Abel Ferreira era um nome praticamente desconhecido no Brasil quando foi anunciado como treinador do Palmeiras, a 30 de outubro. Dois meses depois, o técnico português está muito perto de conduzir o Verdão à final da Taça Libertadores.

O conjunto paulista ganhou (3-0) quarta-feira de madrugada ao River Plate, em Avellaneda, a casa emprestada dos argentinos, na primeira mão da meia-final da prova arrecadada, em 2019, pelo Flamengo, então dirigido por Jorge Jesus. A vitória categórica em casa de uma das maiores equipas sul-americanas deixou adeptos e imprensa rendidos.

"Em apenas dois meses conseguiu ter um impacto que a maioria dos treinadores que comandaram o Palmeiras nos últimos anos não conseguiu. O trabalho dele já era bastante apreciado pelos adeptos e pela imprensa antes do jogo contra o River, mas a forma como o Palmeiras venceu na Argentina elevou-o a outro patamar", começa por dizer José Edgar de Matos, jornalista do Globo Esporte.

O River Plate, finalista vencido na última edição da Libertadores, começou bem, mas os brasileiros, que terminaram com mais uma unidade – Carrascal foi expulso –, marcaram três golos, por Rony, Luiz Adriano e Viña. Um resultado confortável, mas que não deixa Abel Ferreira descansado para o encontro da segunda mão, na madrugada de terça-feira. E com razão.

"Se há equipa que pode fazer uma remontada num 3-0 é o River Plate, e eu acho que o Abel Ferreira sabe disso. Tanto ele como os jogadores adotaram sempre uma postura de muito respeito pelo adversário e muita cautela. Mas o Palmeiras tem todas as condições para chegar à final", adianta o jornalista de São Paulo, que acredita na conquista do troféu por parte do Verdão.

"Nesta fase qualquer adversário é bastante difícil [Santos e Boca Juniors disputam a outra meia-final], mas se o Palmeiras passar à final, ele vai eliminar a melhor equipa sul-americana dos últimos cinco, seis anos, e quem elimina o melhor, tem tudo para se tornar o melhor", projeta.

Vitória sobre Benfica de Jesus foi cartão de visita

A mudança de Abel Ferreira ainda estava longe de se concretizar, e o nome do treinador português já era tema de conversa no Brasil. Tudo por causa de Jorge Jesus.

"Conhecia algumas coisas dele no SC Braga, até porque gosto de acompanhar o futebol português, mas muito pouco. Ele ficou conhecido no Brasil depois de o PAOK eliminar o Jorge Jesus e o Benfica nas pré-eliminatórias da Champions. Essa passou a ser a referência quando começaram a surgir notícias sobre a vinda dela para o Palmeiras", revela José Edgar de Matos.

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O antigo lateral direito conquistou os brasileiros logo no dia em que foi apresentado. "Os adeptos ficaram impressionados com o conhecimento que o Abel mostrou ter da história do Palmeiras desde o início. No final da primeira palestra, ele gritou  'Avanti, Palestra', que é um grito de guerra do Palmeiras", diz.

Atualmente no sexto lugar do Brasileirão, o Palmeiras de Abel Ferreira conseguiu também o apuramento para a final da Taça do Brasil, onde irá defrontar o Grémio. O embate será disputado a duas mãos, nos dias 3 e 10 de fevereiro, sendo que o vencedor garante uma vaga na Taça Libertadores de 2021. Para o Palmeiras, será a quinta final da prova e o clube tentará conquistar o troféu pela quarta vez (o último triunfo aconteceu em 2015).
"Os adeptos estão completamente apaixonados pelo Abel, inclusive criaram uma expressão em que dizem que estão 'Abelizados'. Em pouco tempo, uma temporada que parecia perdida pode acabar como uma das mais vitoriosas da história do clube", afirma o jornalista de São Paulo.
Entre as principais mudanças no Verdão com a chegada do antigo lateral direito, José destaca o "futebol atrativo" e a "potencialização" de jogadores ostracizados, como Gustavo Scarpa, Lucas Lima ou Raphael Veiga. As jovens promessas do clube também ganharam outro protagonismo.
"Ele conseguiu organizar a equipa de forma a que o potencial individual de cada jogador também sobressaia com o coletivo. E isso é visível nas exibições e nos resultados do Palmeiras", nota.
Para José Edgar de Matos "ainda é muito cedo" para comparar os trajetos de Abel e do Palmeiras ao trabalho de Jesus no Flamengo.  A começar pelo facto de o ex-técnico do PAOK ainda não ter conseguido colocar o seu cunho no Palmeiras, "por culpa de um calendário apertado".
"O Jorge Jesus conseguiu uma façanha que praticamente nenhum treinador na história do futebol brasileiro conseguiu, que foi ganhar a Libertadores e o Brasileirão no mesmo ano. O Abel tem capacidades técnicas e um plantel com qualidade para deixar um legado como o do Jorge Jesus, não tenho a menor dúvida, mas isso terá de passar pela conquista de títulos. Se ganhar a Taça do Brasil e a Libertadores, será um feito extraordinário", conclui.