O selecionador de futebol de Angola, o português Pedro Gonçalves, manifestou-se hoje preocupado com a "situação contratual dos jogadores e treinadores" do campeonato angolano, anulado devido à COVID-19, enaltecendo, contudo, a unanimidade da decisão.

Segundo o treinador português, que desde setembro de 2019 orienta os ‘palancas negras’, todos os prós e contras foram ponderados pelos clubes do Girabola e pela direção da Federação Angolana de Futebol pela "salvaguarda da vida e da saúde".

"Fico satisfeito ao saber que houve uma grande adesão da parte dos clubes para decidir que futuro dar ao Girabola e houve uma unanimidade e isso é muito importante, porque são decisões que implicam muitos profissionais e o futuro a curto prazo desses e equipas", disse hoje em entrevista à Lusa.

No entanto, o técnico manifestou também preocupação com a situação contratual de todos os intervenientes do campeonato, sobretudo de jogadores cujos contratos terminam em maio.

"E eis que se levanta a questão de como irão dar continuidade aos seus deveres profissionais", notou, afirmando que esses pressupostos "são determinantes para a manutenção das suas vidas".

Para Pedro Gonçalves, de 44 anos, a questão contratual pós-pandemia "é preocupante", mas considerou que tem de se “ponderar e ver o que é mais importante e o mais importante é a vida e a saúde”.

Os clubes angolanos decidiram na quinta-feira por unanimidade anular o campeonato angolano de futebol Girabola, interrompido em março devido a pandemia da COVID-19, sobretudo para "salvaguardar a saúde e os gastos avultados com atletas cujos contratos expiram em maio".

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A decisão dos 15 clubes que militam no Girabola foi apresentada durante uma reunião com a Federação Angolana de Futebol (FAF) que analisou o interregno da competição após ter sido disputada a 25.ª jornada.

Segundo porta-voz dos clubes no encontro, Tomás Faria, duas principais razões levaram as equipas a decidirem em consenso pelo fim da presente época do campeonato, nomeadamente as cautelas em torno da pandemia e a questão dos contratos dos atletas.

O treinador português, que enaltece as medidas do Governo angolano para conter a propagação da COVID-19 no país, sublinha que a anulação do Girabola traz "muitas implicações desportivas", sobretudo para os atletas que "devem ser disciplinados".

"Devem também manter o seu plano de atividade física, em função dos confrangimentos de estar em casa, procurar salvaguardar as questões ligadas à alimentação para que se minimize as perdas com vista ao retorno da competição", adiantou.

Mas, lembrou, "haverá tempo para retomar as competições o mais importante por hora é a saúde".

Em relação à seleção angolana, que em março viu cancelados os jogos de qualificação ao Campeonato Africano das Nações (CAN2021), devido à pandemia, Pedro Gonçalves lamentou a situação, recordando que os jogadores "estavam em boa forma desportiva".

"Estávamos todos dispostos para competição e para esses jogos, mas, mais uma vez compreendemos as circunstâncias, mas o trabalho continua. Continuamos diariamente a preparar as próximas competições, mesmo não sabendo as datas", frisou.

Mesmo sem um horizonte temporal para o regresso das competições, Pedro Gonçalves e sua equipa continuam a trabalhar no planeamento e preparação administrativa "para que alguns jogadores possam estar ao dispor da seleção a curto prazo".

"Temos uma quantidade de jogadores ainda por observar e continuamos a fazer via vídeo, temos as nossas reuniões online e por telefone e o trabalho não para", assinalou.

Ligado à FAF até à conclusão da fase de qualificação ao Mundial2022, no Qatar, o treinador português acredita ainda que as dificuldades económicas de Angola, também decorrentes da pandemia, sejam ultrapassadas o mais depressa possível".

"E que em breve estejamos focados na competição que é trabalhar e puxar pela seleção", rematou.

Angola entra hoje para o sexto dia da segunda prorrogação do estado de emergência, que se estende até 10 de maio.

O país conta já com 27 casos confirmados de COVID-19, entre os quais 18 casos ativos, dois óbitos e sete recuperados.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de COVID-19 já provocou mais de 233 mil mortos e infetou quase 3,2 milhões de pessoas em 193 países e territórios.

Cerca de 987 mil doentes foram considerados curados.