O FC Famalicão garantiu, no passado domingo, o regresso ao escalão máximo do futebol português, mas não foi há muito tempo que o clube minhoto andava a disputar o campeonato distrital de Braga, regressando ao terceiro escalão nacional em 2011, para dar início a um novo ciclo na história do clube.

Fruto de um crescimento sustentado, cimentado pela injeção de capital por parte do grupo Quantum Pacific Group (que detém 51% do clube) e pela criação de uma SAD, o FC Famalicão é conhecido hoje por ser um dos clubes com maior assistência nos estádios, algo que terá um forte impacto nos jogos da primeira divisão, na próxima época.

Quatro anos depois de estar a jogar no Campeonato Nacional de Seniores (antiga terceira divisão) e 25 anos depois, a I Liga prepara-se para receber o Vila Nova de Famalicão.

28 de abril de 2019, um dia histórico para o clube e para a cidade

O Famalicão assegurou a sétima presença no principal escalão do futebol português, 25 anos depois, ao juntar-se ao Paços de Ferreira entre os promovidos da II Liga. A promoção do Famalicão foi confirmada quando faltam três jornadas para o fim do campeonato, com a vitória caseira frente ao Vitória de Guimarães B por 4-1 de manhã, beneficiando ainda da derrota do Estoril Praia por 4-2 em casa do Penafiel de tarde.

No total, o clube, que segundo conta a história foi fundado por seis amigos em 21 de agosto de 1931, somava até aqui seis presenças na I Liga e apenas quatro seguidas, nas épocas 1946/47, 1978/79, 1990/91, 1991/92, 1992/93 e 1993/94.

Na última presença entre os ‘grandes’, o emblema minhoto ficou no 17.º e penúltimo lugar da tabela, sendo despromovido juntamente com o Estoril Praia (18.º), que este ano foi seu adversário direto, e com o Paços de Ferreira (16.º), que já garantiu a subida na jornada anterior.

O emblema famalicense, conhecido pelo bairrismo que se tem convertido em ‘recordes’ de assistência, teve o seu auge na década de 1990, quando conseguiu disputar a I Liga em quatro épocas consecutivas.

Os 13.ºs lugares nas duas primeiras presenças no primeiro escalão são as melhores classificações do clube, quando o campeonato era disputado por 14 e 16 clubes, respetivamente, em ambos os casos em lugares de descida de divisão.

As permanências foram sempre asseguradas tangencialmente, com o 15.º lugar em 1990/91 e os 14.ºs em 1991/92 e 1992/93 - quando foi vencer surpreendentemente ao terreno do FC Porto por 1-0 com um golo do suplente Vieira, antes de os 'dragões' se sagrarem bicampeões.

Seguiu-se, em 1994 a 'queda' para o segundo escalão e, em 1996, novo 'tombo' para fora dos campeonatos profissionais aos quais só viria a regressar na época 2015/16 sob o comando técnico de Daniel Ramos, atualmente no Rio Ave.

Pelo meio, o clube minhoto, atualmente presidido por Jorge Silva, foi notícia quando, em 1999, militando no terceiro escalão, chegou à quarta eliminatória da Taça de Portugal, sendo eliminado pelo FC Porto, que jogava em casa, no prolongamento (4-2).

Na temporada 2014/15, ano em que se sagrou campeão do Campeonato de Portugal e regressou à II Liga, também só foi afastado da Taça de Portugal nos quartos de final pelo Sporting, que viria a conquistar o troféu, ao perder por 4-0 no recinto dos ‘leões’, perante cerca de 3.000 adeptos do Famalicão.

Esta época, o emblema de Vila Nova de Famalicão, do distrito de Braga, 'caiu' na segunda eliminatória, ao perder em Águeda (1-0), e na primeira fase da Taça da Liga, com a derrota caseira frente ao Arouca (5-4, nas grandes penalidades), mas acabou por celebrar no campeonato.

As fotografias da festa com adeptos e elementos do clube na cidade de Famalicão

Paulo Cunha, presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, esteve à conversa com o SAPO Desporto, destacando o feito histórico do clube, cujo sentimento invadiu o espirito dos famalicenses. Veja o vídeo abaixo.

FC Famalicão já pensa na Europa

"Vamos ver o próximo objetivo. Mas queremos ir longe. O clube quer fazer uma grande época".

Quem o disse foi Idan Ofer ainda na tarde de domingo, que já à pergunta sobre se pensa na luta por lugares europeus referiu: "Obviamente espero lutar por isso".

O milionário israelita conhecido pelos investimentos no Atlético de Madrid, por ter pagado 600 mil euros por uma réplica da Bola de Ouro do português Cristiano Ronaldo e pela ligação anterior ao Rio Ave, disse estar "muito contente" pelo "feito espetacular" alcançado pelo Famalicão.

Os jogadores e o treinador do Famalicão, que garantiu a subida à I Liga de futebol, destacaram os adeptos durante a época encheram o estádio e agora pintam a cidade de ‘azul' enquanto aguardam os seus ‘heróis'.

