É apenas a terceira vez na história que acontece uma final da Supertaça entre duas equipas que não se encontram no mesmo escalão. Depois da presença do longínquo Beira-Mar (que estava na II Liga em 1999/2000) e do Leixões (II B em 2002/2003), é a vez do Tondela representar o distrito de Viseu ao mais alto nível e logo frente ao vencedor da 'dobradinha': o FC Porto.

Trata-se de um duelo que é o expoente máximo do favoritismo diante do orgulho ferido. Os azuis e brancos - pese embora algumas perdas de relevo nesta pré-época - são os detentores do Campeonato e da Taça de Portugal da época passada (curiosamente, numa final em que derrotaram o Tondela). Já a equipa beirã vem de uma temporada para esquecer. O 17º lugar no campeonato e a derrota no Jamor encerraram um ano inglório, mas que, para o povo tondelense, pode significar uma vontade ainda maior de dar um grito de revolta no início daquela que é uma época em que a promoção ao primeiro escalão do futebol português é o principal objetivo.

A Supertaça Cândido de Oliveira, como é habitual, marca o início das decisões naquele que é o jogo de arranque oficial da temporada. Esta é a 44.ª edição de uma prova que quase sempre teve uma preponderância azul e branca e que tem feito vibrar o Estádio Municipal de Aveiro. Para termos uma noção, nas últimas 14 edições da prova, só duas vezes é que o palco não foi o habitual: em 2015 e 2019 com um Benfica-Sporting no Estádio do Algarve.

Olhando agora para os protagonistas, Sérgio Conceição vai ter algumas baixas de peso. Para além das saídas definitivas de Vitinha, Fábio Vieira, Mbemba e Francisco Conceição, David Carmo não vai poder fazer a sua estreia oficial de dragão ao peito - recorde-se que o central foi expulso num jogo pelo SC Braga no final da temporada passada - e junta-se a Diogo Costa, Otávio, Fábio Cardoso e ao lesionado Manafá no lote de indisponíveis. Os quatro jogadores estiveram envolvidos em alguns cânticos insultuosos que visavam o Benfica e foram castigados sem o FC Porto recorrer da decisão.

Para além dos habituais titulares, espera-se que jogadores como Gabriel Veron, um dos reforços para a nova temporada, Marcano, Bruno Costa, Grujic e Eustáquio aproveitem para somar mais minutos pelos azuis e brancos.

Do lado do Tondela, Tozé Marreco, que é mais novo nestas andanças enquanto treinador, não conta com baixas nem com reforços, mas sim com os jogadores que resistiram à época passada e permaneceram no clube mesmo depois da descida de divisão, e alguns jovens provenientes da formação. Para tentar a história, afiguram-se alguns nomes importantes como Babacar Niasse, Tiago Almeida, Bebeto, Naoufel Khacef, Manu Hernando, Pedro Augusto, Iker Undabarrena, Rafael Barbosa, Daniel dos Anjos, Ruben Fonseca e Tomislav Strkalj.

Pedro Trigueira, João Pedro, Salvador Agra, Tiago Dantas e Eduardo Quaresma foram alguns dos jogadores que ainda estiveram na final da Taça de Portugal, mas que já não disputam o próximo troféu.

Momento de forma:

Num jogo que marca o arranque oficial da temporada, é sempre difícil definir qual o momento de forma de duas equipas que ainda não se mostraram verdadeiramente em público. No entanto, os jogos desta pré-temporada já serviram para ter alguma noção do que esperar por parte dos protagonistas.

Do lado do FC Porto, o registo foi 100% vitorioso. A pré-temporada começou com a vitória por 3-0 frente à equipa B, que se seguiu com o mesmo resultado frente ao Bristol Rovers. A 10 de julho, os dragões derrotaram o Vilafranquense por 2-0 e, quatro dias depois, o Portimonense por 1-0. Num duelo particular com o Vitória SC, o FC Porto sofreu o primeiro golo nesta pré-época num resultado final favorável em 2-1, tendo mais tarde defrontado o Arouca com mais um bom registo (5-1). A única aparição com portas abertas foi no sábado passado com a vitória em casa frente ao Mónaco (2-1), naquele que foi o jogo de apresentação da equipa.

Já o Tondela apresentou um registo mais instável, mas preocupou-se em enfrentar adversários maioritariamente da Primeira Liga. A pré-temporada começou com uma derrota por 2-0 frente ao Rio Ave, que foi compensada com um triunfo por 4-1 frente ao Vitória SC B. Os mais recentes encontros deram dois empates a um golo frente ao Santa Clara e Gil Vicente.

A história:

Naquela que é a 44.ª edição da competição, a 12.ª nos palcos de Aveiro, há um grande cenário que tem vindo a acompanhar o troféu de arranque oficial das competições em Portugal.

Em 1944, ainda num país oprimido por Salazar, jogava-se a Taça Império enquanto prova de inauguração do Estádio Nacional, com uma vitória do Sporting frente ao Benfica (3-2).

Depois da revolução de abril, a competição tornou-se oficialmente conhecida como Supertaça, mas ainda sem as características que hoje reconhecemos. Tratava-se de uma final a duas mãos e que posteriormente foi batizada em homenagem a um dos mestres do futebol português: Cândido de Oliveira.

