Quando acontece uma vez talvez se possa dizer que é sorte. Quando acontece duas, três ou quatro é porque não é fruto do acaso. O Benfica recuperou de uma desvantagem no marcador pela quarta vez esta temporada. Em duas delas, a perder por dois golos de desvantagem (ambas frente ao Rangers) logrou dois empates (3-3 em casa e 2-2 fora), noutras duas (frente ao Marítimo, na última jornada e, agora, frente ao Paços) acabou por vencer por 2-1 depois de se ver a perder por 1-0. E, pela segunda vez nesses quatro jogos, marcou no período de descontos, no último suspiro.

Há, pois, que receber esse mérito à equipa de Jorge Jesus: acredita até ao fim, confia no seu valor e sabe - umas vezes com mais coração, outras com mais cabeça - reagir à desvantagem no marcador (e até na derrota caseira com o Braga ficou à beira de recuperar, também ao cair do pano, ficou à beira de recuperar de três golos à menor). E outro mérito - que não estará totalmente dissociado do primeiro - também tem: sabe tirar proveito da qualidade dos jogadores que tem no banco de suplentes, numa época de muitos milhões de investimento.

Mas os méritos, pelo menos nesta receção ao Paços de Ferreira, ficam-se por aí. É que os forasteiros mostraram ter a situação mais ou menos controlada e souberam (quase) sempre contrariar as águias. Invicta desde o início de outubro à entrada para esta deslocação à Luz, a turma de Pepa fez o Benfica suar (e muito), mostrou o porquê dessa série de invencibilidade (agora quebrada) e talvez não merecesse tão duro golpe no derradeiro lance do encontro, desferido por uma dupla que Jorge Jesus fez entrar no decorrer do jogo: Gabriel assistiu, Luca Waldschmidt cabeceou certeiro, e o Benfica somou três pontos importantíssimos, que o aproximam do topo depois do deslize do Sporting na véspera, em Famalicão.

O Jogo: Alemão com cabeça para a vitória em noite de pouca inspiração encarnada frente a um Paços com muita personalidade

Com o Benfica numa série de dois jogos por semana, depois da vitória de quinta-feira sobre o Lech Poznan Jorge Jesus. Optou por refrescar o miolo, apostando nos regressos de Julian Weigl e Adel Taarabt à titularidade (teve também de tirar Grimaldo do 'onze', lesionado no aquecimento...que falta faz o espanhol a esta equipa). E se os primeiros sinais foram bons, com a primeira oportunidade do jogo a pertencer às 'águias' logo nos minutos iniciais, não aproveitada por Darwin, depressa se percebeu, à medida que o Paços ia crescendo e começando, também ele, a criar perigo, que o conjunto da casa ia ter uma noite difícil.

O (fantástico) golo de Oleg Reabciuk à passagem do minuto 24, num fantástico remate de primeira, de pé esquerdo, sem deixar a bola cair, na 'ressaca' de um pontapé de canto afastado a soco por Vlachodimos, veio confirmá-lo. O Paços até podia ter elevado a contagem logo depois e só perto do intervalo o Benfica reagiu e ameaçou o golo, sem sucesso.

Jorge Jesus percebeu que era preciso algo diferente para a segunda parte e lançou Gabriel e Seferovic para os lugares de Weigl e Pizzi. O Paços, porém, continuava a mostrar (muita) personalidade. Com uma admirável arrogância, parecia até mais disposto a procurar o 2-0 do que a defender a vantagem mínima. E foi numa tentativa de sair rápido para o ataque que uma perda de bola permitiu a Rafa, numa boa combinação com Gabriel, restabelecer a igualdade.

O 1-1 motivou o Benfica, que pouco depois criou mais dois lances de perigo. Seferovic, isolado, mostrou pontaria a menos e não acertou na baliza, Darwin (num dos poucos lances em que se mostrou no jogo) trabalhou bem, mas mostrou pontaria a mais e disparou contra a trave.

