A noite podia ser dele e acabou por ser só dele. O Bruno que deixou há muito de ser apenas Fernandes e passou a ter o apelido de decisivo. O Bruno com o coldre escondido debaixo da camisola e com a arma sempre pronta a disparar. Aqui há dias li um artigo que referia que a I Liga é dos campeonatos na Europa com menos golos de fora da área. Mas Bruno Fernandes é a excepção que quebra a regra, é a antítese do remate 'três pontos para o País de Gales'.

É perfume, quando sempre de cabeça levantada, percorre com astúcia os recantos da relva. É assim que descobre os companheiros e deambula pelas zonas interiores, à procura das tabelas e dos espaços para desferir essa arma letal à solta, que não dá tréguas a qualquer defensiva. São já 100 jogos no Sporting e nesta época já leva 26 golos. Cuidado Lampard, que o Bruno vai-te apanhar!

Parece ironia do destino...o regresso ao Jamor um ano após os tristes acontecimentos que mancharam a final do ano passado. Na primeira mão das meias-finais na Luz, o médio com um livre irrepreensível, deixou o leão com a cabeça à tona de água num encontro em que o Benfica chegou a ter a eliminatória à mercê. Na segunda mão em Alvalade, e com uma águia mais complexada do que o habitual, voltou a resolver só como ele sabe. Aparecendo como sempre em zonas adiantadas no terreno, com Wendel e Gudelj nas suas costas.

Este Sporting mutante de Keizer, que tanto surge com três homens na defesa, com Coates e Mathieu no centro e Borja encostado à esquerda rapidamente muda as dinâmicas e a variante tática, aumentando para cinco o número de jogadores no processo defensivo. Uma espécie de antídoto para combater o mau posicionamento de Bruno Gaspar, que entrou neste jogo para o lugar do castigado Ristovski.

Bruno Lage fez várias alterações na equipa, em coerência com o que tem feito nas Taças. Fejsa entrou para o lugar de Samaris. Mas a grande condicionante foi mesmo a lesão de Gabriel nos primeiros minutos da partida. Entrou Gedson, para o seu lugar. O Benfica ressentiu-se da ausência e pareceu por vezes perdido na construção. Quase só através de transições rápidas os encarnados conseguiram criar desequilíbrios. Fejsa e Seferovic ainda espreitaram o golo na primeira parte, respondendo às ocasiões de Wendel e de Luiz Phellype. O primeiro tempo foi vivo, mas nem sempre bem jogado. O Sporting chamou para si a iniciativa de jogo, mas com o Benfica a tentar espreitar, sempre que podia, o contra-ataque.

No segundo tempo veio a emoção. A etapa complementar abriu com duas ocasiões flagrantes. Seferovic fugiu a Coates e Mathieu, mas não teve engenho para bater Renan. Seguiu-se um livre à entrada da área, que é como quem diz, um penalti para Bruno Fernandes...Bola no ferro. Parada e resposta. O jogo ficava partido, o espaço sobrava nas costas das defesas. Keizer arriscou com as entradas de Ilori e Diaby, para os lugares de Borja e Bruno Gaspar, o que possibilitou à equipa esticar ainda mais o seu jogo, deixando três centrais puros lá atrás. Bruno Lage respondia, com a entrada de Jonas. O dianteiro entrava para dar critério, perante o eclipse de João Félix e Pizzi. Uma tabelinha entre Pizzi e Jonas quase resultou em golo, mas o brasileiro atirou ao lado.

Mas o leão estava crente de que podia virar a eliminatória para assim tentar ajustar contas com o passado e regressar ao Jamor. Bruno pegou na bola, tirou Grimaldo pelo caminho e fez gritar milhões de sportinguistas pelo país fora. O ambiente em Alvalade ficou estridente como ainda não se tinha visto esta época. O Benfica abanou, mas procurou o golo que lhe daria o apuramento. Teve a ocasião na cabeça de Seferovic (82´), mas a bola saiu ao lado. O Sporting está de volta à final da Taça.

Momento: Podemos cair no erro de nos tornarmos repetitivos, mas aquele pontapé... A 'bombaça' de Bruno Fernandes, aos 75´, desbloqueou o jogo, e foi quase o KO definitivo para um Benfica que chegou a Alvalade demasiado confortável dada a vantagem mínima que trazia na bagagem.

Homem do jogo: What else? Bruno 'míssil' Fernandes já merece uma estátua em Alvalade. São 26 golos até ao momento e está a apenas a um golo do recorde de Lampard como o médio mais concretizador da Europa.

Melhores

Wendel - Foi um dos motores do Sporting na primeira parte, e teve um pulmão do tamanho do Mundo. Muito assertivo no passe, também tentou o remate em diversas ocasiões.

Acuña - Muito forte no drible, o médio do Sporting deu muitas dores de cabeça ao adversário pelo lado esquerdo. Serviu quase sempre bem os companheiros de equipa. A raça do argentino é contagiante.

Jardel - Clarividente a sair com a bola controlada e com uma jovialidade impressionante não foi por ele que o Benfica perdeu o encontro em Alvalade.

Rafa - Foi um dos mais inconformados do Benfica e bateu muitas vezes os jogadores do Sporting em velocidade com diversas arrancadas. Na primeira parte esteve próximo de apontar um golo tirado a papel químico do que apontou esta época no Dragão, mas a bola acabou por sofrer um desvio.

Piores

Pizzi e João Félix

Os dois jogadores passaram ao lado do jogo e com isso o Benfica pagou a fatura.

Reações

Luís Filipe Vieira: "Que seja uma reta final sem casos de arbitragem"

Bruno Lage: "Fica o lamento de termos falhado duas ou três oportunidades claríssimas"

Keizer: "Só houve uma equipa que quis verdadeiramente vencer, fomos nós"

Bruno Fernandes explica golaço: "São jogadas de instinto. Tirei o Grimaldo do caminho, a bola ficou boa e fui feliz"