Dois dias, quatro jogos, oito seleções. Os quartos de final deste Campeonato do Mundo, agendados para esta sexta-feira e sábado, deixam antever grandes duelos na luta pela continuidade na Rússia. Entre candidatos ao título e ‘outsiders’, futebol puro e duro e rigor tático, oito equipas vão dar tudo para garantir um lugar meias-finais.

Com uma certeza: a Europa, que colocou seis seleções nesta fase da prova, já garantiu pelo menos uma formação na final, como aconteceu nas 10 anteriores edições realizadas no velho continente. Entre a anfitriã Rússia, a Croácia, a Suécia, finalista vencida em 1958, e a Inglaterra, campeã em 1966, sairá um dos finalistas, com o outro a poder ser também europeu (França ou Bélgica) ou da América do Sul (Brasil ou Uruguai).

Uruguai-França – 6 de julho, 15h (Sport TV)

Uruguai e França vão discutir o primeiro lugar nas meias-finais, num jogo que será motivo de encontro entre vários jogadores que são igualmente colegas de equipa. Começando logo pelas duas estrelas de parte a parte: Cavani e Mbappé. Os dois avançados são companheiros no PSG e foram decisivos nos respetivos jogos dos oitavos de final – o primeiro ‘despachou’ Portugal com dois golos, o segundo também bisou na partida que ditou a eliminação da Argentina de Lionel Messi.

Mas há mais. Para seguir para as meias-finais, Antoine Griezmann, outra das esperanças dos ‘Les Bleus’ neste Mundial, terá de ‘voar’ sobre os colegas Giménez e Godín, habitual dupla de centrais do Atlético de Madrid e da seleção uruguaia. E ainda há Luis Suárez, também ele uma referência do ataque ‘celeste’, que terá pela frente Umtiti, central francês com quem partilha o balneário no Barcelona.

Mbappé celebra golo pela seleção francesa
Mbappé, a estrela dos 'Les Bleus' créditos: EPA

O Uruguai chega a esta fase depois de ter eliminado Portugal nos oitavos de final, onde comprovou (se é que era preciso) o seu futebol extremamente eficaz: cinco remates (três deles enquadrados) e dois golos. O tento de honra de Pepe foi também o primeiro sofrido pela equipa de Óscar Tabarez na competição. A grande preocupação prende-se com Cavani: o avançado sentiu dores musculares no jogo com a equipa das quinas e teve mesmo de ser substituído, estando em dúvida para o embate com a França.

Por falar em França, a vitória (4-3) sobre a Argentina nos ‘oitavos’ mostrou toda a qualidade técnica e velocidade que caracterizam a formação de Didier Deschamps, mas também algumas fragilidades defensivas. Com o orgulho ferido pela final perdida no Europeu de 2016, frente a Portugal, os gauleses querem redimir-se e contam com a inspiração de jogadores como Mbappé, Griezmann, Giroud ou Dembélé para avançarem na competição. Contra o Uruguai, a seleção francesa não vai poder contar com o médio Matuidi, que está castigado.

Brasil-Bélgica – 6 de julho, 19h (RTP1 e Sport TV)

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Possivelmente o jogo mais apetecível destes quartos de final. De um lado, o futebol em estado puro da seleção brasileira, do outro a organização tática da Bélgica, que também detém o melhor ataque da prova - 12 golos. A equipa de Tite só pensa no ‘hexa’, mas ainda chegou a tremer na fase de grupos: começou com um empate com a Suíça, venceu a Costa Rica com dois golos ao cair do pano, mas acabou por encarreirar diante da Sérvia (2-0) e, já nos oitavos de final, ao vencer sem dificuldade o México.

Neymar, tal como a seleção que representa, começou o Mundial apagado mas soltou-se finalmente com os mexicanos (soma até ao momento dois golos) e promete ser uma das figuras da ‘Copa’. Pela positiva e pela negativa, a avaliar pelas constantes queixas em campo. Philippe Coutinho e Willian também têm estado em bom plano numa equipa repleta de talentos individuais – não esqueçamos, também, Firmino e Gabriel Jesus – e que começa a mostrar argumentos para alcançar o sexto Mundial da sua história.

