O ex-futebolista Augusto Inácio, amigo e colega de equipa de Jordão, considerou hoje ter sido “um privilegiado” no convívio que manteve com o antigo avançado do Sporting, um “homem especial”.

“No dia-a-dia tinha um mundo muito próprio, muito dele, não deixava aproximar-se qualquer um (…) e eu era um dos privilegiados. Sempre nos demos bem, muitas vezes íamos jantar juntos, notava-se bem que era um homem especial, a abertura dele para fazer amigos tinha que ser com alguém de quem gostasse muito”, lembrou Inácio à agência Lusa.

O antigo defesa e atual treinador lembrou que esteve há pouco mais de uma semana com Jordão, com o antigo jogador já hospitalizado, e que recebeu das suas mãos um livro de gravuras, ilustrativo da sua paixão pela pintura.

“Estava a dizer-me: olha o mundo onde estive depois do futebol. E fez-me uma dedicatória”, lembrou Inácio.

Nos relvados, Inácio, que coincidiu com Jordão na seleção e no Sporting, lembrou um jogador “ímpar no futebol português” e que abriu caminho na qualificação portuguesa para o Europeu de 1984, no qual haveria de ser “um dos melhores”.

“Marcou a diferença no futebol português, lembro bem o penálti contra a Rússia, no Estádio da Luz, que nos daria a qualificação para o Europeu de 1984. Estádio completamente cheio e ganhámos por 1-0 à Rússia e fomos ao Europeu. A frieza com que encarava as coisas”, assinalou.

A morte hoje de Jordão, aos 67 anos, no Hospital de Cascais, onde estava internado em consequência de problemas cardíacos, acabou por surpreender Inácio, depois de uma última visita que lhe deu alguma esperança.

“Estive há 10 dias no hospital, parecia que estava a querer recuperar e estava bem disposto. Sempre que a gente se encontra não conseguimos parar de rir. Saí dali com a perspetiva que o meu amigo Jordão estava a recuperar”, disse.

O antigo jogador, natural de Benguela, destacou-se no Benfica, clube no qual iniciou a carreira, em 1971/72, e no Sporting, tendo disputado 43 jogos pela seleção portuguesa e marcado 15 golos, dois dos quais no Europeu de 1984, no qual Portugal foi eliminado nas meias-finais.

Jordão, que jogou também no Saragoça e no Vitória de Setúbal, onde terminou a carreira, em 1988/89, foi melhor marcador do campeonato português nas épocas 1975/76 e 1979/80, tendo conquistado seis títulos de campeão nacional, três Taças de Portugal e uma Supertaça portuguesa.