“Se sorri ao intervalo? Foi um sorriso de sarcasmo. Não podia fazer nada e mesmo assim fiz um autogolo”, respondia Mile Svilar na zona de entrevistas rápidas quando questionado sobre o porquê de ter esboçado um sorriso durante o intervalo do Manchester United-Benfica, numa altura em que já tinha defendido uma grande penalidade e marcado na própria baliza. “Os golos acabam por ser esquisitos”, analisou por sua vez Rui Vitória, sobre os dois remates certeiros da equipa de José Mourinho.

Pudera. A verdade é que tudo correu mal ao Benfica em Old Trafford. E começou logo quando o jogo nem sequer tinha começado. Filipe Augusto lesionou-se no aquecimento e teve de ser substituído por Samaris. A isto seguiu-se uma mão marota de Douglas, estiradas impressionantes de De Gea, um remate ao poste de Jiménez, um disparate de Samaris e um autogolo que nasceu de um ressalto da bola enviada ao ferro por Matic nas costas do guarda-redes ‘encarnado’.

Sim, as ‘águias’ já têm mais autogolos do seu guardião do que golos na baliza adversária (ou o mesmo número, de acordo com as atribuições da UEFA). É impossível arranjar melhor exemplo da época atípica que o Benfica tem vindo a realizar do que este. Como se não bastasse, a equipa de Rui Vitória é agora detentora da pior prestação de uma equipa portuguesa nas quatro primeiras jornadas da fase de grupos da prova.

Curiosamente, a única coisa que terá corrido bem às ‘águias’ nem sequer estava em Old Trafford. O CSKA venceu em Basileia por 2-1, resultado que deixa as ‘águias’ a seis pontos dos russos e dos suíços, com possibilidades matemáticas de seguir em frente – terá, para isso, de vencer os últimos dois jogos (excelente oportunidade para dar razão a Mourinho e provar que é, efetivamente, melhor que ambos os conjuntos), esperar que o Man. United faça o mesmo e recuperar de uma grande diferença de golos face aos adversários.

‘Miúdos’ chegaram-se à frente e Matic mostrou que a sorte dá trabalho

Não foi só pela defesa do penálti a Martial - tornou-se, de resto, o mais jovem de sempre a fazê-lo na Champions. Aos 18 anos, Svilar mostra uma confiança fora do comum, a avaliar pela forma destemida como saía da baliza para fazer frente a Romelu Lukaku, que esteve bem mais solto desta vez do que no Estádio da Luz. O nome do guardião belga volta a ficar inevitavelmente ligado a uma derrota do Benfica, o que por si só justifica o ‘sorriso amarelo’ ao intervalo (e o 2-0 por Daley Blind ainda estava para vir), mas ao contrário do que aconteceu há duas semanas, Svilar não terá motivos para não dormir esta noite.

Rúben Dias foi outro elemento incansável no lado do Benfica. A parceria com Jardel – rendeu o castigado Luisão – nem sempre foi a mais produtiva, mas o central ‘encarnado’, de 20 anos, soube responder quase sempre às investidas dos ‘red devils’, fosse pelo ar ou pelo chão. Não fosse o jogador formado no Seixal e muitos dos deslizes de Douglas teriam provocado mais estragos do que aquele penálti aos 15 minutos.

Last but not least, Diogo Gonçalves. O jovem formado no Seixal foi a personificação da atitude com que o Benfica entrou na partida, com iniciativa, a jogar entre as linhas, na tentativa de confundir os homens de Mourinho. Foi dele a primeira grande oportunidade dos ‘encarnados’: aos 18 minutos fletiu para o interior e rematou em arco, ao ângulo mais afastado da baliza de De Gea. Seria um golo assombroso não fosse a excelente intervenção do espanhol, a justificar o porquê de só ter sido batido uma vez nesta Liga dos Campeões. O extremo voltaria a tentar a sua sorte já na segunda parte, mas, uma vez mais, estava lá De Gea para impedir o que quer que fosse.

No meio do espectáculo de horrores que foi este jogo para o Benfica, o Teatro dos Sonhos acabou por não fechar a porta aos ‘miúdos’. As luzes da ribalta, contudo, estavam reservadas para os mais experientes, que é como quem diz, Nemanja Matic. O médio sérvio já tinha sido uma das figuras do encontro na Luz, pelas ações defensivas no miolo e saídas para o ataque. Ontem foi mais do mesmo. Sempre inteligente e atento a todas as movimentações, foi dele o remate que ‘traiu’ Svilar e a antiga equipa, ao minuto 45, pontapé esse que não festejou. Harvey Dent, mítico vilão do universo Batman, tinha por hábito dizer que fazia a sua própria sorte. Matic pode dizer o mesmo em relação a este golo.

De resto, destaque para a subida de rendimento de Pizzi em relação ao que vinha a fazer até então, e que lhe chegou a valer dois jogos a começar no banco de suplentes. Mesmo com Filipe Augusto KO, Rui Vitória não abdicou do 4x3x3 e foi graças à orquestração do médio que os 'encarnados' fizeram bem mais a nível ofensivo esta noite do que há duas semanas na Luz. Custa sempre ver um jogador com a qualidade de Jonas fora do onze, mas o futebol praticado pelos 'red devils' pedia um reforço da zona central e o melhor marcador da equipa (e do campeonato português) foi mesmo sacrificado, tendo entrado já na reta final, depois de Seferovic, numa altura em que Rui Vitória apostava tudo num 'final forcing' contra o 2-0. Sem sucesso.

Têm a palavra os treinadores

Rui Vitória, treinador do Benfica: "Foi uma partida muito bem disputada, contra uma das melhores equipas da Europa. Demonstrámos um caráter que me agradou. Os golos acabam por ser esquisitos. É um resultado frustrante, mas a minha equipa foi determinada, convicta."

José Mourinho, treinador do Man. United: "O Benfica esteve muito bem. O Rui apresentou um meio campo que nos pressionou e encurtou espaços, que não nos deixou jogar onde somos fortes. Foi apanhado numa situação quase de impotência, não tinha médios para meter, não tinha médios no banco para rejuvenescer as dinâmicas e não tinha muitas soluções para colmatar os amarelos do Douglas e do Rúben Dias. Na parte final do jogo conseguimos um penálti que nos deu tranquilidade, mas o Benfica obrigou-me a pensar o jogo de maneira diferente."

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