Os anos 2000 marcaram o início das finais disputadas a uma só mão e até aos dias de hoje tem sido sempre assim.

Foram já 71 jogos e 161 golos. O FC Porto é o recordista em peso da competição com o maior número de conquistas (22) e mais participações (32). Também se afigura como o melhor ataque (70 golos marcados). Numa comparação direta com os principais rivais, os dragões têm mais 13 troféus que o Sporting e mais 14 que o Benfica. Refira-se ainda que, nos duelos com os encarnados, os azuis e brancos apenas saíram derrotados uma vez, sendo que o outro rival lisboeta assume-se como o segundo melhor classificado no ranking da competição. De destacar, também, é o facto de, desde 1997 (na altura com a vitória do Boavista), ser sempre um dos três grandes a levantar o troféu.

Quanto aos intervenientes, também há uma clara supremacia do FC Porto. Domingos Paciência e João Pinto são os jogadores com mais golos e títulos, respetivamente. A última aparição portista na Supertaça foi em 2020/21 com uma vitória por 2-0 frente ao Benfica.

Do lado do Tondela, não existe esta supremacia, mas há história. Só o facto de, em toda a história, ser a terceira equipa da segunda divisão a marcar presença numa final destas é de realçar. Esta será a primeira aparição da equipa em prova e a vontade de mostrar o orgulho ferido e de sentir, pela primeira vez, o que é a conquista de um troféu é a arma para travar o favoritismo dos dragões.

Tozé Marreco acumulou algumas experiências enquanto jogador, mas esta é a primeira vez do treinador nestas andanças. Na temporada passada conseguiu salvar o FC Oliveira do Hospital da despromoção na Liga 3 e agora chegou a altura de dar o salto para os escalões profissionais.

Fora do âmbito da Supertaça, torna-se importante também olhar para o histórico de confrontos entre FC Porto e Tondela. O registo volta a ser claramente favorável aos dragões, que venceram 14 vezes em 17 jogos, última dos quais na final da Taça de Portugal da temporada passada (3-1). Taremi foi uma das principais figuras ao bisar nesse encontro e é de novo um jogador a ter em conta para este duelo.

O Tondela apenas conseguiu impor-se duas vezes com uma vitória (1-0 no Estádio do Dragão a contar para o campeonato em 2015/16) e um empate (0-0 no Estádio João Cardoso a contar para o campeonato em 2016/17). O registo de golos também não engana: os dragões conseguiram marcar 35 golos e sofrer apenas oito. De realçar ainda que nos últimos nove jogos entre as duas equipas, os azuis e brancos conseguiram marcar sempre, pelo menos, dois golos.

O que dizem os protagonistas:

FC Porto

Sérgio Conceição, treinador da equipa: "Uma final é uma final. Tudo pode acontecer. Penso que o Tondela vai iniciar o jogo com um onze muito semelhante ao da Taça. É verdade que as opções ficaram mais reduzidas para eles, mas há miúdos da formação que subiram e que têm qualidade. Na teoria, nós somos a equipa que tem a obrigação de ganhar o jogo, pela história. Mas é preciso provar isso em campo. Tenho um grande respeito por todas as equipas e não espero um jogo fácil amanhã."

Taremi, avançado dos azuis e brancos: "É um jogo, tudo pode acontecer. Não interessa quem parte ou não como favorito, ambas as equipas vão jogar para conquistar a Supertaça. A diferença estará em quem conseguir interpretar da melhor forma a estratégia da equipa. Vamos abordar este o jogo com a mesma mentalidade e vontade de sempre."

Pinto da Costa, presidente do clube: "Um FC Porto-Tondela disputado em Aveiro é mais uma prova de como o futebol pode estar à frente e dar um exemplo de democracia num país em que esta ainda não se cumpre plenamente. Tenho a certeza de que a Supertaça vai contribuir para a felicidade de muita gente de muitos sítios cronicamente esquecidos."

Tondela

Tozé Marreco, treinador da equipa: "Estou à espera de um FC Porto com muitas soluções. O Sérgio tem sido extremamente competente ao longo destes anos. Tem um grupo de 29 ou 30 jogadores em que não joga o Diogo, joga o Marchesín. Se não jogasse o Zaidu, jogava o Wendell, não joga o David ou o Fábio, joga o Marcano. Há muitas soluções. É lógico que estou à espera do Marchesín, do Zaidu, do João Mário, do Marcano e do Pepe, do Grujic, do Uribe, do Galeno, do Pepê, do Evanilson e do Taremi."

Ricardo Alves, capitão de equipa: "Temos de entrar muito concentrados, temos noção que são 90 minutos, é uma final e as finais são para se disputar e para ganhar e com isso penso que estamos mais perto de conseguir."

David Belenguer, presidente do clube: "A disputa deste troféu representa a oportunidade de continuarmos a promover o nome de Tondela no panorama futebolístico do nosso País."

A equipa de arbitragem vai ser liderada por Manuel Mota que terá como árbitros assistentes Luciano Maia e Inácio Pereira. António Nobre vai ser o quarto-árbitro com o videoárbitro entregue a Hugo Miguel, auxiliado por Fábio Veríssimo e Pedro Martins.

O pontapé inicial entre FC Porto e Tondela para a Supertaça está marcado para este sábado, dia 30 de julho, às 20h45 no Estádio Municipal de Aveiro.

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