Várias fases de treinos, exames médicos, máscaras... O protocolo sanitário a ser colocado em prática por cada campeonato nacional terá de estabelecer condições para o reinício das atividades do futebol nas grandes ligas europeias.

Espanha e Alemanha já definiram uma série de medidas que podem servir de inspiração para outros países, como a França, que ainda debate como será o regresso do futebol após a suspensão, instaurada desde março devido à pandemia da COVID-19.

França em reflexão

Em França, onde o confinamento obrigatório será revogado progressivamente a partir de 11 de maio, confia-se na possibilidade de retomar o futebol em junho, embora os dirigentes da Ligue 1 aguardem as instruções das autoridades sanitárias do governo.

"Até hoje, nada está decidido", explicou à AFP, Emmanuel Orhant, diretor-médico da Federação Francesa de Futebol (FFF), que admite "um atraso na tomada de decisão" em relação a outros países vizinhos. "Isso também pode permitir que nos inspiremos nos seus casos", explicou.

Reinildo, Renato Sanches e José Fonte festejam golo do Lille
Reinildo, Renato Sanches e José Fonte festejam golo do Lille créditos: AFP

Uma das incertezas gira em volta dos testes e diagnósticos. "O ideal seria, evidentemente, testar toda a gente", afirmou Philippe Piat, presidente do sindicato dos jogadores (UNFP).

Mas testar os jogadores supõe uma mudança de estratégia do governo, que reserva os exames para pessoas que apresentam sintomas da doença. A questão também está na frequência dos testes e na sua disponibilidade.

Alemanha: troca de máscaras a cada 15 minutos

A Alemanha é, aparentemente, o país mais próximo de voltar a ter futebol, com previsão para a Bundesliga voltar a 9 de maio, se as autoridades assim o permitirem. Isso seria possível com regras sanitárias adaptadas e com cargos especialmente criados para este momento. De recordar que a maior parte das equipas da Bundesliga já retomou os treinos em campo, pelo que podemos ter futebol na Alemanha nos próximos dias.

Está prevista a presença, em cada equipa, de um agente de saúde para controlar diariamente o respeito do protocolo estabelecido pelas autoridades. "Quando as pessoas se conhecem bem, podem perder a noção de distância necessária [para se proteger do vírus], por isso precisamos dos agentes", explicou Barbara Gärtner, médica e assessora da Bundesliga.

Caso o campeonato seja reiniciado, o programa previsto contempla testes antes e depois dos jogos, assim como um código com onze recomendações de boas práticas de higiene que será distribuído aos jogadores. Recomendações essas que Hubertus Heil, Ministro do Trabalho do governo alemão, já entregou à Federação Alemã de Futebol para ser analisado, de acordo com o jornal 'Der Spiegel'.

Raphaël Guerreiro em ação pelo Borussia Dortmund
Raphaël Guerreiro em ação pelo Borussia Dortmund créditos: AFP

Entre as regras, garante o 'Der Spiegel', está o facto de os jogadores estarem obrigados a utilizar máscaras de proteção. As mesmas serão trocadas a cada 15 minutos. Nessa troca, os jogadores devem manter uma distância de segurança.

São proibidos os abraços nos festejos dos golos. Caso essa regra seja desrespeitada, os árbitros podem agir disciplinarmente contra os atletas, mostrando cartões.

As regras para o recomeço da Bundesliga deverão ser conhecidas nos próximos dias. O CEO da Bundesliga, Christian Seifert, disse que "está tudo nas mãos dos políticos".

Espanha: testes, testes e mais testes

Em Espanha, a data para o regresso aos treinos no futebol tem ser validada pelo Ministério da Saúde, embora a imprensa especule que acontecerá a 4 ou 11 de maio.

Antes de poder voltar a jogar, os jogadores terão, primeiro, que ser submetidos a testes de detecção da COVID-19, a partir de 28 de abril, segundo fontes próximas do caso. Estes testes irão continuar durante a preparação, dividida em três etapas.

Após uma primeira fase de trabalho individual, será dado autorização ao regresso de treinos em pequenos grupos, com condições: não compartilhar recipientes para beber líquidos e obrigação de usar luvas e máscaras antes e depois dos treinos, por exemplo.

João Félix festeja golo do Atlético Madrid frente ao Villarreal
João Félix festeja golo do Atlético Madrid frente ao Villarreal créditos: DR

O treino de conjunto apenas terá lugar na última fase, onde se contempla que os jogadores fiquem hospedados juntos num hotel ou no centro de treinos.