A bola não entrou aí, os minutos passaram e nos instantes finais o Paços de Ferreira até estava a ser mais perigoso e a ameçar voltar a marcar. Só que o Benfica tem armas que a maior parte dos seus rivais não têm. Uma delas é poder fazer entrar jogadores como Gabriel (custou 9 milhões de euros na época passada) e Luca Waldschmidt (custou 15 milhões esta época) quando as coisas não estão a correr bem. Ao todo, 24 milhões de euros que, numa noite de desinspiração quase geral, fabricaram o golo de uma vitória que teve tanto de importante como de motivadora.

O Momento: Waldschmidt, o salvador

Minuto 90+4. Joga-se o derradeiro minuto dos quatro de compensação concedidos por Rui Costa, árbitro do encontro. O Paços acaba de desperdiçar uma boa oportunidade. O Benfica marca rápido o pontapé de baliza, tentando, em desespero, aproveitar os últimos segundos da partida. A bola chega a Gabriel. E o brasileiro, com um cruzamento com conta, peso e medida, encontra a cabeça de Luca Waldschmitd na área. O alemão desvia para o fundo das redes. Euforia de um lado, desilusão total do outro. O resultado ficava definido no último lance da partida.

O Melhor: Paços sempre a tentar jogar e um Benfica que teve cabeça quando jogou com o coração

O Paços realizou no Estádio da Luz uma exibição plena de personalidade. Com um futebol vertical, mas com ideias bem definidas e excelente entendimento entre os seus jogadores, nunca jogou só para defender. Nem quando vencia por 1-0, nem nos minutos finais, quando outros pensariam em segurar um ponto na visita a um grande. Os 'castores' tentaram sempre ganhar e podiam muito bem ter sido felizes...mas talvez isso lhes tenha custado caro...

O Benfica esteve longe de fazer uma exibição brilhante. Criou algumas ocasiões de golo, é verdade, podia ter marcado primeiro, mas esteve longe da qualidade exibicional com que os adeptos contariam ao fim de 15 jogos oficiais disputados, neste regresso de Jesus. Mas - e isso não se pode apontar aos jogadores encarnados - a turma da Luz voltou a mostrar coração. E, mesmo jogando nos minutos finais (em que já era notório algum desespero) mais com o coração do que com a cabeça, acabou por chegar à vitória...curiosamente, de cabeça...

O Pior: Muita gente desinspirada nas 'águias'

O Benfica ganhou, mas não brilhou. Longe disso. E foram muitos os jogadores que estiveram muitos furos abaixo daquilo que já demonstraram e que todos sabem ser capazes. E a sobrecarga de jogos não pode justificar tudo. O próprio Jesus apontou os nomes daqueles que não corresponderam. Everton Cebolinha mal se viu em campo, Pizzi e Weigl saíram ao intervalo depois de pouca inspiração nos primeiros 45 minutos e o próprio Darwin Nuñez (tirando o rasgo do lance em que acertou na trave), esteve anormalmente trapalhão e ineficaz (perdeu um golo que não costuma falhar logo a abrir).

Estatísticas e curiosidades

- O golo de Waldschmidt ao cair do pano ditou a 18.ª derrota consecutiva do Paços de Ferreira nas visitas ao Benfica em jogos para a I Liga. Ao todo, foi a 24ª vitória das 'águias' em 26 receções aos 'castores'.

- O Benfica somou a terceira vitória consecutiva no conjunto de todas as competições (depois de uma série de cinco jogos em que apenas tinha somado uma); o Paços viu travada uma sequência de seis jogos sem ganhar no conjunto de todas as provas, cinco deles para a I Liga.

- O Benfica já leva seis golos marcados por jogadores vindos do banco esta temporada na I Liga portuguesa. Quer isto dizer que quase 30% (28,6%, mais exatamente) dos 21 golos já marcados pelos 'encarnados' na prova esta época foram assinados por suplentes.

As reações

Jorge Jesus: "Notou-se alguma falta de frescura, mas conseguimos dar a volta"

Jorge Jesus: "O VAR não sabe o que é contacto, sabe o que é unha e cabelo, não sabe o que é um contacto normal"

Pepa: "Perdemos o jogo porque o quisemos ganhar"

Waldschmidt: "Tivemos de recuperar de uma desvantagem e lutámos até ao fim"

Oleg: "Perder assim custa, mas se continuarmos a jogar assim vamos ganhar muito mais do que perder"

O Resumo

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