Era preciso recuar até 2001, para encontramos um Natal com o Sporting líder isolado do campeonato. Nessa época (2001/2002), o Sporting chegava ao final da 16.ª jornada - a última antes do Natal – na 1.ª posição com 33 pontos, mais um que o Boavista, campeão do ano anterior.

E dizemos 'era' porque, bem… já não é. Tudo graças à vitória da noite passada tirada a ferros frente ao Farense (1-0). O penálti convertido com sucesso por Sporar aos 90+1 garantiu que o Sporting passa a consoada com pelo menos mais duas rabanadas que o segundo classificado o Benfica, sendo a estrela mais alta da árvore da Primeira Liga.

O jogo: Desinspiração

Metáforas natalícias à parte, os onzes apresentados pelos dois técnicos não tinham muitas mudanças quando comparados com os últimos apresentados na I Liga.

Rúben Amorim fez regressar Nuno Mendes à titularidade, depois da sua lesão frente ao Mafra ter feito temer uma nova paragem. Comparado com o último onze para a I Liga, frente ao Famalicão, o técnico mudou mais uma peça além da entrada do jovem defesa: Tiago Tomás entrou para a frente do ataque leonino, ocupando o lugar de Sporar, que se viu relegado para o banco depois de quatro partidas consecutivas na I Liga em que entrou de início.

Do lado do Farense, Sérgio Vieira apostou no mesmo onze que venceu o Marítimo na segunda jornada, naquela que foi a segunda vitória do conjunto algarvio esta época.

O Sporting entrou da forma a que já tem habituado esta época, com iniciativa e fome de golo, mas ao contrário de outros jogos, os leões – mesmo com bola e passando boa parte do tempo virados de frente para a baliza algarvia – tinham dificuldades em criar verdadeiras jogadas de perigo, acabando por ver as suas tentativas de sair a jogar bloqueadas pelo Farense que foi a Alvalade com a lição bem estudada.

Os algarvios cortavam os caminhos aos verde e brancos: nem pelas alas, nem pelo interior o Sporting conseguia criar perigo, com os jogadores do Farense sempre em cima, o que impedia que o emblema de Alvalade conseguisse criar oportunidades, apesar da elevada posse de bola que ia somando nas estatísticas.

Mesmo passando boa parte do tempo sem bola, quando a tinha o Farense aproveitava e foi mesmo dos algarvios o primeiro lance de perigo da partida quando aos seis minutos Ryan Gauld, ex-jogador do Sporting, obrigou Adán à primeira defesa do jogo, naquele que foi o primeiro remate enquadrado da partida.

Muita parra, pouca uva: é assim que se pode descrever a primeira parte do Sporting que tinha muita bola, mas pouco perigo criava, dando até algumas indicações de uma falta de ‘gás’, com muitos passes normalmente realizados com sucesso pelos leões a acabarem muitas vezes a sair para fora de campo. Os leões de Faro, bem organizados, iam aproveitando e aos 45+1’ voltaram a ficar perto do golo quando, após passe de Hugo Seco, Gauld voltou a testar os reflexos de Adán.

Ainda antes do intervalo, o Sporting conseguiu cheirar o golo, quando aos 45+2’ Tiago Tomás, após passe de Pedro Gonçalves, atirou em cheio ao poste da baliza de Defendi, naquela que foi a grande oportunidade de golo no primeiro tempo.

A segunda metade começou sem mexidas, quer nas equipas, quer no jogo que se via no relvado de Alvalade: o Sporting tentava, mas não conseguia fazer uma jogada com cabeça, tronco e membros contra um Farense que se mantinha bem organizado. A primeira jogada coletiva do Sporting a fazer lembrar outras jornadas desta época surgiu aos 52 minutos quando Nuno Santos lançou Pedro Gonçalves na direita que, no interior da área, rematou, mas viu Defendi defender.

Aos 57’, Bruno Tabata entrou para o lugar de Nuno Mendes, com Nuno Santos a ocupar o lugar do jovem leão, uma mudança que deu outro folgo ao Sporting. Os leões de Lisboa passaram a criar mais perigo, com várias incursões na grande área do Farense. Apesar das mudanças terem melhorado a equipa, o Sporting continuava a realizar uma exibição sofrível, uma das piores da época com muita desinspiração leonina. O Farense, que vinha batendo o pé ao líder ia-se aguentando, mas notava-se um decréscimo na performance da equipa liderada por Sérgio Vieira, que muitas vezes se viu obrigada a recorrer à falta para evitar males maiores, “dando” livres perigosos aos leões.

Foi de um desses livres que o lance que tudo mudou surgiu. Após a marcação de um livre por Nuno Santos, aos 86 minutos, Defendi atingiu Feddal, com o árbitro André Narciso a considerar que houve falta do guardião e a apontar para a marca de 11 metros. O guarda-redes do Farense viu o segundo amarelo e foi Hugo Marques que entrou para tentar evitar o golo sportinguista, mas no frente-a-frente com Sporar (entrou aos 80 minutos), o esloveno levou a melhor e garantiu a vitória leonina.

Depois do apito final, ainda se viveu um breve momento de tensão no relvado, após Nuno Santos ter tido uma atitude que não agradou à equipa do Farense que de imediato pediu satisfações ao jogador, obrigando alguns elementos do banco do Sporting a acalmar os ânimos.

Foi sem dúvida uma exibição desinspirada da equipa de Rúben Amorim, que acaba com um resultado muito melhor que o que fez em campo. Pode-se falar em estrelinha?

O melhor: Farense bate o pé aos melhores

Na Luz marcou dois golos, em Braga só perdeu nos últimos instantes e em Alvalade também não facilitou nada a vida aos da casa. Depois de defrontar outros dois emblemas do top 5 da I Liga, a equipa da capital algarvia foi a casa do líder com a lição bem estudada, fechou (quase) todos os caminhos para o golo leonino e acaba por sair de Alvalade com a derrota já ao cair do pano, que deixa sabor amargo.

O pior: Há dias assim…

Não há como nega-lo: esta foi uma das piores prestações leoninas esta época. Apesar de ter muita posse de bola, o Sporting não conseguiu criar verdadeiro perigo e só na segunda parte se começou a ver vislumbres do que esta equipa já mostrou ser capaz. Foi uma vitória arrancada a ferros para os discípulos de Amorim.

Momento: Minuto 90+1 - Penálti e golo de Sporar

Quando tudo parecia encaminhado para o empate, eis que surge o momento que tudo muda. O penálti marcado por Sporar não só garantiu os três pontos, como assegurou a liderança isolada do campeonato no Natal, uma época que não tem sido de boa memória para os lados de Alvalade nos últimos anos. Desde 2001 que o Sporting não passava a consoada sozinho na liderança e já sabemos como terminou a época…

Reações

Filipe Melo: "Apenas podemos controlar o nosso trabalho

Sérgio Vieira: "Nós temos de melhorar, mas as equipas de arbitragem também"

Rúben Amorim: "Hoje não foi o melhor dos nossos dias, mas houve trabalho"

Emanuel Ferro: "Resultado mais do que merecido"

Luís Neto: "Acho que o penálti foi bem assinalado, o VAR tem feito um excelente trabalho"

Resumo