A pandemia de Covid-19 paralisou o mundo desportivo mas ainda há provas que resistam. No futebol quase todos os campeonatos estão parados embora haja um ou outro que teima em continuar. É o caso da Liga da Nicarágua, a única que ainda se joga na América central.

A última ronda já foi jogada a porta fechada mas os jogadores não gostaram. Todos querem a suspensão do campeonato, como aconteceu no resto do mundo.

Na derradeira jornada, Bernardo Loureiro, avançado uruguaio de 28 anos do Cacique Diriangén jogou de máscara e luvas cirúrgicas e até marcou um golo frente ao Deportivo Ocotal, num encontro realizado já sem público nas bancadas. Um gesto de protesto pelo facto de a Liga ter decidido continuar com o campeonato, mas a porta fechada, mesmo sabendo que já há casos positivos de Covid-19 no país.

"[Contra o Deportivo Ocotal] resolvemos todos entrar de luvas e máscaras. Senti-me estranho a jogar dessa forma mas era preciso faze-lo para deixar uma mensagem às pessoas. Mas foi difícil. Eu aguentei quase 20 minutos com a máscara mas depois tirei-a. Era quase impossível respirar", contou o jogador, em entrevista ao jornal espanhol 'Mundo Deportivo'.

Saiu a máscara mas as luvas ficaram. O jogador contou que, depois de marcar, festejou normalmente, com abraços entre os colegas. No final do jogo, já foi diferente.

"Fui vestido para casa da mesma forma como terminei o jogo. Só tirei as botas no banco de suplentes", contou

Com o campeonato a decorrer, os jogadores têm de ir treinar. Mas houve rotinas que foram mudadas, procedimentos que foram implementados, tudo para evitar o contágio.

"Quando chegamos ao estádio, temos um funcionário do clube à nossa espera, que nos dá uma máscara, um par de luvas e álcool com gel. Cada um tem a sua garrafa de água. Eu já entro equipado para treinar, tento nem ir ao balneário. A única coisa que faço no clube é calçar as botas quando já estou no relvado, geralmente junto ao banco de suplentes. O treinador dá instruções de treino com a máscara colocada. Assim que termina o treino, tiro as botas e vou para casa sem tomar banho. Chego, tiro a roupa, separo para lavar, depois tomo banho", conta o avançado, que repete este ritual todos os dias. Bernardo diz ter medo de apanhar o vírus e contagiar depois a sua esposa e o seu filho.

Se por um lado Bernardo pede o fim do futebol no país devido ao surto de Covid-19, também gostaria de continuar. É que na Nicarágua o futebol não paga altos salários e, sem jogar, os futebolistas têm de encontrar uma outra forma de vida.

"Posso ficar um mês sem jogar, mas não mais que isso, não sou uma estrela com milhões de dólares no banco para estar um par de meses sem jogar, sem receber. Posso ter de regressar ao Uruguai mas é algo que nem posso fazer porque as fronteiras de quase todos os países estão fechadas. Ainda por cima, com o futebol parado no resto do mundo, quem iria contratar-me?", questiona Bernardo, revelando que os jogadores da sua equipa tem uma cláusula nos seus contratos que não lhes permite receber o salário se o campeonato parar por alguma razão.

O Cacique Diriangén é líder do Torneio Clausula e da tabela anual que apura as equipas para as provas internacionais.

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