Frederico Varandas, presidente do Sporting, concedeu uma entrevista à RTP 3 onde fez um balanço dos dois meses como dirigente máximo dos 'leões'. Bruno de Carvalho, Jorge Jesus, as rescisões de jogadores, e a relação com o Benfica foram alguns dos temas abordados.

Confira as principais declarações do presidente leonino:

Governabilidade do Sporting: "Hoje o Sporting está bastante mais governável e estável do que em setembro, quando a minha equipa chegou. Se temos as condições ideais? É óbvio que não, nem seria possível em apenas quatro meses termos a estabilidade que gostaríamos."

Estabilidade: "Na vida, não acredito que nada passe do 8 para o 80. Era um processo difícil. Muitas pessoas consideravam que íamos demorar meses, anos pelas feridas criadas entre adeptos e profissionais, pelos prejuízos financeiros... A verdade é que estávamos preparados para este cenário e hoje temos uma estabilidade totalmente diferente. As pessoas que aqui trabalham percebem que há um rumo, uma exigência e um dever, que é servir o Sporting da melhor maneira. Mas essas pessoas têm de ter condições e serem bem tratadas. A estabilidade é uma condição básica e essencial para o que quer que seja, ainda mais quando temos adversários do lado de lá. Se não tivermos a nossa casa completamente estável, não nos conseguimos bater contra adversários com as suas armas, bem preparados e com estabilidade que nós não temos. Esta é a primeira base de tudo - e não é fácil. As pessoas esquecem-se - ou querem esquecer-se - como estava o Sporting em setembro. Há, hoje, trabalho sério, competente e sem ligar ao ruído e pressões. Estamos a mudar, que era o necessário".

Bruno de Carvalho era o presidente ideal: "Enquanto diretor clínico, a minha função foi sempre fazer o melhor pelo Sporting. Tive dois presidentes e o meu comportamento foi sempre igual, foi fazer com que esses presidentes ficassem o maior período de tempo possível. Se cheguei a acreditar nele? Sim... A história não se apaga. O primeiro mandato de Bruno de Carvalho tem coisas muito positivas Onde perde o pé? O início do segundo mandato... é um novo Bruno de Carvalho. Notou-se diferença para dentro e para fora".

Onde estava no dia do ataque à Academia e as rescisões: "Quando se deu, estava no meu gabinete, sim. Esse assunto já foi pisado, repisado e neste momento está nas mãos da justiça em quem confio. Eu apenas tenho a gestão desportiva desse episódio, do qual já conseguimos resolver Rui Patrício; Gelson, pelos vistos, vamos ter de ir até aos tribunais, pois o valor que o Atlético de Madrid entende como indemnização não é o valor que nós consideramos que ele tinha à data, em junho. Este é o cenário e os outros casos como Rafael Leão e o Podence em princípio caminharão para o mesmo caminho, os tribunais."

Nenhum atleta formado no Sporting em Setúbal: "Não serei tão drástico, mas obviamente estamos a pagar um ‘gap’ visível entre os sub-17 e os sub-23 que não é habitual. Esse ‘gap’ deve-se a uma política da qual discordei completamente nos últimos cinco anos, mas hoje estamos a investir forte pois a base do Sporting está aqui."

Vassourada no velho dirigismo do Benfica: "Parece que estou a ser acusado de querer incendiar nas vésperas do dérbi, e vou ser muito claro e muito direto. A razão que me levou a dizer o que disse foi o facto de já estar a ser bombardeado de perguntas sobre se me iria sentar ao lado do presidente do Benfica, como é a relação…Para não alimentar mais isto disse o que a minha equipa acha, a nossa visão. É importante ser muito claro. Eu como médico e oficial do exército, tenho os meus princípios e os meus valores, e enquanto presidente do Sporting não vou alterar ou abdicar deles. O que disse reafirmo, mas é importante perceber o que disse: Eu não misturo a instituição Benfica com os seus dirigentes, com o seu presidente. Eu e o Sporting temos o maior respeito pelo Benfica, e até digo que um clube só é realmente grande se tiver um rival, e o Benfica é o nosso histórico rival. Eu nasci pequenino a jogar futebol com os amigos em jogos Sporting-Benfica. Em Lisboa, no país, no Mundo vive-se assim. A história de Sporting e Benfica estão intimamente ligadas, eu tenho o máximo respeito pelo Benfica. Agora eu não misturo a instituição com o seu presidente, e é importante porque tudo o que veio a público nos casos do emails, e estive muito atento, e só vi acusarem quem tinha roubado e divulgado os emails, e não vi ninguém a falar do conteúdo ou a negar esse conteúdo, e isto é grave. Aqui há duas formas de estar, pois ou há falta de coragem ou falta de princípios. Nós no Sporting temos ambos."

