Onde é que tu estavas no dia 10 de julho de 2016?

Esta pergunta, aparentemente inócua e a fazer lembrar uma rábula de Herman José sobre Baptista Bastos e o 25 de abril, tornou-se relevante em Portugal há um ano. Foi nesse dia que Portugal venceu o seu primeiro Campeonato da Europa, saldando uma dívida da história do futebol para com as míticas gerações de 1984, 2000 ou 2004. Eu sei onde estava: em pleno Stade de France, com muitos outros colegas jornalistas, dividido entre o trabalho que havia para fazer e a vontade (mal) contida de festejar um feito histórico.

Tudo tinha começado mais de um mês antes. E, para ser absolutamente franco, não imaginava estar em França até ao dernier jour. Não por qualquer fatalismo português ou descrença; simplesmente, porque achava que havia equipas mais fortes em prova. Porém, em Marcoussis, onde a seleção nacional assentou arraiais durante toda a competição, respiravam-se ares de esperança.

Dia após dia, eu e o meu colega Gaspar Castro marcávamos presença para assistir aos treinos e participar nas conferências de imprensa, testemunhando o fervor dos emigrantes portugueses que encontravam nos portões daquele centro de estágio um pouco do seu saudoso Portugal. Para eles, ganhar não era simplesmente ganhar. Ganhar significava a possibilidade de chegar ao trabalho no dia seguinte, olhar para os colegas franceses e poder, pela primeira vez, sorrir com o doce brilho da vitória. Afinal, há demasiadas décadas que França - o país de eleição para centenas de milhares de portugueses emigrados desde os anos 60 - era a nossa ‘besta negra’ nas maiores provas internacionais.

O que começou em Marcoussis seguiu um trajeto tão insólito quanto feliz. Primeiro, Saint-Étienne e o empate com a Islândia; depois, Paris e o empate com a Áustria; por fim, o louco empate com a Hungria, em Lyon, e a certeza de seguir em frente como um dos melhores terceiros. A piada já estava instalada um pouco por todo o lado: de empate em empate até à glória final. E sim, quando Fernando Santos disse com a sua inabalável fé que só voltaria a 11 de julho e que seria recebido em festa, também eu duvidei da convicção do selecionador nacional.

Contra todas as expectativas, nacionais e estrangeiras, a seleção trilhou o seu caminho, com muito pragmatismo, trabalho e uma sorte que também dá jeito nestas alturas. E nós, por entre dezenas de reportagens e milhares de quilómetros, seguíamos a mesma rota. Posteriormente, caiu a Croácia no prolongamento e a Polónia nas grandes penalidades. Creio que foi neste jogo que também eu me tornei um crente na ‘profecia’ de Fernando Santos. Foi ali, em Marselha - a primeira cidade onde senti pela primeira vez que, afinal, havia um verão francês e não a recorrente chuva que nos acolhia nos arredores de Paris - que passei a pensar: ‘Tu queres ver que ainda ganhamos isto?’

Quando chegou o dia da final, já após a eliminação do País de Gales, as conversas tinham um denominador comum: o otimismo. É verdade que do outro lado estava a França, o nosso ‘carrasco’ de eleição, a jogar em casa e logo num estádio onde já se tinha sagrado campeã do Mundo em 1998. Depois, veio a praga de traças e a lesão de Cristiano Ronaldo. Ao ver a equipa sem o seu melhor jogador e capitão, cresceu aquilo que chamamos ‘fezada’: seria uma vitória épica e nada mais poderia acontecer para alterar isso.

Sofreu-se, claro. E não foi pouco. A cada defesa de Rui Patrício, alimentava-se um pouco mais o sonho. Finalmente, já no prolongamento, pela inspiração do ‘patinho feio’ Éder, cumpriu-se o último passo. Um golo, um título, uma festa. À portuguesa, com certeza. Inesquecível! Eu estava no Stade de France, a testemunhar o sonho realizado de 11 milhões. Essa é a minha saborosa resposta à pergunta do início do texto. E o caro leitor?


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