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"É um momento maravilhoso. Um trabalho da estrutura do Famalicão e destes jogadores que claramente assumiram que queriam atingir a I Liga. E este Famalicão, este povo, estes adeptos, 25 anos à espera, finalmente conseguiram e merecem", disse Carlos Pinto, treinador que abraçou o comando técnico dos famalicenses à 26.ª jornada, substituindo Sérgio Vieira.

"Isto é muito especial, esta subida, porque a massa associativa do Famalicão, uma massa associativa que traz 3.000 ou 4.000 pessoas aos jogos, é incrível. Já falei com os jogadores e dei-lhes os parabéns por este feito, pelo trabalho e pela época fantástica que realizaram. Agora é a vez de festejar", acrescentou Carlos Pinto.

Veja o vídeo da festa pela noite dentro na cidade

Mais eufórico, aliás quase sem voz, Jorge Miguel, defesa esquerdo que começou carreira no Famalicão, conta que o plantel "passou por muito" para conseguir a subida e, olhando em frente para o ‘mar' de gente nas ruas, aponta: "Isto só demonstra a grandeza deste clube. Nós merecíamos isto e fizemos tudo para conquistar".

Também Feliz, considerado por muitos o ‘coração' da equipa pelo número de assistências e pela mestria nas bolas paradas disse que o "segredo é muito trabalho".

"Ter uns adeptos como estes que nos empurram e nos ajudam muito", disse o avançado. Também Defendi, guarda-redes brasileiro que chegou a Famalicão esta época, fala em "paixão".

"Conseguimos e agora é hora de comemorar. Tenho pouco tempo aqui, mas sinto paixão. Paixão pelos adeptos, paixão pela equipa e pela família que criamos aqui. Esta gente é fantástica", descreveu.

Os altos e baixos de um clube emblemático

Em 1993/1994, época da última presença do FC Famalicão entre os grandes do futebol português, o central Ricardo tinha 13 anos. Aliás, quisemos saber, na voz do defesa, como olha para o futuro do clube minhoto.

De resto, muitos dos jogadores que formam o plantel às ordens de Carlos Pinto nem eram nascidos. O treinador, na altura com 21 anos, fazia parte do plantel do Paços de Ferreira.

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A descida em 1993/1994 foi confirmada com uma derrota em Alvalade frente ao Sporting por 3-0, com dois de Paulo Torres e um de Figo, a três jornadas do fim da época na I Liga. A equipa comandada pelo brasileiro Abel Braga ia fazer companhia ao Estoril, formação que também já estava despromovida. Terminava assim, de forma inglória, a sexta participação na I Liga e iniciava-se uma crise desportiva que atiraria o emblema de Famalicão para o futebol distrital em 2007/08, onde ficaria apenas uma temporada. Com mais baixos do que altos, aos poucos, o FC Famalicão foi subindo, gradualmente, num caminho tortuoso, até regressar ao futebol profissional.

Dois anos após descer para a II Liga, o clube não resistiu e voltou a cair de divisão, ao ficar no 17.º lugar em 1995/96. Entre os escalões distritais, II Divisão B, Campeonato Nacional de Seniores, foram 19 anos até voltar ao futebol profissional. Aconteceu na época 2014/2015, depois de uma vitória caseira frente ao Lusitano de Vildemoinhos por 1-0, na 12.ª e antepenúltima jornada da fase de subida da zona norte do Campeonato Nacional de Seniores.

Miguel Ribeiro, na companhia de Jorge Mendes, foi a peça-chave do sucesso do Famalicão

Miguel Ribeiro ocupou o cargo de diretor-geral do Rio Ave desde 2011 até 2018, altura em que decidiu aceitar o desafio de liderar um projeto ambicioso no clube da sua terra natal.

A intervenção de Jorge Mendes, amigo de Miguel Ribeiro, neste processo conferiu solidez ao projeto, dando garantias, nomeadamente na angariação de investidores, como foi o caso da entrada da Quantum Pacific Group, detém também 32% do capital social dos espanhóis do Atlético Madrid.

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Miguel Ribeiro, de 41 anos, esteve ligado diretamente aos três apuramentos do Rio Ave para as competições europeias, naquele que foi o período mais frutífero da história do clube de Vila do Conde. O agora responsável pela gestão do clube também conversou com o SAPO Desporto e referiu que a subida do Famalicão à I Liga não pode ser efémera.

Já com a subida à I Liga garantida, resta ao Famalicão saber se irá manter o segundo lugar ou ainda alcançar o primeiro lugar - ocupado pelo também já promovido Paços de Ferreira - e assim sagrar-se campeão da II Liga.

Quatro pontos separam as duas equipas, sendo que o Famalicão terá de se deslocar à Póvoa de Varzim, receber a Oliveirense e terminar o ano no terreno do Estoril-Praia. Já os pacenses recebem o Mafra, visitam Leixões e, por fim, têm a visita do Cova da Piedade.

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