Luís Filipe Vieira ou Benfica não foram acusados nos processo: "No E-toupeira. Existem outros casos a decorrer e vamos aguardar e ver o que vai acontecer. Uma coisa eu sei, é que aquilo não foi negado."

Vieira pode mudar ou Benfica tem de mudar de presidente para ser honrado? "Eu não me quero meter em casa de terceiros, mas as pessoas têm de perceber que isto afeta todos os clubes que disputam a I Liga, afeta o futebol português, a imagem de Portugal. Eu tenho a certeza que, tal como eu, existem pessoas que pensam assim no Benfica, não tenho a melhor dúvida. Eu tenho muitas pessoas que conheço no Benfica que não se identificam com nada nisto. Eu tenho de dizer o que penso e tenho de pensar no futebol português. Não me identifico com este dirigismo."

Palavras de Vieira em Braga: "O VAR é uma excelente notícia para a arbitragem em Portugal. Já o disse e volto a dizer que a arbitragem é muito mais livre, não estou a dizer que é perfeita, estou a dizer que é mais livre. Hoje existem erros, e vão continuar a surgir. O VAR ajuda a reduzir esses erros e muito, mas temos de ter os melhores árbitros possíveis, o que eu não posso admitir é ver um intromissão num órgão que tem de ser independente que é o Conselho de Arbitragem."

Afastamento de Fábio Veríssimo: "É uma triste coincidência haver uma paragem após um presidente de um clube dizer aquilo que disse. Foi-me garantido que nada teve a ver com o que Vieira disse. Foram-me dadas razões técnicas, que já vinham de trás... Discordei e sugeri que arbitrassem mais um ou dois jogos. À mulher de César não basta ser, é preciso parecer. Não pode acontecer um presidente de um clube não gostar de uma arbitragem e esse árbitro ser afastado. Nós, Sporting, vamos lutar para que não aconteça. A arbitragem tem de ser ajudada a ser livre e independente da esfera de influência dos 'grandes"

Condicionamento do Benfica: "Eu acho que não. Desde a Taça da Liga…Estive absorvido com outros assuntos mas acho que não. Eu já disse que quero uma cultura vencedora neste clube. Sei que há jogos em que o erro do árbitro prejudica. Este ano o Sporting já foi beneficiado. Todos os jogos em que perdemos jogos a minha equipa podia ter feito melhor, e devia…Não quero uma cultura que nos desculpabilize. Perdemos por culpa nossa e é esta cultura que quero, não quero os jogadores concentrados no erro da arbitragem pois isso acaba por desculpabilizar os nossos atletas e eu não quero isso."

Vieira disse que se traçar o mesmo caminho de Bruno de Carvalho, terá o mesmo caminho que ele: "[risos] Não me preocupo com o que os outros dizem. Fazemos o que acreditamos ser melhor e isso é defender, primeiro, o desporto, o futebol, as regras e a transparência. Isso é muito importante e não vamos abdicar disso pois é muito importante."

Que lugar ocupa o FC Porto no "velho dirigismo"? "Eu quando falo do dirigismo do Benfica refiro-me a todos os dirigismos que sejam diferentes em relação ao do Sporting. Falei do Benfica porque é um caso concreto, que está a ser julgado na justiça e esse dirigente continua aqui."

Paulo Gonçalves: "Na minha opinião é ridículo e não seria possível personalizar tudo num assessor. É ridículo numa estrutura tão bem organizada como o Benfica sempre se intitulou. É a minha opinião."

Responsabiliza BdC pela invasão e pelo Cashball? "Tudo o que sei do Cashball, sei pela imprensa. É uma herança e temos de aguardar pela justiça. Tenho - e vou - ser coerente. Se acredito na justiça para o lado de lá, tenho de acreditar para o lado de cá. São casos que estão na justiça e vou aguardar. Estou a ser sincero, só sei o que veio na imprensa. Não tenho mais informação e espero que não seja nada. Agora como presidente do Sporting assumirei o que a justiça ditar, é uma herança. Enquanto Sporting espero bem que não [que BdC não seja considerado arguido] e que nada aconteça."