Cuca é o treinador que aceita os projetos que outros técnicos não querem, desde assumir uma equipa da Segunda divisão do Brasil, até pegar num clube endividado. Conhecido como o treinador 'bombeiro', Cuca vai tentar a sua segunda Taça Libertadores no sábado, quando o Santos defrontar o Palmeiras, no Maracanã.

O técnico regresosu ao 'Peixe' em agosto de 2020, numa daquelas apostas que costuma protagonizar. Cuca encontrou o clube paulista mergulhado numa crise financeira, com salários em atraso e jogadores que não podem ser contratados devido a uma punição imposta pela FIFA por causa de dívidas à outras formações.

Ciente das dificuldades que iria encontrar, Cuca lançou um desafio assim que pisou na Vila Belmiro para substituir o português Jesualdo Ferreira: lutar pelo quarto título da Taça Libertadores do Santos, algo que poderá tornar o emblema santista no primeiro clube brasileiro tetracampeão do torneio continental. Outro objetivo traçado foi terminar, no mínimo, no oitavo lugar do Brasileirão, o que lhe garante uma vaga na Taça Sul-Americana em 2021.

A primeira parte da promessa está a um passo de ser cumprida. Para tal, terá de vencer o Palmeiras de Abel Ferreira no sábado. Para alcançar o segundo objetivo da época, o Santos, que está em 10.º lugar, tem pela frente seis jornadas até o fim do Brasileirão-2020 para se apurar para as provas continentais de clubes da América Latina.

"É uma satisfação fora do comum [estar na final da Libertadores]. Não podemos contratar jogadores, temos dificuldade no pagamento dos salários e dos prémios de jogo. E sempre jogamos abertos, os jogadores não ficam de cara feia, a reclamar", disse o técnico de 57 anos após eliminar a Boca Juniors na meia-final.

- Cuca, um treinador 'presidente'

Nesta que é a sua terceira etapa no Santos - as outras foram em 2008, quando durou apenas dois meses, e em 2018, quando salvou a equipa de descer de divisão - as passagens pelo 'Peixe' valeram a Cuca o nome de 'bombeiro'.

Sabendo que a Santos tem todos os 'ingredientes' para ser uma 'bomba-relógio', Cuca foi o para-raios dos jogadores que reclamavam de salários em atraso e foi o mediador para que alguns atletas não processassem o clube pelo não cumprimento das suas obrigações. Pela sua gestão da crise, Cuca ganhou dos alvinegros o apelido de 'presidente.

O técnico teve de enfrentar todas estas questões numa altura em que tentava formar uma equipe sólida, apoiada no talento do avançado venezuelano Yeferson Soteldo, do extremo Marinho, do central Lucas Veríssimo e do médio Diego Pituca.

"Cuca forma sempre boas equipas, cria uma boa convivência, tem DNA ofensivo, aposta nos jovens", elogiou o presidente do Santos, Andrés Rueda.

Vencedor da Libertadores em 2013 pelo Atlético Mineiro de Ronaldinho Gaúcho, Cuca tem uma carreira incansável como treinador. Desde 1998, dois anos após deixar os relvados como jogador, descansou só alguns meses, sempre a saltar de equipa em equipa.

Nos vinte clubes que já dirigiu, estão equipas da segunda e primeira divisões do Brasil, além do Shandong Luneng, da China, entre 2013 e 2015, na sua única experiência internacional.

Com o Palmeiras, o adversário que enfrentará este sábado, no Maracanã, venceu o Brasileirão de 2016, e salvou o Fluminense da descida de divisão em 2009.

Se vencer no sábado, entrará para um restrito grupo de treze treinadores que venceram a Taça Libertadores duas ou mais vezes, entre eles os compatriotas Lula com o Santos de Pelé (1962 e 1963), Telê Santana com o São Paulo (1992 e 1993), Paulo Autuori com Cruzeiro (1997) e São Paulo (2005), e Luiz Felipe Scolari com Grêmio (1995) e Palmeiras (1999).

- Um sobrevivente da COVID-19

Católico praticante, Cuca costuma comandar as suas equipas usando camisolas com a imagem da Virgem Maria estampada. Pessoas próximas de Cuca dizem que ele é extremamente supersticioso, mas o treinador garante, brincando, que é apenas "10 por cento do que se costuma comentar"

Como jogador foi um médio aguerrido que vestiu a camisola de mais de 10 clubes, entre eles Valladolid, Grêmio, Santos, Palmeiras e Internacional.

"Cuca foi um dos melhores médios com quem trabalhei. Sabia fazer todas as funções do meio-campo, e muito bem. Sempre foi um jogador de equipa", diz Luiz Felipe Scolari, ex-técnico da seleção brasileira.

Com a camisola do tricolor gaúcho, onde foi treinado por Felipão, Cuca viveu uma das páginas mais negras da sua vida. Em 1987, foi detido durante quase um mês, acusado de, juntamente com outros jogadores, ter violado uma menor de idade nunca uma excursão à Suíça. Cuca sempre negou tal ato.

O facto foi relembrado em outubro, quando defendeu a contratação de Robinho pelo Santos, também ele acusado de violação em Itália.

Patrocinadores e adeptos pressionaram, pedindo a suspensão do contrato de Robinho pelo facto de o avançado ter sido acusado de violência sexual cometida em Itália. E conseguiram.

Cuca mal se tinha recuperado do escândalo quando foi infectado com COVID-19 e ficou internado durante uma semana. Já o seu sogro não teve a mesma sorte e foi derrotado pelo vírus. Erguer a Taça Libertadores será uma homenagem de Cuca ao sogro.

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