Há uma diferença entre o RB Leipzig e o PSG. Os alemães são uma equipa de jogadores sem grande nome no futebol onde o colectivo é mais forte do que individualidades. Por isso, a estrela que mais brilha é o seu jovem treinador. Nos franceses há astros maiores do que o próprio clube, e isso leva a que o treinador tenha de adaptar as suas ideias de forma a ofuscar o menos possível o brilho das suas individualidades.

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O Leipzig é uma equipa com uma ideia ofensiva bem vincada, que tenta utilizar os apoios frontais e um jogo mais vertical, com o mínimo possível de passes sem progressão. Tenta chegar as zonas de finalização com a bola controlada, mas que sente dificuldade quando o adversário lhe entrega pouco espaço e defende perto da área. Aí, o jogo torna-se mais previsível, e a equipa não tem tantas dinâmicas para furar blocos baixos, que não o jogo exterior, o cruzamento, e a expectativa de ganhar uma segunda bola em zonas adiantadas com o adversário desarrumado.

Sabendo-se que os parisienses não têm o hábito de defender perto da sua baliza, e que se colocam para pressionar, maioritariamente, num bloco médio, a maior dificuldade que o Leipzig teria no ataque à baliza poderá não aparecer. A turma alemã terá mais espaço nas costas da última linha para explorar do que teve no jogo com o Atlético de Madrid, e terá também mais tempo depois de ultrapassar as primeiras linhas de pressão do Paris, uma vez que os avançados e médios demoram algum tempo a recuperar o posicionamento e defensivo, e por vezes nem o fazem. Se do ponto de vista estratégico a equipa se preparar para explorar esse espaço, mesmo depois da bola entrar nas costas da linha defensiva dos franceses, Sabitzer, Olmo, ou até Kampl podem aparecer com tempo e com espaço para finalizar situações de passe atrasado.

Julian Nagelsmann é o treinador de quem todos falam por com tão tenra idade ter conseguido vingar na Bundesliga e por já estar a disputar uma fase tão adiantada da maior prova europeia de clubes. E sendo que o seu percurso tem vivido da competência colectiva das suas equipas, não é caso para menos. Ainda assim, o seu Leipzig terá uma prova de fogo tendo em conta as individualidades que vai defrontar do outro lado.

Foi desta forma que o Jorge terminou a análise ao jogo dos quartos de final em que o PSG eliminou a Atalanta desta forma: ”Em suma, um PSG com demasiado receio e praticamente reduzido ao génio de Neymar, que sofreu enquanto a Atalanta procurou o golo, mas que se soube transformar quando estes tentaram apenas segurar a vantagem. O segundo melhor do mundo carregou a sua equipa quanto pôde, mas foi a entrada de outros companheiros que permitiu dar o passo em diante.”

Há uma equipa parisiense com o génio brasileiro e uma equipa sem ele. O colectivo de Tuchel é muito virado para o que os seus jogadores conseguem produzir individualmente, e os movimentos ofensivos e defensivos são em função do Neymar. Há também Mbappé, numa esfera diferente do astro brasileiro, mas que tem condições para chegar ao nível dos que ficam na memória do jogo por mais anos que passem. Para já, é apenas o companheiro perfeito para com o camisola dez do PSG provocar o terror nas defesas que enfrentam.

Neymar é um jogador que já não estamos acostumados a ver por causa da evolução e profissionalização do futebol. É aquele tipo dos anos 80’ e 90’ que joga para se divertir, e que faz uso do estatuto que o futebol lhe confere para ter a vida que sonhou fora de campo. É o jogador que encara os treinos de forma leve, que não quer jogar futebol até aos 40 anos, mas dentro de campo tem a personalidade daquelas figuras do futebol que como Maradona não nos deixam indiferentes. Para além das qualidades físicas, dos dribles estonteantes, da criatividade e elegância em cada gesto técnico, há um animal competitivo que não se esconde quando a equipa está em dificuldade.

Ele é um tipo que por natureza quer estar sempre perto da bola, mas é nos momentos de maior aflição que ele assume a batuta da equipa e tenta o golo de milhares de formas diferentes. Pela competitividade, pela fantasia, e por querer mostrar aos seus adversários que lhes é muito superior, é sempre muito castigado com faltas; mas é aí que mais uma vez dá mostras da sua personalidade ímpar – pede sempre a bola, e continua a desafiar os seus adversários uma e outra vez.

Eu nasci no final dos anos 80’, e não vivi num período onde o futebol era um meio de libertação para as opressões sociais, e apenas por relatos de amigos mais velhos tenho presente a emancipação do jogador de futebol que teve um pequeno impacto nas reformas sociais que foram libertando gradualmente os povos. Neymar é o representante desse velho futebol onde havia espaço para jogadores que não viviam para o futebol, onde o futebol era apenas o seu trabalho e não a sua vida. Onde se olhava mais para a produção dos jogadores em campo do que para aquilo que faziam fora dele, e no capítulo da produção não consigo dizer três nomes superiores ao génio da canarinha.

Olhando para a forma como Tuchel organiza as estrelas, o PSG poderá sofrer como sofreu contra a Atalanta. Contudo, com Neymar, sobretudo se acompanhado de Mbappé, o resultado é sempre imprevisível.

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