A Federação Portuguesa de Futebol vai decidir esta quarta-feira, 29 de junho, a polémica à volta dos troféus conquistados pelos clubes nacionais entre 1921 e 1938.

Este é um processo que começou com uma reclamação do Sporting, na altura presidida por Bruno de Carvalho, e que levou a FPF a criar, em 2018, uma Comissão Independente para a Análise dos Títulos Nacionais e que terminou na produção de dois pareceres.

Os Leões defendem que têm direito a mais quatro campeonatos. Se nenhum dos três pareceres for aprovado por maioria, mantém-se a atual categorização e respetiva contabilização dos títulos nacionais.

Na Assembleia Geral Extraordinária (AGE) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), presidida por José Luís Arnaut, estarão 84 delegados, encarregues de discutir, apreciar e votar, a partir das 17h00, os pareceres que podem reescrever a história dos títulos de campeão nacional e vencedores da Taça de Portugal.

Há dois pareceres sobre a categorização das competições nacionais que foram elaborados por investigadores de universidades de Lisboa, Porto e Coimbra.

De acordo com o jornal 'A Bola', o Parecer 1, da autoria de Amândio J. M. Barros, Manuel A. Janeira e Ricardo C. Pereira (indicados pela Universidade do Porto) e Sílvia A. C. Alves (indicado pela Universidade de Lisboa), sugere que os vencedores do Campeonato de Portugal entre as épocas 1921/1922 e 1933/1934 sejam  considerados como campeões nacionais, bem como os vencedores do Campeonato das Ligas (entre 1934/1935 e 1937/1938) que precede o Campeonato Nacional. Os vencedores do Campeonato de Portugal entre 1934/1935 e 1937/1938 devem ser reconhecidos como vencedores da Taça de Portugal.

Se este Parecer 1 for aprovado, o Sporting passará a ter mais dois títulos de campeão nacional, tal como o Benfica. Quem seria mais beneficiado seriam o FC Porto e o Belenenses, que passariam a ter mais três títulos.  Marítimo, Carcavelinhos e Olhanense passariam a ter também um título de campeão nacional nos seus palmarés.

Já sobre as  Taças de Portugal, o Sporting ficaria com mais duas, Benfica e FC Porto com mais uma cada um.

O Parecer 2, da autoria de Francisco Pinheiro (nomeado pela Universidade de Coimbra) diz que  "o Campeonato de Portugal é prova antecessora da Taça de Portugal e os Campeonatos das Ligas (I e II Liga) antecessores do Campeonato Nacional (I e II Divisão). Devem ser por isso reconhecidos como campeões nacionais os vencedores dos Campeonatos das Ligas (entre 1934/35 e 1937/1938) e como vencedores da Taça de Portugal os clubes que venceram o Campeonato de Portugal desde 1921/1922 até aos dias de hoje",  pode-se ler no parecer, divulgado por 'A Bola'.

Se este segundo parecer, mais conservador, for o mais votado, o palmarés dos títulos de campeão nacional manter-se-á inalterado, mas haverá alterações nos vencedores da Taça de Portugal.  Assim, o Sporting e FC Porto seriam os maiores beneficiados, com mais quatro taças cada, o Benfica e Belenenses surgiriam logo atrás, com três cada.  Marítimo, Carcavelinhos e Olhanense passariam também a constar como vencedores da Taça de Portugal.

Há ainda um terceiro parecer apresentado pelo Sporting, sobre a contagem dos títulos de campeão nacional que foi admitido e vai ser debatido.

Os ‘leões’, que venceram o Campeonato de Portugal em 1922/23, 1933/34, 1935/36 e 1937/38, defendem o reconhecimento destes títulos como de campeão nacional, tendo feito chegar o parecer de Diogo Ramada Curto e Bernardo Pinto da Cruz à Mesa da AG da FPF, que foi incluído para a discussão deste dia 29 de junho.

Esta competição foi ainda vencida quatro vezes pelo FC Porto (1921/22, 1924,25, 1931/32 2 1936/37), três pelo Benfica (1929/30, 1930/31 e 1934/35) e pelo Belenenses (1926/27, 1928/29 e 1932/33) e uma pelo Olhanense (1923/24), pelo Marítimo (1925/26) e pelo Carcavelinhos (1927/28).

Já o Campeonato da Liga, ou Liga Experimental, foi vencido três vezes pelo Benfica (1935/36, 1936/37 e 1937/38), depois da conquista do FC Porto no ano de estreia (1934/35).

Os delegados podem votar nas propostas de outros delegados mas não podem faze-lo na própria proposta. Se nenhum dos pareceres tiver mais votos que a rejeição ou abstenção, nada se altera, ou seja, mantem-se tudo na mesma. Ou seja, no final da AG extraordinária, poderá não haver novidades sobre a contagem dos títulos de campeão ou de vencedores da Taça de Portugal.

Os pareceres serão analisados e, nalgumas situações, serão convocadas assembleias gerais extraordinárias para consultar os respetivos sócios das associações. Noutros pareceres, a decisão será tomada pela direção da FPF.

Os clubes estão representados na AGE com delegados da Liga.

Em 2018 a FPF criou a Comissão Independente para Análise dos Títulos Nacionais (CIATN), depois de uma pretensão do Sporting, que reclamava mais quatro títulos de campeão nacional, por ter conquistado por quatro vezes (1922/1923, 1933/1934, 1935/1936 e 1937/1938) o Campeonato de Portugal, prova que teve lugar entre 1921/1922 até 1937/1938. Para os Leões, os vencedores destas provas deviam ser declarados campeões nacionais, algo que não acontece.

A 19 de janeiro de 2019, o assunto foi debatido na Assembleia da República (AR), tendo os vários grupos parlamentares considerado que o reconhecimento das edições do Campeonato de Portugal realizadas entre 1922 e 1938 é matéria, dada a sua especificidade, da competência da FPF.

O tema foi levado a debate na sessão plenária na AR sob a forma de uma petição liderada por Alexandre Silva Almeida, com 4.470 subscritores, que pretendia ver reconhecidos como títulos de campeão nacional as 17 edições do Campeonato de Portugal.