Mais de três dezenas de jogadores de 'walking football' do Farense, dos 45 aos 76 anos, juntam-se semanalmente para manter o ‘bichinho’ da bola com o futebol a andar e acabar na “terceira e melhor parte”, à mesa.

“Para combater o sedentarismo é maravilhoso. Porque isto já é uma família. É muito fácil fazer uma família com pessoas que já gostam de futebol e do Farense – somos todos sócios – e todo este convívio, que começa dentro de campo e termina à mesa, é fantástico”, resume à agência Lusa João Reis, um dos 'capitães' de equipa dos algarvios.

O 'walking football', futebol a andar ou futebol a passo, como forma de potenciar o envelhecimento ativo e o convívio social entre pessoas com mais de 50 anos, tem origem em Inglaterra e foi também a comunidade inglesa, nomeadamente um grupo de adeptos do Olhanense, que iniciou a modalidade no Algarve, onde hoje em dia se estima ser praticada por cerca de 250 pessoas, em meia dúzia de equipas.

Não correr, não dar mais de três toques seguidos, a bola não poder subir mais alto do que a cabeça nem ser jogada com a cabeça e não haver contacto entre jogadores, para evitar lesões, em jogos de 20 minutos divididos em duas partes de 10, são algumas das regras mais básicas, de acordo com as normativas implementadas pela Federação Inglesa de Futebol (FA), que “já reconheceu” o desporto.

“É um jogo mais tático, de mais passes, de mais triangulações, de mais bola no pé e não no espaço. É um futsal um pouco mais lento, mas com o mesmo espírito”, diz João Reis, 52 anos, após um treino de duas horas, em que, orientados pelo treinador Sylvain Laurent, de 37 anos, o mais novo em campo, se preparava a participação num torneio marcado para este fim de semana, em Albufeira, com várias equipas estrangeiras.

Com o 'walking football' contribui-se para o envelhecimento ativo, segundo João Reis: “É mais fácil ficar no sofá ou na cadeira do café do que propriamente acordar de manhã ou, ao final do dia, dar uns toques na bola, ‘correr’ e suar. É uma boa maneira de nos mantermos ativos."

Ele próprio voltou ao desporto mais intenso há três anos, depois de ter deixado de praticar basquetebol e futebol quando era jovem, por ter perdido um rim na sequência de um acidente. “Desde os 12 anos que não praticava nenhum desporto ‘à séria’”, refere o ‘capitão’ da equipa de +50 anos.

Duas vezes por semana, quase 40 jogadores, dos 45 aos 76 anos, reúnem-se para treinos de duas horas, em vários pontos do concelho. A seguir, há sempre convívio à mesa, com comes e bebes – queijos, chouriços, bifanas, vinhos – trazidos pelos jogadores.

“A melhor parte disto tudo é a terceira parte. O convívio acaba por ser o melhor. Damo-nos todos bem, mas, mesmo quando há qualquer conflito dentro de campo, aqui pomos tudo nos eixos”, assegura Luís Curvelo, 61 anos.

O capitão do conjunto de +60 anos chegou ao 'walking football' a convite de um amigo. “Como não tinha nada para fazer, acabei por me adaptar a isto e não quero outra coisa agora. Para a nossa idade convém bem mais, porque nos mantém ativos e permite o convívio com o pessoal. É o melhor que levamos da vida”, acrescenta.

O mais difícil é mesmo tentar não correr. “Vemos ali a bola e queremos chegar rápido, há sempre a intenção de não perder a bola, corre-se sempre um bocadinho. Temos de mentalizar-nos de que não podemos correr e temos de abrandar”, sublinha Luís Curvelo.

Mário Moura, de 76 anos, apesar de ser o mais velho do grupo, não se sente o mais veterano entre os veteranos na equipa de 'walking football' do Farense.

“Não penso muito nisso. É pelo prazer que me dá e porque consigo responder a estas exigências físicas. É isso que me move”, diz à agência Lusa, depois de duas horas de treino a defender uma das balizas.

Sem nunca ter sido federado, o ex-vendedor de profissão – natural do Porto mas radicado no Algarve há mais de 50 anos – frisa que sempre praticou desporto: corria, caminhava, nadava, jogava futebol e “andava sempre com raquetes de ténis, quando ainda quase não havia ‘courts’ na região”.

“Era a minha necessidade de queimar energias. Quando estou parado, fico enervado”, afirma, confessando que a reforma de “uma profissão que amava” lhe trouxe uma depressão que depois a prática de desporto ajudou a ultrapassar.

Quando o vizinho Luís Curvelo lhe falou do 'walking football', a curiosidade foi mais forte. “Começou a mexer comigo. Gosto muito de conviver e já fiz boas amizades. Aqui sinto-me bem, não sinto a idade que tenho. É uma dádiva”, conclui.

A secção de 'walking football' do Farense tem o objetivo de dar a esta modalidade uma componente mais competitiva e vai abordar a Associação de Futebol do Algarve para desenvolver o tema junto das instâncias federativas.