Um golo de André Silva selou o triunfo de Portugal sobre a Itália na Luz, em jogo de estreia dos lusos na Liga das Nações, a nova competição da UEFA. Um golo com um significado enorme, já que Portugal não vencia os transalpinos em jogos oficiais há 61 anos. É verdade. A Itália (tal como a França) atormentou os espíritos lusos aos longos das últimas décadas e tornou-se na 'besta negra' de Portugal desde esse dia 26 de maio de 1957, quando a formação lusitana goleara os transalpinos por 3-0, na caminhada o Mundial de 1958. De lá para cá, Portugal só por quatro vezes vencera a Itália, sempre em amigáveis. O último, foi em 2015 em Genebra, com um golo do nosso muito amado Éder (o homem está talhado para grandes feitos).

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O Jogo: Um Portugal mais solto, sem Ronaldo, e uma Itália que já não mete medo

Fernando Santos optou por repetir o mesmo onze que tinha empatado na sexta-feira passada no Algarve frente a vice-campeão do Mundo, a Croácia. Sem Cristiano Ronaldo, que pediu dispensa desses dois encontros, viu-se uma equipa mais solta, mais coletiva, e menos pressionada. É verdade que ganhou pela margem mínima mas criou situações mais que suficientes para até golear.

Este novo Portugal é, na verdade, um velho. É o regresso às origens, numa seleção que sempre se deu melhor no seu 4-3-3, o 'carapau dos pobres' como lhe chamou o Professor Neca: três médios (1+2 ou 2+1), dois extremos, um avançado e o resto é talento. E talento é o que não falta nesta seleção. Com Bruma e Bernardo Silva a derivarem muitos vezes para a zona central, com a bola no pé mas também em desmarcações, os corredores ficavam entregues aos laterais Mário Rui e João Cancelo, responsáveis pelos desequilíbrios. André Silva mexia-se bem na frente, vinha tabelar, arrastava marcações, abria espaço para as entradas tanto dos extremos como dos médios, como Pizzi e William, a aparecerem muitas vezes em zona de tiro. Um Portugal com novas dinâmicas, a baralhar a rejuvenescida Itália.

A definição no último terço podia não ser a melhor mas os desequilíbrios iam aparecendo. André Silva era dos mais informados, Bernardo Silva organizava, sempre com a bola colada no pé, Pizzi tentava aparecer na zona de finalização na área, repetindo na Seleção o que tem vindo a fazer neste início de época no Benica. O nulo ao intervalo penalizava os campeões da Europa, que tinham visto a barra negar-lhes um golo (seria uma infelicidade de Bryan Cristante, o homem que não servia para o Benfica mas que brilhou na Atalanta, foi comprado pela AS Roma e agora é titular na Seleção italiana). Antes, Bonaventura tinha tirado da linha de golo um remate de Bernardo, já com Donnarumma fora da jogada.

Os 52635 espetadores na Luz iam puxando pela equipa mas também apanhando, aqui e ali, alguns calafrios. Na equipa de Mancini, o perigo chegava quase sempre pelo inconformado Simone Zaza, isso quando conseguia iludir o centenário Pepe (homenageado pelos seus 100 jogos pela Seleção A de Portugal) ou então com remates de fora da área que Patrício ia resolvendo.

Quando André Silva desfez o nulo aos 48, após passe de Bruma, em lance de ataque rápido, estava encontrado o vencedor. Mancini, o novo selecionador italiano, tentou 'forçar' mais no ataque, num 4-4-2 com Belotti ao lado de Zaza na frente mas sem efeitos práticos. Rúben Neves recuou ainda mais para perto dos centrais, Portugal até passou a ter mais espaço para sair para o contra-ataque e até podia ter marcado mais golos, não fosse Donnarumma negar o golo a Bernardo Silva, Renato Sanches e Gelson Martins, estes últimos lançados no segundo tempo.

Portugal estreia-se assim da melhor forma na Liga das Nações da UEFA, liderando o Grupo A3 com três pontos, mais dois que a Polónia, o próximo adversário (jogo é a 11 de outubro) e a Itália, que leva um jogo a mais neste grupo de três. O próximo jogo de Portugal, fora de casa, frente a Polónia, pode deixar a Seleção Nacional em excelentes condições de seguir em frente, uma vez que só o primeiro do grupo passa a fase seguinte.

O Momento: André Silva 'vinga-se' dos italianos

A 2.ª parte tinha começado há pouco tempo quando, num contra-ataque rápido, Bruma descobriu André Silva na área. O jogador emprestado pelo AC Milan ao Sevilha parecia ter perdido 'timing' de remate mas foi a tempo de ajeitar a bola e disparar de pé esquerdo, batendo Donnarumma.

A Polémica: Criscito trava Pizzi na área

Aos 32 minutos, uma triangulação entre Bernardo e Pizzi ia deixar o médio do Benfica solto na área mas acabou por ser travado por Criscito que não lhe permitiu seguir até a bola. O árbitro escocês William Collum mandou seguir.

Os Melhores: André Silva fez justiça ao grande jogo de Bruma e Bernardo

Bruma e Bernardo foram os principais desequilibradores na formação de Portugal. Quer em arrancadas, quer a segurar a bola, mostraram que talento não falta a Portugal. André Silva merece a distinção honrosa não só pelo golo mas também pelo que jogou. Na seleção transalpina, Zaza na frente e Donnaruma na baliza foram os melhores.

Os Piores: Itália tem muito que crescer

Esperava-se mais da Itália de Mancini, embora o empate caseiro diante da Polónia tenha deixado os primeiros sinais. Na frente de ataque não há um jogador de classe mundial, capaz de desequilibrar. A defesa já não mete tanto respeito como dantes até porque os veteranos Chiellini e Bonucci estavam no banco. A seleção falhou a qualificação para o último Mundial e precisa de crescer muito, com os novos valores emergentes, para formar uma Selecção capaz de ombrear com as melhores do Mundo.

Reações dos protagonistas:

Fernando Santos: “Portugal entrou com os dois pés, porque só com um pode cair”

Fernando Santos: “Há um mês não íamos ganhar mais nada, éramos uns coitadinhos…”

Mancini: “Portugal foi superior à Itália”

Pepe: “Essa juventude vem com um espírito bom e trabalhador”

Rúben Dias: “Queríamos muito entrar a ganhar nesta competição”

André Silva: “Dentro de campo não há amigos”

Rúben Neves: “Controlámos muito bem o jogo”