Mais de 2.400 membros dos 48 grupos étnicos indígenas do Brasil participarão, a partir de novembro, da primeira Taça dos Povos Indígenas, um torneio de longa duração cujo sorteio ocorreu na quinta-feira (26) no Rio de Janeiro.

O evento aconteceu na sede da CBF e contou com a presença do selecionador do Brasil, Dorival Júnior.

"É mais do que uma simples competição desportiva. Representa também a luta por um futuro de dignidade, respeito e inclusão. Eu carrego no sangue com muito orgulho essa ancestralidade", afirmou Ednaldo Rodrigues, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que dá apoio institucional ao projeto.

O torneio é dividido em quatro fases, cada uma destinada a uma das quatro principais regiões do Brasil. A primeira reúne 24 equipas do Centro-Oeste, sendo doze masculinas e doze femininas, e será realizada de 26 a 30 de novembro. As demais etapas serão realizadas ao longo de 2025.

Todos os encontros terão num único local: uma 'aldeia multiétnica' localizada no coração do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, próximo de Brasília.

"Esta é a nossa oportunidade que é para todos, não só para nós, mas também para nossos filhos no futuro. Muitas vezes joguei com os não indígenas, que às vezes me convocam para jogar com eles. Só que nunca pude fazer um teste num clube profissional porque a minha mãe não queria que eu saísse da aldeia", disse à AFP Takuru Kaiapo, de 30 anos. Kaiapo é membro da tribo caiapó, que vive numa localidade do Mato Grosso.

Sem ajuda de custo, nada a fazer

A dirigente Tainara Castelão Ricardo, da etnia Guarani-Kaiowá, destacou o talento dos jogadores indígenas, embora lamente que eles não tenham "oportunidades suficientes".

"É complicado eles irem para fora porque não têm ajudas de custo", afirmou esta jovem de 29 anos, que joga no meio-campo.

Tainara Castelão Ricardo, que já atuou numa equipa profissional de futsal, também está à frente de uma associação responsável pela promoção do desporto em sua aldeia Te'yíkue, no Mato Grosso do Sul.

"O Brasil é grande demais, é tudo muito diverso, são várias etnias, várias línguas, várias culturas, muito diferentes. E para unir tudo isso, só uma coisa tem esse poder: o futebol", explicou Libia Miranda, diretora da FourX Entertainment, empresa organizadora do torneio.

No Brasil vivem quase 1,7 milhões de indígenas de cerca de 300 etnias, que falam mais de 200 línguas diferentes.