A reação de Neymar após o lance com Layún
Neymar tem sido um dos protagonistas deste Mundial. Pela positiva e pela negativa créditos: EPA/WALLACE WOON

Para isso, terá de superar uma Bélgica letal, também ela com uma panóplia de jogadores evoluídos tecnicamente e muito criativos, e apoiada numa ideia de jogo de posse e ataque apoiado. Após o pleno de vitórias na fase de grupos, a equipa de Roberto Martínez suou e sofreu para vencer o Japão por 3-2, isto depois de ter estado a perder por 2-0. As transições defensivas parecem ser o ponto fraco desta Bélgica, que tem jogado num sistema de três defesas, e a equipa de Tite certamente vai querer tirar proveito disso.

A comandar as hostes está um 'endiabrado' Romelu Lukaku, melhor marcador da equipa com quatro golos, mas há também o génio de De Bruyne, Hazard e Mertens, por toda a qualidade que oferecem no corredor central. Motivos mais do que suficientes para não perder pitada deste Brasil-Bélgica.

Suécia-Inglaterra – 7 de julho, 15h (Sport TV)

O primeiro duelo europeu destes quartos de final apresenta-nos uma das grandes surpresas deste Mundial. Ou será mesmo uma surpresa? Vejamos: a Suécia da era pós-Ibrahimovic deixou para trás a Itália no play-off, sobreviveu a uma fase de grupos com México e Alemanha, com a campeã em título a cair precisamente nesta etapa, e eliminou a Suíça nos oitavos de final. Há 24 anos que os nórdicos não chegavam tão longe na prova.

Apoiada num futebol direto e numa grande coesão defensiva, a seleção comandada por Jan Andersson conta com a qualidade técnica e pontaria afinada de Emil Forsberg, Andreas Granqvist, autor de dois golos nesta edição, e Marcus Berg, melhor marcador da fase de qualificação.

Já a Inglaterra chega a esta fase depois de quebrar uma maldição — foi a primeira vez que a seleção dos ‘três leões’ levou a melhor no desempate por grandes penalidades num Mundial. Foi assim contra a Colômbia, depois de um empate a um golo que não desatou nem mesmo no prolongamento. Na fase de grupos somou apenas uma derrota, diante da Bélgica (1-0), num jogo em que as duas equipas já haviam selado o apuramento, tendo ainda vencido a Tunísia (2-1) e goleado o Panamá (6-1).

Mundial 2018, oitavos de final: Colômbia - Inglaterra
Ingleses celebram o penálti de Dier e a passagem aos quartos de final créditos: epa06862518

Comandada por Gareth Southgate, de 47 anos, a seleção inglesa conta com jogadores muito rápidos e fortes tecnicamente, e, também, jovens e pouco experientes - ou não fosse a equipa mais nova em prova. E é deles o melhor marcador desta edição do Mundial: Harry Kane, com seis golos até ao momento.

Rússia-Croácia – 7 de julho, 19h (Sport TV e RTP1)

Agora, sim, chegamos àquela que foi a grande surpresa da prova. Apesar de ter a pior defesa das equipas ainda em prova (cinco golos sofridos), a anfitriã Rússia conseguiu eliminar a Espanha no desempate por grandes penalidades. Na fase de grupos somou apenas uma derrota, contra o Uruguai, de resto o único adversário à altura – já tinha vencido a Arábia Saudita (5-0) e o Egito (3-1).

Com o fator casa e a inspiração de Artem Dzyuba (soma três golos na prova), os comandados de Stanislav Cherchesov, que já tinha orientado a equipa entre 1992 e 2000, vão procurar chegar até onde for possível, sabendo que do outro lado está uma Croácia poderosa, que só não o é mais porque não tem um goleador de referência.

A seleção dos ‘quadradinhos’ é a prova de que a virtude está mesmo no meio… do campo. Com os astros Rakitic, Modric (melhor marcador da equipa com dois golos) e Perisic a alinharem-se para servir Mandzukic. Depois do pleno na fase de grupos, que incluiu um surpreendente 3-0 frente à Argentina, a Croácia sofreu para vencer a Dinamarca nas grandes penalidades. Se está a lutar por um lugar nas meias-finais, pode agradecê-lo ao guarda-redes Subasic, que deu um autêntico ‘show’ ao segurar três penáltis.

Mundial 2018, Oitavos-de-final: Espanha - Rússia
Artem Dzyuba remata para um lado, De Gea cai para o outro e... surpresa no Mundial créditos: epa06855128