Tinha tudo para ser uma referência entre os guarda-redes, mas algumas decisões tiraram-lhe essa possibilidade. Agora, aos 47 anos, Angelo Pagotto recorda o que correu mal na sua carreira de futebolista.

Em 1996, o jovem guarda-redes venceu o Euro Sub-21 pela Itália, onde foi dono e senhor da baliza, e pela frente parecia ter um futuro brilhante, mas faltou-lhe orientação. "Eu era jovem, tinha muito dinheiro no bolso, mas não tinha uma família sólida para me orientar. Naquela época, Buffon ainda não era o que ele se tornou e como era alguns anos mais novo, chamaram-me a mim. Mas ele e eu éramos predestinados, os guarda-redes mais fortes da época", lembra à La Gazzetta dello Sport.

Mas, ainda antes disso, tinha surgido a possibilidade de rumar à Juventus. "Foi quando eu estava no Pistoiese, emprestado pelo Nápoles. Estava a dormir e o telefone tocou, quando atendi a pessoa do outro lado disse 'daqui fala Luciano Moggi'. Eu disse logo 'não goze comigo'. Liguei de novo e ele disse que era mesmo ele e que eu tinha que acreditar porque ele queria levar-me para a Juve", recorda ainda.

Tudo parecia encaminhado, mas Angelo Pagotto acabou por tomar uma decisão que lhe saiu cara. "Não sei se fiz mal ou não, mas olhando para trás, talvez devesse ter aceite. Fiz várias avaliações com o meu agente e a alternativa foi a Sampdoria. O Zenga estava no fim da carreira e eu teria mais espaço, enquanto na Juve teria que suar para ter lugar. Assim que ele disse 'não' ao Moggi, todas as portas se fecharam", revela o ex-guardião.

As más decisões

Em 1995/1996, Pagotto chegou à Sampdoria, o clube que lamenta ter abandonado na época seguinte, depois de 24 jogos disputados. "O meu coração ainda chora por ter deixado a Sampdoria. O ambiente era agradável, senti-me muito mal por sair. Em Milão encontrei uma cidade fria e um clube ainda mais frio", admite.

Passou um ano no Milan, seguiu-se o Empoli e depois o Peruggia. Foi aí, em 1999, que acusou positivo num teste de doping. "Naquela altura ainda era possível contornar um teste de doping e se eu tivesse má fé provavelmente teria feito isso mesmo. Mas estava calmo, porque numa semana em Parma e na semana seguinte em Pádua acusei negativo. Só que entre ambos, após um jogo com a Fiorentina, dei positivo. Acho estranho. Na altura o procurador disse-me que se eu admitisse a culpa o meu castigo seria de seis meses, mas nunca quis fazer isso", refere.

"Tudo se foi. Os jogadores de futebol, os meus ex-companheiros de equipa, já não eram meus amigos. Passei dois anos com a minha mãe no hotel que abrimos. Ela acreditou em mim. Havia dias em que eu não conseguia sair da cama e noites que passava na discoteca. Comecei uma vida selvagem. Quando percebi que a situação estava descontrolada, olhei-me no espelho e fiz o tratamento. Não tenho vergonha de dizer que recebi ajuda, não o poderia ter feito sozinho contra a depressão", salienta ainda.

O uso de cocaína acabou por lhe valer dois anos de suspensão, mas foi pela justiça desportiva. No entanto, quando voltou ao futebol, percebeu que o seu tempo já tinha passado. Longe dos grandes clubes, Pagotto passou por Triestina - onde foi acusado pelo presidente de combinar resultados dos jogos -, Arezzo, Torino e Crotone, onde tudo terminou com um novo escândalo de doping.

"Não tinha mais adrenalina no campo e procurava por ela na cocaína. Passei a andar com mais más companhias, que me faziam sentir um protagonista". No entanto, o único reconhecimento que Pagotto teve por esse protagonismo foi uma nova suspensão.

Depois disso, o antigo guarda-redes já não conseguia tirar o seu nome 'da lama'. Foi então que deixou Itália. "Fui para a Alemanha, tornei-me pizzaiolo, cozinheiro, etc", revela. Nos dias de hoje, Pagotto voltou a encontrar a felicidade perdida no futebol: tornou-se treinador de guarda-redes no clube da sua terra natal - o Avellino, que milita na Serie C.