Acabou por ser um dos casos que mancharam a temporada no futebol português, mas que teve o condão de unir velhos rivais, numa unanimidade transversal em todos os quadrantes de norte a sul do país.

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Tudo aconteceu no dia 16 de fevereiro este ano num V. Guimarães - FC Porto. Marega, acabou rendido ao minuto 71´, em partida da 21ª jornada da I Liga. O jogador acabou por ser alvo de cânticos racistas por parte de adeptos da equipa minhota.

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Num ato de coragem, e como que agitando uma bandeira mesmo que invisível contra o racismo, Marega abandonou o jogo, numa altura em que os azuis e brancos venciam por 2-1, resultado com que finalizaria a partida.

O internacional maliano deixou colegas e treinador com um sentimento de estupefacção perante o que tinha ocorrido, mas o dianteiro não voltou a olhar para trás na decisão.

Após o jogo, o jogador acabou por reagir ao sucedido em declarações ao programa 'Team Duga' da RMC Sport.

"Ontem [domingo], senti-me realmente uma m****. Foi, verdadeiramente, uma grande humilhação, tocou-me verdadeiramente", afirmou o jogador em declarações ao programa ‘Team Duga’, da RMC Sport.

Instado a comentar o ato, o dianteiro confessou na altura que os colegas não compreenderam a atitude que protagonizou em campo.

"Os meus companheiros de equipa não compreenderam a minha reação, mas ficaram chocados com o que aconteceu. Foram reações de amigos, que me tentaram acalmar. Eles conhecem-me muito bem e tentaram acalmar-me. Mas eu disse-lhes que não valia a pena e que não conseguia jogar naquelas condições", disse, recordando como começaram os insultos por parte dos adeptos que já foram os seus, já que Marega passou pelo V. Guimarães em 2016/17.

"Os insultos começaram desde o aquecimento. Ao início eram três pessoas que estavam a gritar comigo, mas depois foi o estádio inteiro. Era impossível jogar assim", referiu.

O internacional maliano mostrou-se chocado com os incidentes e só descansou e voltou a animar-se quando chegou a casa.

"Fiquei chocado. Francamente nunca pensei que isto pudesse acontecer. Tenho uma bola relação com Guimarães, é uma cidade que já me deu muito e um clube que também me deu muito. Sempre respeitei. Tenho recebido muitas mensagens de força", afirmou Marega, que recorda o momento que chegou a casa depois do dia de ontem.

"Deixei passar o momento, cheguei a casa, vi a minha filho e comecei a sorri".

A notícia acabou por fazer eco ao redor do mundo, com o caso a ser noticiado pelas televisões e jornais online.

O caso acabou por unir os protagonistas do futebol que por vezes estão tão distantes, mas que desta feita acabaram por dar as mãos.

Clubes como o Sporting de Braga, Benfica e Sporting condenaram veementemente tudo o que se passou na noite do Afonso Henriques.

Mas também fora do futebol, o caso foi muito comentado.

Dirigentes e deputados de vários partidos, incluindo os líderes do CDS-PP, da Iniciativa Liberal comentaram na redes sociais condenando os insultos dirigidos ao jogador Marega, do FC Porto.

O primeiro-ministro manifestou também a sua "solidariedade" com Marega e o "repúdio total" por atos racistas contra o futebolista do FC Porto, esperando que "as autoridades ajam como lhes compete" para impedir que voltem a acontecer. Antes, o secretário-geral adjunto do PS, José Luís Carneiro, tinha repudiado os insultos racistas de que foi vítima Marega, salientando que estes atos atentam contra a Constituição e devem ter consequências. Já o Secretário de Estado do Desporto e da Juventude, João Paulo Rebelo, em entrevista à RTP, acabou por elogiar a decisão do maliano em abandonar o terreno de jogo.

O Bloco de Esquerda (BE) interrogou o Governo sobre as consequências que vai tomar em sequências dos insultos racistas de que foi alvo o jogador do FC Porto Marega durante um encontro no domingo com o Vitória de Guimarães. Em comunicado, o BE dirigiu algumas perguntas ao Ministério da Educação e, em concreto, à secretaria de Estado do Desporto e da Juventude, e prestou a sua solidariedade para com Moussa Marega e para com “todos os que não desistem de fazer da prática desportiva uma casa da igualdade”.

O Presidente da República condenou também os insultos racistas de que o jogador do FC Porto Marega foi alvo, lembrando que a Constituição da República é muito clara na condenação do racismo, xenofobia e discriminação. O Presidente da República sublinhou que só pode “condenar, como sempre, veementemente, todas as manifestações racistas, quaisquer que sejam”.

O tónico que faltava para unir a equipa portista?

Este caso Marega, a revolta de toda a estrutura do FC Porto, incluindo jogadores, treinadores e dirigentes, quiçá não teve o condão de unir ainda mais a estrutura em torno de um objetivo e dar o empurrão final para a caminhada para o título.

Depois da partida em Guimarães, os dragões ficaram a um ponto do então líder Benfica, recuperando seis dos sete pontos de desvantagem que tinham para o conjunto encarnado.

É nestes momentos, que a 'mística' Porto, - recuperada por Sérgio Conceição diga-se - costuma entrar em ação para o lado dos portistas. O clube em momentos de adversidade cerra fileiras e foca-se no objetivo. O Benfica era derrotado na Luz, e o FC Porto tinha assim caminho para aberto para destronar o grande rival o que viria a acontecer.

O artigo 113.º do regulamento em vigor define as sanções a “comportamentos discriminatórios em função da raça, religião ou ideologia”.

Para já os “actos discriminatórios” ocorridos nesse jogo estão ainda em fase de inquérito, mas certamente os festejos do título vão passar por homenagear o momento e o grito de revolta vivido pelo dianteiro de 29 anos.

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