Mesmo demonstrando alguma superioridade sobre os adversários no campeonato nacional, o Benfica tem tido muita dificuldade em impor-se e no domingo voltou a perder pontos frente ao Farense. São 15 pontos agora que separam o Benfica do primeiro classificado Sporting. Se à primeira vista os encarnados parecem fora da luta pelo título, também um possível 'mal menor' com o assegurar de um lugar de acesso Champions pode estar comprometido, caso a equipa não responda nos próximos jogos. O SC Braga está já a quatro pontos de distância e o FC Porto em caso de triunfo pode cavar já uma vantagem de cinco pontos para os encarnados.

Álvaro Magalhães representou o Benfica durante nove temporadas enquanto jogador. Em 2004/05, como adjunto de Giovanni Trapattoni conquistou o campeonato nacional no primeiro título de Luís Filipe Vieira enquanto presidente das águias. Com 15 pontos de desvantagem para o primeiro lugar e com 14 jogos por disputar, o antigo defesa vê já o clube da Luz a correr por fora na luta pelo título.

"Só uma catástrofe faria com que o Benfica pudesse ganhar o campeonato. Ainda há mais jogos, os primeiros ainda vão jogar entre eles, mas o Sporting com a vantagem que leva é a equipa que está em melhores condições para ganhar o campeonato. Esta distância leva a querer que o Benfica não tem condições para chegar ao primeiro lugar", começou por dizer em declarações ao SAPO Desporto.

"Face ao enorme investimento feito na equipa, Álvaro Magalhães aguarda por explicações por parte de alguém da estrutura perante uma temporada que tem estado muito abaixo das expetativas. E nem o surto de COVID-19 que assolou a equipa pode servir como desculpa.

"Estamos à espera de uma explicação plausível por parte de quem investiu mais de 100 milhões no plantel para que a equipa se sagrasse campeã. As coisas não estão a correr como se desejaria e não é só o COVID...É tudo um pouco. Alguém da estrutura terá que explicar porque é que as coisas não correram tão bem este ano. O objetivo era ganhar tudo. Estamos à espera que nos expliquem porque é que as coisas falharam", refere, lembrando que terá que haver uma assunção dos erros por parte da estrutura diretiva: "Quem anda no futebol e que passou pelo clube e tem essa experiência sabe perfeitamente que há falhas e as falhas têm que ser assumidas pela estrutura que investiu o dinheiro que investiu", afiança, lembrando que por vezes é importante que o presidente possa tomar da palavra e assim transmitir um voto de confiança.

"Como ex-jogador e ex-treinador do Benfica há alturas em que é necessário que o presidente tome da palavra. Felizmente no meu tempo muitas vezes os problemas eram resolvidos pelos treinadores e pelos jogadores. Eram atletas na altura com personalidade muito forte e nós sabíamos resolver os problemas dentro de quatro paredes", recorda.

Sobre a construção do plantel, o técnico considera que houve alguns 'erros de casting' na aquisição de alguns jogadores. "Há jogadores que se percebe que não têm qualidade, há outros que estão com dificuldades de adaptação à realidade e à pressão...Neste momento não há público senão as coisas seriam talvez ainda mais complicadas. Mas há jogadores com muita qualidade, o Benfica tem um plantel recheado, mas se calhar nalgumas posições não contrataram bem face às necessidades da equipa", analisa.

Com a equipa num momento de menor fulgor, os avançados também se têm ressentido e o Benfica não marcou um só golo frente a uma equipa que não tinha até agora conseguido manter a baliza em branco ao cabo de 19 jornadas. Para Álvaro Magalhães não há milagres para curar esta falta de veia goleadora, já que existe "matéria prima" para que a equipa renda mais.

"Nem sempre as coisas correm como os avançados querem, apesar de haver qualidade. Como a bola não entra...e ontem o Benfica teve algumas oportunidades de golo e em outros jogos também. Mas não é só a bola não entrar, a nível exibicional a equipa não se tem apresentado da melhor forma. Penso há matéria prima para se jogar mais, agora quando as coisas não correm bem, os avançados perdem confiança. Tem que se tentar controlar a parte emocional para que eles se sintam mais confortáveis. Acontece a todos os avançados, há momentos em que estão várias jornadas sem marcar e o Benfica também está a viver essa infelicidade. Criam-se oportunidades mas não se marca", observa.

Com o Benfica em crise de resultados, Álvaro Magalhães não considera prudente falar numa possível saída do treinador, até porque Jesus não pode ser visto como o único culpado pelos maus resultados.

"É um época atípica, evidentemente que quando os resultados são bons ganham todos, mas quando os resultados são menos bons, quem perde é sempre o treinador e não pode ser assim (...) Nesta altura penso que se deve aguentar o barco e depois no final da época, quem dirige o clube terá que fazer um reflexão e tomar uma posição", analise. Apesar de reconhecer que o treinador está neste momento numa posição mais frágil, considera que Luís Filipe Vieira não deve tomar uma posição mais extrema até porque Jesus também viveu uma fase menos boa ao serviço do Benfica e conseguiu virar a maré.

"Jorge Jesus na primeira passagem pelo Benfica também esteve umas épocas sem ganhar e teve o voto de confiança do presidente e acabou por vencer mais dois campeonatos. Essa decisão está nas mãos de quem lidera. Temos que respeitar quem está à frente do clube e respeitar as ideias do treinador. Mas é verdade que o treinador neste momento está fragilizado", lembra.

Com o primeiro lugar praticamente fora de órbita, o antigo defesa defende que o objetivo terá que passar obrigatoriamente pela conquista de um título, no Taça de Portugal ou Liga Europa. Fundamental será mesmo assegurar um lugar na próxima edição da Liga dos Campeões. Uma coisa é certa, a camisola terá que ser honrada até ao fim.

"Até final os jogadores têm que honrar a camisola que vestem. Têm que ser eles a dar uma abanão naquilo que está menos bem. São eles os responsáveis, são eles que treinam e jogam. E os jogadores sabem que quando entram em campo têm que dar o máximo. Já que o campeonato está perdido, ainda há a Taça de Portugal e Liga Europa e tem que se lutar por esses objetivos. Os jogadores têm que ser guerreiros e sentir o que é a camisola do Benfica. A mística do clube é muito própria. Será necessário assegurar um título. A Champions é fundamental, é muito importante o clube estar nessa competição, também em termos financeiros", termina.