Se for detectado um caso de coronavírus, o jogador infectado deverá ficar isolado e os companheiros que tiveram contacto com ele terão de ser submetidos a novos exames

Itália: treino a três tempos

Itália, o país europeu mais afetado pela pandemia, também se prepara para o regresso do 'Calcio': resta determinar a data da do regresso, mas, na quarta-feira (22), a federação apresentou ao governo um protocolo de segurança a adoptar.

Este programa contempla que, três ou quatro dias antes do regresso aos treinos, uma primeira bateria de testes seja feita nos jogadores, com medição de temperatura, testes rápidos de COVID-19 repetido 24 horas depois e exames de sangue.

Os resultados devem permitir estabelecer três subgrupos, se a pessoa está infectada ou não e a gravidade dos sintomas. Os que estiverem doentes com sintomas fracos deverão, por exemplo, submeter-se a exames suplementares (ecografia cardíaca, electrocardiograma de esforço...).

AC Milan-Juvetus
Cristiano Ronaldo e Theo Hernandez disputam uma bola na Serie A. créditos: Marco Bertorello / AFP)

Depois, como em Espanha, a fase de treinos será realizada em três tempos. Todas as instalações (campos de jogo, centros de treino, restaurantes, quartos, etc) deverão estar reunidas no mesmo centro desportivo ou próximas, passando por higienizações regulares.

Inglaterra: regresso após testes a todos os intervenientes

Diz o jornal 'Times' na sua edição do passado sábado, que o governo britânico e a Premier League estão à beira de acertar um acordo para que a Premier League seja retomada a 8 de junho e tenha a sua conclusão a 27 de julho.

De acordo com aquela publicação, o retomar da época deverá acontecer após todos os intervenientes terem efetuado testes com resultados negativos à COVID-19, acrescentando que os jogos serão, depois, disputados à porta fechada. Falta definir onde e em que condições mas imprensa falava na possibilidade de jogos em campo neutro, numa lista curta de estádios, que estejam perto uns dos outros (para reduzir o número de viagens) para diminuir os riscos de propagação do novo coronavírus.

Na sexta-feira os clubes vão reunir-se por videoconferência para tratar de um conjunto de questões jurídicas, como os contratos dos futebolistas que terminam a 30 de junho, antes do fim da época.

Arsenal, Brighton e West Ham abriram, esta segunda-feira, os seus centros de treinos aos futebolistas, mas de forma controlada, a fim de preparar o eventual regresso do campeonato inglês em junho. Outros clubes como o Bounemouth, Burnley, Crystal Palace ou Sheffield United preparam igualmente o regresso progressivo dos seus atletas ao trabalho.

Manchester United-Manchester City
Bruno Fernandes e Bernardo Silva

O Liverpool prepara-se para celebrar um título que lhe foge há 30 anos – será o 19.ºdo seu historial – pois tem 25 pontos de vantagem para o Manchester City, que tem um jogo a menos, porém os lugares para as competições europeias e as descidas de divisão estão por definir, cumpridas 29 jornadas.

Esta semana o governo britânico vai reunir-se com os responsáveis dos principais desportos, com o objetivo de preparar um regresso às competições o mais breve possível, dentro do contexto da pandemia de COVID-19. O secretário de estado da cultura e do desporto, Oliver Dowden, já disse no parlamento que existiram “discussões produtivas” com alguns dirigentes do desporto britânico, em relação a uma retoma após isolamento.

Segundo uma fonte disse à BBC, a próxima reunião marca uma “aceleração do processo”, no sentido de ajudar o desporto a regressar “nas próximas semanas”, embora os encontros de trabalho sejam para já considerados preparatórios.

Cada modalidade será analisada individualmente e umas poderão recomeçar mais cedo do que outras, sempre num cenário sem público, em respeito pelas regras de higiene e de distanciamento social. Mas a imprensa avança que o regresso do futebol será acompanhado por outras modalidades como o râguebi ou críquete, o que, segundo o The Times, vai contribuir para melhorar o moral dos britânicos.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia da COVID-19 já provocou mais de 206 mil mortos e infetou quase três milhões de pessoas em 193 países e territórios.

Perto de 810 mil doentes foram considerados curados.

Em Portugal, morreram 928 pessoas das 24.027 confirmadas como infetadas, e há 1.357 casos recuperados, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

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