano por um único crime de extorsão", explicou.

Rui Pinto vai ser julgado por praticamente todos os crimes pelos quais estava indiciado, incluindo o de extorsão. Caíram apenas os crimes de violação de correspondência que não foram alvo de queixa por parte dos lesados.

O criador do Football Leaks estava acusado pelo Ministério Público de 147 crimes de acesso ilegítimo, violação de correspondência, sabotagem informática e tentativa de extorsão. Foi, agora, pronunciado por seis crimes de acesso ilegítimo, por um crime de sabotagem informática, por 17 de violação de correspondência, por 68 crimes de acesso indevido e por um de extorsão, na forma tentada, crime pelo qual o advogado Aníbal Pinto também foi pronunciado.

Em prisão preventiva desde 22 de março de 2019, Rui Pinto, de 30 anos, foi detido na Hungria e entregue às autoridades portuguesas, com base num mandado de detenção europeu, que apenas abrangia os acessos ilegais aos sistemas informáticos do Sporting e da Doyen, mas que depois viria a ser alargado a pedido das autoridades portuguesas.