O Paços de Ferreira estima que vai ter custos a mais de um milhão de euros nesta época devido à pandemia de covid-19, disse hoje o presidente do clube da I Liga portuguesa de futebol, Paulo Meneses.

Num painel sobre o manual de licenciamento nas competições profissionais de futebol, transmitido pela Liga de clubes, o dirigente realçou, a propósito da receção de sábado ao Benfica, para a 26.ª jornada do campeonato, que o clube pacense tem de gerir a presente temporada com as perdas de receita de bilheteira e de quotização, bem como os custos com os testes para o novo coronavírus.

"Neste sábado, vamos ter um jogo contra um ‘grande'. Costumávamos ter uma receita entre 500 a 600 mil euros nesses três jogos [Sporting, FC Porto e Benfica]. Se somarmos as receitas de quotização, de 200 mil euros, que não vamos ter, e os custos com os testes [para o novo coronavírus], o Paços de Ferreira vai chegar ao final da época com um custo adicional de um milhão de euros. Se souberem o orçamento do Paços de Ferreira, percebem bem o impacto", disse o líder do quinto classificado da I Liga.

Ainda sobre a pandemia, o dirigente referiu que o Paços de Ferreira se "orgulha de ter cortado 50% nos vencimentos dos seus profissionais", por entender que "não deve pagar o que um atleta quer" quando não é possível e criticou quem se dispõe a fazer "investimentos loucos" neste tempo, por entender que isso acentua a desigualdade da competição.

"No ano passado, ouvi dizer que, num cenário destes de pandemia, temos de ser controlados. Se todos os clubes tiverem condições para, numa fase de pandemia, fazerem ‘investimentos loucos', não merecem integrar o alargamento dos pressupostos para as inscrições [na Liga de clubes]", sublinhou.

Convicto de que "há novas mentalidades" e "clubes a trabalhar pela própria cabeça" no futebol português, Paulo Meneses afirmou que o dirigismo ainda precisa de uma "reciclagem", com pessoas que "acrescentem valor às suas estruturas", e que acabe com o "seguidismo" de alguns que se vê nas assembleias-gerais da Liga de clubes em certas votações.

"Nas assembleias, continua a existir o seguidismo. A Liga é alheia a isto, mas existe. Se há uma nova norma, ela vai ser aprovada segundo quem tem maior influência. Se vai ser aprovada determinada matéria, há uma série de telefonemas entre os presidentes", referiu.

O líder dos ‘castores' reconheceu que a fiscalização do incumprimento dos clubes relativamente à inscrição nas competições tem melhorado, lembrando que houve processos especiais de revitalização aprovados por credores fictícios no futebol nacional, algo que já não acontece.

Já José Maria Montenegro, um dos membros da comissão de auditoria da Liga de clubes, realçou que o escrutínio das dívidas entre sociedades desportivas, contributo para a "igualdade desportiva", deve ser alargado a negócios dos membros da Liga com clubes portugueses de escalões inferiores e até com clubes estrangeiros.

A diretora executiva da Liga de clubes, Sónia Carneiro, disse, porém, que a entidade não tem "competência legal" para escrutinar dívidas em negócios com sociedades desportivas estrangeiras e defendeu que o organismo tem "solidificado as regras" para as inscrições dos clubes, obrigando-os, por exemplo, a comprovarem que têm os salários regularizados não só para com jogadores, mas também para com treinadores e funcionários.

Já o presidente do Sindicato dos Jogadores, Joaquim Evangelista, lembrou que "ainda se aceita o acordo diferido do pagamento de operações salariais", mas enalteceu o trabalho da Liga para garantir o saneamento dos clubes e pediu um esforço no sentido de o futebol ganhar "credibilidade" e ser visto como "exemplar" pela sociedade.