Quando no dia 25 de janeiro deste ano, Sérgio Conceição coloca o lugar à disposição, muito não acreditariam no que acabaria por suceder alguns meses volvidos.

Na ressaca da derrota com o SC Braga, o técnico dos azuis e brancos colocou o lugar à disposição de Jorge Nuno Pinto da Costa, queixando-se na altura de falta de apoio da estrutura portista.

Especial Campeão 2019/2020: saiba tudo sobre o título do FC Porto

No terceiro ano à frente do clube, Sérgio Conceição analisou o que tinha sido o seu percurso até então: "É difícil trabalhar em determinadas condições. No primeiro ano sem reforços e sem dinheiro. No segundo, falta de verdade desportiva. E neste ano sem união dentro do clube. Fica difícil... Neste momento o meu lugar está à disposição do presidente", referiu na flash após a partida.

O início de Conceição no FC Porto

Tudo começou no dia 3 de junho de 2017. Sérgio Conceição assumia o comando técnico do FC Porto.

Sérgio Paulo Marceneiro Conceição chegava ao azuis e brancos depois de ter orientado o Olhanense (duas temporadas), a Académicas (duas temporadas), SC Braga, V. Guimarães e Nantes.

Logo no dia da apresentação deixou uma frase forte, que resume a postura que iria ter enquanto timoneiro dos azuis e brancos.

"Não vim para aqui para aprender, venho para ensinar. Sou treinador do Futebol Clube do Porto", disse.

De temperamento forte e fiel à suas ideias conseguiu devolveu o FC Porto ao título logo no primeiro ano enquanto timoneiro dos Dragões. E Isto num contexto de fair-play financeiro, em que os dragões tiveram que apertar o cinto, não se reforçando convenientemente e a serem obrigados a apostar em parte no que estava em casa.

Conceição também imprimiu uma marca goleadora nesta equipa azul e branca, que durante o seu reinado tem sido conseguido sempre chegar à centena de golos. Foi mesmo o único técnico, com o Dragão ao peito, a repetir o feito neste século. 119 golos marcados em 2017/18, 128 em 2018/19 e também este temporada a equipa já superou a centena de golos.

No ano de estreia saboreou logo o título de campeão nacional

Logo em ano de estreia, o FC Porto sagrou-se campeão nacional, colocando um travão no sonho do penta do Benfica. Os azuis e brancos estabeleceram ainda um novo máximo de pontuação no campeonato: 88 pontos.

Veio a segunda conquista do técnico em agosto. Os dragões venceram o Aves em Aveiro conquistando a Supertaça Cândido de Oliveira.

A segunda temporada foi amarga para os azuis e brancos. O FC Porto chegou a ter sete pontos de vantagem do Benfica, em janeiro de 2019, altura em que Bruno Lage rendeu Rui Vitória no comando técnico dos portistas.

Contudo, foram os dragões a deixarem escapar a vantagem e a permitirem a recuperação do rival. Amarga acabou por ser ainda a derrota na Taça da Liga (meias-finais) e na final da Taça de Portugal frente ao Sporting, encontro, este último, que acabou por ser desempatado nas grandes penalidades.

Já esta temporada não começou de feição para o FC Porto e o Benfica parecia aparentemente lançado para o título. Contudo, os azuis e brancos acabaram por recuperar, tal como o Benfica o havia feito no ano anterior, de uma desvantagem de sete pontos, para depois ultrapassar o rival, perante o terramoto que culminou na saída de Bruno Lage.

À procura de quebrar o recorde de Pedroto

Foi já esta temporada que Sérgio Conceição atingiu a centésima vitória no banco dos dragões. O técnico portista igualou Artur Jorge como o treinador mais rápido a atingir esses números.

No campeonato, Sérgio Conceição soma cerca de 98 jogos à frente dos azuis e brancos (rever números): 78 vitórias, 12 empates e oito derrotas. Com a equipa a marcar 218 golos e a sofrer 56.

Conceição poderá ser o dono da cadeira de sonho dos dragões por muitos e bons anos, assim o queira. O técnico de 45 anos poderá mesmo ir à atrás do recorde de Pedroto que conseguiu estar 321 jogos à frente dos dragões.  Já leva 160 partidas como técnico do FC Porto.

As polémicas e a resposta pronta na ponta da língua

Com uma forma de estar muito própria, Sérgio Conceição nunca se escusou a dizer o que lhe vinha na alma, fosse na relação com colegas, jogadores ou jornalistas.

Uma resposta a um jornalista numa conferência e imprensa após um jogo da Liga dos Campeões é disso exemplo.

Veja o vídeo

Contudo, também em outras situações se mostrou solidário em relação aos colegas de profissão com foi o caso de Bruno Lage, ainda recentemente.

"Temos o nosso trajeto e percurso. Sinceramente, e vocês não assistem, no balneário não se fala disso. Estamos focados, temos bom espírito, seriedade e consciência das dificuldades até ao fim, para ganhar dois títulos importantes. Agora, não gosto da forma como está ser discutido Bruno Lage, Não gosto. Mas faz parte deste mediatismo todo do futebol. Não gosto de ver um colega de profissão, seja quem for - o Lage, o Pepa, o Manta - a ser assim tratado. São treinadores e meus colegas de profissão", referiu na conferência de imprensa, de antevisão do jogo com o Paços de Ferreira.

O fantasma do fair-play financeiro e até que ponto poderá condicionar a continuidade de Conceição

O fantasma do fair-play financeiro voltou este ano a assolar o FC Porto à semelhança do que sucedeu nas temporadas anteriores.

A SAD do FC Porto, recorde-se, apresentou um resultado líquido consolidado negativo de 51,854 milhões de euros (ME) no primeiro semestre da época desportiva 2019/20, resultado que foi justificado pela qualificação falhada para a Liga dos Campeões de futebol.

A falta de receitas, agravada pela pandemia da COVID-19, exigirá que o FC Porto seja obrigado a vender no final da temporada para não cair nas malhas do fair-play financeiro. Os dragões estão sob alçada da UEFA ao somarem prejuízos sucessivos nas suas contas.

Até quando Conceição?

O técnico dos dragões já se queixou de que não tem as mesmas armas que o maior adversário no que diz respeito à capacidade para reforçar o plantel. Também poderá haver algum desgaste pela forma como Conceição sempre defendeu a equipa, dando o 'corpo às bolas'. Foi sempre ele praticamente a única voz ativa na estrutura portista, Qual será o futuro do técnico, face ao possível regresso de Jorge Jesus na próxima época e de um Benfica reforçado.  Fica ou ruma a outras paragens onde poderá tentar uma aventura internacional? Só o tempo o dirá.

Especial Campeão 2019/2020: saiba tudo sobre o título do FC Porto