Abel Ferreira, treinador do Palmeiras, reagiu depois da vitória na Libertadores. O técnico agradeceu à sua equipa técnica e aos seus jogadores, frisando que "Não há bons treinadores sem bons jogadores". O técnico revelou ainda que recebeu uma chamada de Marcelo Rebelo de Sousa.

"Não saíram poucas, saíram muitas [lágrimas]. Primeiro tenho de agradecer ao Brasil, e de forma muito especial ao Palmeiras. (...) Posso agradecer publicamente, o Presidente da República de Portugal ligou-me e é um orgulho tremendo receber uma mensagem e uma chamada dele, agradecer-lhe no meu nome e da minha equipa técnica", disse.

Abel Ferreira realçou ainda a emoção da conquista, deixando ainda um conselho ao futebol brasileiro: mais paciência com os treinadores.

"É uma emoção muito grande e só o facto de ouvir a glória eterna é inacreditável. Hoje, eu e toda a equipa, conseguimos a glória eterna, porque é algo muito poderoso e que, aconteça o que acontecer, vão ter de levar comigo de qualquer forma. E quando me quiserem mandar embora, porque aqui - e isso é algo que gostava que melhorassem - quando cheguei aqui, queriam mandar o Abel Braga embora, porque perdeu a taça e foi eliminado da Libertadores, [agora] se tudo correr de forma natural, vai ser campeão, com muito trabalho e muito mérito. (...) Vocês têm de valorizar aquilo que é vosso, os portugueses também são um bocadinho assim, só valoriza quando vai embora... Vocês são uma potência mundial. (...) Têm de ter paciência, porque para se construirem trabalhos como deve ser tem de se ter tempo", notou.

O técnico não escondeu a emoção depois do jogo, realçando na conferência os sacrifícios que precisou de fazer para seguir nesta aventura em solo brasileiro.

"É verdade que eu agora sou melhor treinador do que era, mas sou pior pai, pior filho, pior tio, pior irmão... Porque deixei a minha família lá. Conquistei muito aqui, mas vocês não sabem as vezes em que chorei no travesseiro sozinho, de saudade. Aquilo que viram no final, eu não chorei pouco, chorei muito e saí do campo para ninguém ver o que estava a chorar, porque é muito difícil. Sou uma pessoa de família, adoro as minhas filhas e a minha esposa, e atravessei o Atlântico a acreditar numa coisa antes dela acontecer. Contra todas as previsões, contra muitos 'Não vás, o que é que vais para lá fazer'. (...) Há sempre algo que temos de sacrificar em prol da nossa profissão", afirmou.

O líder do Palmeiras recordou ainda o que disse a Gallardo, treinador do River Plate, depois do jogo da 2.ª mão que garantiu a presença do 'verdão' na final da Libertadores.

"Toda a gente perguntou o que tinha dito ao Gallardo no final do jogo da Libertadores [vs. River Plate]. Eu disse-lhe que íamos ganhar esta competição e que lhe ia dedicar uma percentagem desta vitória, porque se eu hoje sou melhor treinador, também se deve a ele. E ele também disse-me para chegar lá e vencer por ele, por isso, partilho convosco essa conversa, porque mereciam pelo jogo que fizeram cá. Se hoje sou melhor treinador também o devo do Gallardo", revelou.

Muitas vezes Jorge Jesus realçou que o campeonato brasileiro era um dos melhores do mundo e este sábado, Abel Ferreira partilhou da ideia do atual técnico do Benfica.

"É o único campeonato - e ai eu tenho de concordar com o Jorge Jesus - onde tem seis, sete claros candidatos ao título. Nós vamos a Portugal, tem poucos; vamos à Alemanha, tem poucos; em França, tem sempre o mesmo; em Inglaterra, tem um, dois... Aqui tens quantos para conquistar títulos? E só um pode ser", frisou.

O técnico não deixou de recordar todas as equipas por onde passaram, desde os juniores do Sporting até ao PAOK, agradecendo também a António Salvador, presidente do SC Braga e ao dono do PAOK.

"A primeira coisa de que me lembrei foi da minha família e a segunda foi do primeiro título que ganhei, em 2011, com a minha equipa de juniores no Sporting Clubes de Portugal. Foi ali que tudo começou, por isso agradeço a todos os jogadores que treinei. Não me posso esquecer dos jogadores da equipa B do Sporting, da B do SC Braga, da equipa A do SC Braga onde fizemos um trabalho extraordinário. Porque não falar do presidente do SC Braga, que foi alguém que me deu a oportunidade, que nunca tinha apostado num treinador da formação e deu-me essa oportunidade. Tenho de falar do dono do PAOK que pagou uma fortuna para eu ir para o PAOK sem um título e que me vendeu ao Palmeiras e ao qual pedi para que me deixasse vir para um sítio onde o futebol é algo de apaixonante. Acederam ao meu pedido", começou por dizer, antes de voltar a repetir, muito emocionado, uma ideia mencionada anteriormente.

"Mas infelizmente, e o que mais me custa é isto, tu para seres bom treinador - isso custa-me, dói-me porque não consigo ter os dois mundos - sou pior pai, pior filho, pior tio, pior marido, pior irmão. Mas é por isso que vos digo que choro no travesseiro... por não estar com as minhas filhas", disse, visivelmente emocionado.